O Estado de S. Paulo
Mais uma montadora inicia produção no Brasil em meio a uma das piores crises do setor. A alemã Audi começou nesta semana a fabricação em série do sedã A3 em São José dos Pinhais (PR), em um prédio na fábrica da Volkswagen, sua coligada. Por enquanto não houve festa de inauguração e nem contratações. As 300 pessoas que operam a linha de montagem já trabalhavam na unidade.
Até o fim do ano a Volkswagen também iniciará, na mesma linha, a produção do Golf. Em outubro do ano passado, outra alemã, a BMW, abriu uma fábrica em Araquari (SC) e na quinta-feira começou a produzir seu quinto modelo no país, o Mini Countryman.
A crise que atinge o setor automotivo brasileiro, levando a uma queda superior a 20% no mercado total de automóveis, não esfriou os ânimos da Audi. “Nós acreditamos no futuro do Brasil. Por isso, temos um plano de investimento de longo prazo”, afirma o presidente da companhia no país, Jörg Hofmann.
Segundo ele, “o momento desafiador não altera nossa estratégia”. O executivo lembra que, na contramão do mercado, a marca dobrou as vendas em 2014 – para 12.488 unidades – e já cresce mais 40% neste ano, com 12.439 automóveis vendidos até setembro.
Os ainda importados A3 e o utilitário Q3 são líderes de vendas em suas categorias. “Isso mostra que escolhemos os modelos corretos para produzir localmente”. Em meados de 2016 o Q3 também será fabricado no Paraná.
“Enxergamos um enorme potencial no mercado brasileiro”, confirma, em nota, o membro do Conselho Administrativo da Audi alemã, Bernd Martens. “Em nossa estratégia de crescimento global vamos utilizar o potencial de alto valor agregado no Brasil.” Segundo o executivo, a empresa pretende adquirir o máximo possível de peças no mercado local.
Essa é a segunda vez que a Audi aporta no Brasil. Em 1999, a marca inaugurou operações na mesma fábrica paranaense, mas desistiu do projeto seis anos depois.
Desta vez, o grupo está investindo R$ 500 milhões nas novas instalações com capacidade para 26 mil veículos anuais. Neste ano, espera produzir mil unidades e, no próximo, 10 mil.
O A3 é o primeiro carro flex da marca e começará a ser vendido em novembro, provavelmente pelo mesmo preço do atualmente importado, na faixa de R$ 100 mil.
Premium
Não é só a Audi que cresce no mercado brasileiro. A BMW vendeu neste ano, até setembro, 10.974 veículos, 2,4% a mais que em igual período de 2014, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
A também conterrânea Mercedes-Benz contabiliza até agora expressiva alta de 71,5% em seus negócios, com 12.710 automóveis comercializadas.
A Mercedes será a próxima fabricante de automóveis de luxo a abrir uma fábrica local, em 2016, também em sua segunda passagem pelo país.
A unidade do grupo está em construção em Iracemápolis, no interior de São Paulo, um projeto que também está recebendo R$ 500 milhões e terá capacidade produtiva para 20 mil carros por ano.
Juntas, as três marcas alemãs cresceram 33,6% neste ano em relação ao anterior, num cenário em que as grandes fabricantes tradicionais, Fiat, General Motors, Volkswagen e Ford reduzem jornada de trabalho, cortam turnos, dispensam funcionários em programas de lay-off e operam com elevada ociosidade.
Em queda
Outra marca da linha premium, mas de modelos utilitários-esportivos, a Land Rover também vai inaugurar uma fábrica em Itatiaia, no Rio de Janeiro, no próximo ano. A capacidade produtiva será de 24 mil veículos anualmente.
O grupo está investindo R$ 750 milhões no projeto. Na linha premium, a Land Rover é a única marca que registra queda nos negócios. De janeiro a setembro vendeu 6.363 veículos, 9,8% menos que em igual período do ano passado. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)