Folha de S. Paulo
Em meio ao aumento das restrições para o crédito nos bancos, os consórcios de veículos e imóveis registram expansão na adesão em 2015.
De janeiro a agosto, a venda de novas cotas imobiliárias cresceu 46,5% na comparação com o mesmo período do ano passado, para 155,6 mil, de acordo com dados da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios). No caso de veículos leves, a expansão foi de 20,3% (625,5 mil novas cotas).
A crise econômica e o aumento da inadimplência tornaram as instituições financeiras mais conservadoras na hora de conceder crédito. A Caixa Econômica Federal, líder no financiamento imobiliário à pessoa física, subiu os juros três vezes neste ano.
Em alta Consórcios de imóveis e veículos crescem no acumulado do ano É nesse contexto que os consórcios, espécie de poupança coletiva, têm ganhado fôlego, segundo Marcelo Prata, do Canal do Crédito. “Isso já aconteceu na crise de 2008. As pessoas tentam fugir dos juros ao optar pelo consórcio. Além disso, em alguma medida, as administradoras são menos restritivas que os bancos”, diz.
Com o aumento na procura, a participação potencial dos consórcios no total de compras de veículos e imóveis cresceu no primeiro semestre.
Para Vitor Bonvino, presidente nacional da Abac, o ganho não pode ser explicado só pela redução nos financiamentos. “Pode haver uma migração, em princípio, mas o mecanismo do consórcio é muito diferente. Não são operações comparáveis”, diz.
Na sua avaliação, a modalidade se beneficia do aumento da educação financeira. Mas também pode sofrer se a deterioração econômica continuar.
Juros
Diferentemente do financiamento, no consórcio o participante não paga juros, mas precisa arcar com os custos da taxa de administração. As parcelas ainda são corrigidas anualmente pela inflação – portanto, aumentam ao longo do tempo –, assim como o dinheiro da contemplação.
A diferença de custo foi o fator decisivo para a consultora de moda Karine Souza, 30, ao avaliar as opções para quitar um imóvel comprado na planta há dois anos. “Os juros subiram e, ao fazer as simulações, percebi que a parcela do consórcio sairia mais barata”, diz.
Souza comprou a cota do consórcio em maio e, por sorte, foi contemplada já em julho – o pagamento será feito em novembro. Mas, segundo Prata, do Canal do Crédito, a modalidade não é indicada para casos como o dela. “Consórcio não serve para quem quer crédito rápido”, afirma.
Participação potencial na venda total no país No 1º semestre de cada ano, em % E, segundo o professor de matemática financeira José Dutra Vieira, não é bom negócio para todos. “Se um consórcio tem 540 cotistas, cada um deles terá um custo diferente ao final do prazo. Alguns terão feito bom negócio, outros mau”, diz. “O consórcio não pode ser analisado só pelo valor da parcela”.
A variação no preço do imóvel no período do consórcio é outro ponto a ser observado. Se houver valorização acima da inflação, a modalidade deixa de valer a pena.
Para adiantar a contemplação, existem duas formas: os lances e os sorteios, que acontecem em todas as assembleias do grupo.
Para veículos, o valor necessário varia, em média, entre 20% e 30% do preço do carro, diz Bonvino.
No caso de imóveis, o lance costuma ser ainda maior, mas o trabalhador pode contar com o reforço do saldo acumulado no FGTS. (Folha de S. Paulo/Giuliana Vallone)