Reuters
O setor automotivo abateu a produção de bens de consumo duráveis em setembro e ajudou a aprofundar a retração da indústria brasileira, registrando o pior resultado para o mês na série histórica em meio à confiança abalada dos investidores diante da recessão econômica e crise política que assolam o país.
Mesmo com a alta na produção de Bens de Capital, uma medida de investimento, a indústria registrou queda de 1,3% em setembro sobre agosto, o quarto resultado mensal negativo.
Com isso, a indústria fechou o terceiro trimestre com perdas de 9,5% sobre o mesmo período do ano anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira.
No acumulado deste ano, as perdas já chegam a 7,4%, superando o ano de pior desempenho da indústria, em 2009, com recuo de 7,1%.
“Normalmente há uma trajetória positiva em setembro e outubro para atender às encomendas de fim de ano, mas não conseguimos enxergar isso este ano por conta da conjuntura ruim”, afirmou o economista do IBGE André Macedo.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a produção industrial teve perda de 10,9%, 19º resultado negativo seguido nesse tipo de comparação e o mais forte desde abril de 2009 (-14,1%).
A mediana das expectativas em pesquisa da Reuters era de recuo de 1,5% na comparação mensal e de 11,4% na base anual.
“Não há qualquer sinal de que a indústria já atingiu o fundo do poço. O setor deve se manter em trajetória de queda nos próximos meses diante da confiança em patamar muito baixo e estoques elevados”, avaliou o estrategista-chefe do banco Mizuho, Luciano Rostagno.
Automóveis
Segundo o IBGE, a maior queda mensal em setembro foi registrada pelo segmento de Bens de Consumo Duráveis, de 5,3%. A pressão veio da menor produção de automóveis ainda afetada pelas férias coletivas em várias unidades produtivas.
Somente a produção de veículos automotores, reboques e carrocerias registrou perdas de 6,7% em setembro sobre agosto, segunda queda consecutiva.
Na ponta positiva, houve alta de 1,0% na produção de Bens de Capital, que interrompeu sete meses de recuos, mas que não sugere alívio. “Foi uma alta pontual, que não recupera nada das perdas dos últimos sete meses”, disse Rostagno, para quem a produção industrial deve fechar este ano com contração de 7,5%.
Entre os ramos pesquisados, 15 dos 24 tiveram perdas em setembro e, além de veículos automotores, destacaram-se as quedas de máquinas e equipamentos (-4,5%), metalurgia (-3,1%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (-4,2%).
As perspectivas para o setor industrial brasileiro vêm piorando. Para outubro, o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) aponta que a atividade se deteriorou de forma acentuada, atingido o nível mais fraco em 6 anos e meio.
Nem a alta do dólar de cerca de 40% neste ano tem tido efeitos positivos sobre a indústria, segundo Macedo, do IBGE. “Os nichos da indústria favorecidos pelo câmbio são poucos, como celulose, produtos siderúrgicos e carnes de aves, e insuficiente para reverter o cenário ruim da indústria em 2015.”
Pesquisa Focus do Banco Central junto a uma centena de economistas também não mostra muita melhora nem para o ano que vem, com expectativa de contração de 7% este ano e de 2% em 2016 para a produção.
Sob o peso da produção industrial, os especialistas consultados veem retração do Produto Interno Bruto (PIB) este ano de 3,05% e de 1,51% no próximo. (Reuters/Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira)