Mercedes-Benz lança linha de caminhões

O Estado de S. Paulo

 

Em meio a uma das mais graves crises enfrentadas pelo setor, que já provocou queda de 43% nas vendas neste ano, a Mercedes­Benz apresentou ontem na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) uma linha completa de novos caminhões que serão produzidos no País, além da inédita van Vito, importada da Argentina.

 

Os novos produtos estão inseridos no investimento de ¤ 500 milhões que a empresa anunciou para 2014 a 2018. “Mesmo nos tempos difíceis não deixamos de abrir o caixa para investir no Brasil”, disse o presidente mundial da área de caminhões da Mercedes, Stefan Buchner.

 

Na opinião do executivo, a situação atual é “desafiadora”, mas a empresa quer estar preparada para quando o mercado voltar a crescer, ainda que não seja possível prever quando isso ocorrerá. Ele ressaltou que o Brasil é, tradicionalmente, o maior mercado para a marca. Neste ano, contudo, vai perder o posto para a Alemanha.

 

Buchner reclamou da falta de estabilidade e previsibilidade que leva à crise de confiança dos investidores e ajuda a paralisar o mercado, num discurso similar ao do presidente da Mercedes­Benz do Brasil, Philipp Schiemer. “O comprador de caminhão tem de ser corajoso para investir numa situação como a atual”, afirmou.

 

Schiemer não quis falar sobre possíveis consequências de um eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff. Disse, contudo, “que o Brasil não depende de uma pessoa, mas de um projeto que faça o País recuperar a confiança, voltar a crescer e a ser competitivo”.

 

Para isso, afirmou, seriam necessárias medidas como redução dos juros, inflação mais baixa, investimentos em infraestrutura e um programa de renovação da frota de veículos. “Hoje não existe esse projeto”.

 

Reajuste

 

Os produtos apresentados ontem trazem melhoras tecnológicas, de consumo e de design, para os modelos Accelo, Atego e Actros (dos segmentos de leves, médios e pesados), Eles chegam ao mercado com reajuste de 5% nos preços em razão, principalmente, do repasse de custos com a alta do dólar. Entre 25% e 30% de peças usadas na produção são importadas, disse Schiemer.

 

Na semana passada, sua principal concorrente, a MAN Latin América, informou que reajustará os preços de seus veículos em 7,5% a partir de janeiro.

 

Por outro lado, o câmbio também tem ajudado a Mercedes a recuperar mercados de exportação como Egito, Chile e Colômbia. Só para países da América Latina (exceto Argentina), a empresa deve ampliar as vendas de 500 para 1,2 mil veículos este ano. “Ainda estamos saindo de quase nada para alguma coisa, mas acreditamos que em 2016 será melhor”, disse Schiemer.

 

Entre as novidades nos novos veículos estão sistemas de monitoramento de cansaço do motorista, assistência para partida em rampa, tanque de combustível maior para garantir mais autonomia de rodagem e motores que consomem 5% menos combustíveis que os anteriores.

 

Nos próximos dias, a Mercedes levará à fábrica do ABC cerca de 2 mil clientes e concessionários para conhecerem os novos produtos, assim como funcionários e familiares. O evento substitui a participação da marca na Fenatran (feira de transporte realizada a cada dois anos), que estará esvaziada.

 

Entre as fabricantes, só a Volvo e a DAF estarão presentes. Segundo Schiemer, o evento na fábrica custará menos da metade do valor da participação na Fenatran. “Não poderíamos assumir um gasto desses num momento em que reduzimos jornada e salário dos funcionários para enfrentar a crise”. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)