TPP ajuda carros do Japão, e os de China e Coreia perdem

The Wall Street Journal

 

As montadoras japonesas e algumas empresas de eletrônicos, assim como de vestuário com fábricas no Vietnã, devem se beneficiar do abrangente acordo comercial assinado nesta semana para reduzir impostos entre 12 nações do Pacífico, incluindo os EUA.

 

Mas as montadoras e as fabricantes de autopeças na Coreia do Sul e na China ­ países que não assinaram a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês) ­ só têm a perder com a iniciativa. As cotações de algumas das ações dessas empresas caíram ontem.

 

A indústria automobilística japonesa saudou o acordo, que deve eliminar progressivamente, ao longo de 25 anos, o imposto de 2,5% que os EUA cobra sobre os carros importados, beneficiando empresas como Toyota e Subaru, parte da Fuji Heavy Industries.

 

O acordo também vai eliminar a tarifa de 2,5% sobre várias autopeças quando entrar em vigor. Negociadores dos EUA, Japão e dez outros países fecharam o acordo na segunda­feira, em Atlanta, depois de um fim de semana de intensas negociações. O acordo da TPP ainda não está concluído. Cada país deve ratificá­lo formalmente com seus legisladores, o que é um caminho complicado para alguns signatários, incluindo os EUA.

 

O acordo “criará uma estrutura para a parceria econômica com mercados muito importantes para a indústria automobilística que não são cobertos pelas parcerias econômicas existentes no Japão, como os EUA e o Canadá”, disse ontem Fumihiko Ike, presidente da Associação dos Fabricantes de Automóveis do Japão.

 

Embora montadoras concorrentes dos EUA, como a Ford, tenham se oposto ao acordo, analistas dizem que elas não devem ser um obstáculo para as montadoras japonesas porque as tarifas americanas sobre carros e peças já são relativamente baixas e o período para acabar com elas é relativamente longo. O imposto dos EUA de 25% sobre caminhões importados, incluindo picapes e vans comerciais, continuará em vigor por 30 anos, segundo uma autoridade sênior dos EUA.

 

As montadoras japonesas já mudaram sua produção agressivamente, procurando evitar impostos, proteger­se de flutuações cambiais e reduzir as suas cadeias de fornecedores. Em dezembro, as montadoras japonesas tinham 26 fábricas de montagem nos EUA, de acordo com a associação dos fabricantes, que afirma que mais de 70% dos veículos de marca japonesa vendidos nos EUA são montados na América do Norte.

 

A Canon, do Japão, importante fabricante de câmeras digitais e impressoras de escritórios, informou que espera se beneficiar da TPP porque ela vai eliminar tarifas de produtos que não são cobertos pelos acordos comerciais internacionais existentes.

As empresas com bases de produção no Vietnã, como fabricantes de roupas e tecidos, provavelmente se beneficiarão das poucas barreiras comerciais para seus produtos, dizem analistas. As ações de algumas dessas empresas dispararam ontem, diante da expectativa da eliminação ou redução dos impostos.

 

As ações da coreana Hansae, cujas fábricas no Vietnã respondem por 60% da produção total, subiram 4,1%. As ações da Pan­Pacific, que tem metade da sua produção feita no Vietnã, tiveram alta de 4,3%. Uma porta­voz da Hansae não quis comentar sobre o possível impacto do acordo nas operações da empresa.

 

As ações das montadoras e das fabricantes de autopeças coreanas, porém, caíram porque os investidores temem que a exclusão da Coreia do Sul do acordo possa afetar a competitividade das empresas ao mesmo tempo em que beneficia as rivais japonesas.

 

“A notícia é ruim para as empresas coreanas”, diz o analista Ma Ju­ok, da Kiwoom Securities. “As montadoras coreanas usufruíram de vantagens tarifárias quando elas exportaram carros para os EUA através de um acordo bilateral. O acordo da TPP significa que as montadoras japonesas agora terão as mesmas taxas de impostos, ou similares, para as suas exportações para os EUA”.

 

As ações da Hyundai fecharam o dia de ontem em queda de 3,7%, o nível mais baixo das últimas três semanas, enquanto as da Kia recuaram 3,2%. A fabricante de autopeças Hyundai Mobis registrou queda de 0,9% no valor de suas ações.

 

A Coreia do Sul, uma economia que depende das exportações, tem acordos de livre­comércio com 10 dos 12 países que fazem parte da TPP, incluindo os EUA. Embora a Coreia tenha expressado interesse em participar da TPP, ela tem priorizado negociações bilaterais de livre­comércio, incluindo um entendimento no ano passado para um acordo com a China.

 

Segundo analistas, gigantes coreanas do setor de tecnologia, como a Samsung e a LG, têm exportado bens de consumo e peças eletrônicas para mercados importantes sem muitas barreiras tarifárias graças a acordos de livrecomércio com esses países que reduzirão qualquer impacto negativo da exclusão inicial da Coreia do Sul da TPP.

 

Na China, fabricantes de autopeças podem ser afetadas pelo acordo, diz Zhang Junyi, sócio da Roland Berger Strategy Consultants. No longo prazo, o acordo pode afetar as exportações da China de produtos que exigem intensa mão de obra, como pneus e vidro. Com a redução das tarifas entre os membros da TPP, empresas de autopeças chinesas podem ser forçadas a realocar fábricas para áreas de baixo custo do Sudeste Asiático como o Vietnã, diz Zhang. Isso também pode incentivar mais fabricantes de autopeças a instalar operações nos Estados Unidos.

 

Mas Chen Yang, porta­voz da Ningbo Joyson Electronic, que fabrica sistemas de controle de temperatura para automóveis, afirma que a TPP não afetará os negócios da empresa porque ela já produz parte dos seus produtos fora da China. “Nossas operações no exterior contribuem com quase 70% da receita da empresa. As peças feitas na China são vendidas principalmente dentro da própria China”, diz. (The Wall Street Journal/Yoko Kubota, Eric Pfanner, In­Soo Nam, Rose Yu, Brian Spegele, Kersten Zhang, Min­Jeong Lee, e Juro Osaw)