Reuters
A indústria brasileira de veículos em 2015 deve retornar a níveis de atividade de 2006, segundo projeções apresentadas nesta terça-feira pela associação que representa o setor, Anfavea, em meio a um recuo do mercado interno de quase 30 por cento por conta das incertezas geradas pelas crises política e econômica que atingem o país.
O setor deve entregar este ano uma queda de 23,2 por cento na produção de veículos, a 2,418 milhões de unidades, nível próximo dos 2,4 milhões de 2006. Em vendas, o recuo esperado é de 27,4 por cento, a 2,54 milhões de unidades, nível não visto desde 2007, quando foram licenciados 2,462 milhões de veículos. A Anfavea esperava anteriormente quedas de 17,8 por cento na produção e de 20,6 por cento nas vendas.
Segundo o presidente da Anfavea, Luiz Moan, o ajuste de estoques do setor deve continuar nos próximos três meses por meio de “ajustes na produção”. Na véspera, a General Motors informou que vai parar temporariamente o segundo turno de produção da fábrica em São Caetano do Sul (SP) entre esta semana e início de março do próximo ano e deixar funcionários com contratos suspensos.
“De janeiro a setembro retornamos ao nível de produção de 2006 e em termos de empregos estamos numa posição muito parecida com 2008, ainda”, disse Moan ao ser questionado sobre a redução de pessoal ocupado pelo setor. Neste ano até setembro, o nível de emprego da indústria de veículos apresenta queda de 9,6 por cento sobre o mesmo período do ano passado, a 133.609 posições ocupadas.
O presidente da Anfavea afirmou ainda que o setor tem cerca de 33 mil funcionários, ou em vias de entrarem, no Programa de Proteção ao Emprego (PPE) lançado pelo governo federal, que impõe redução de salário e de jornada de trabalho. Além disso, outros 7.200 estão com contratos suspensos.
Apesar da queda de 42 por cento na produção de setembro sobre o mesmo mês de 2014, o nível de estoques da indústria continuou elevado, terminando o mês passado em 346,9 mil unidades, suficientes para 52 dias de vendas. Em agosto, o volume estocado era de 357,8 mil unidades.
Moan reafirmou que o setor espera celeridade na implementação do ajuste fiscal promovido pelo governo federal, para que as incertezas que cercam os consumidores e empresários se dissipe. Diante disso, a indústria de veículos não está pleitando reduções de impostos como corte do IPI.
“Estamos buscando medidas estruturantes para o setor, como a implementação de um plano de renovação de frota. O consumidor continua interessado em comprar, o índice de motorização do brasileiro é um dos mais baixos do mundo”, disse Moan, voltando a citar que de 2012 a 2018 as montadoras planejam investimento de 80 bilhões de reais no país.
Segundo o presidente da Anfavea, a entidade espera para o final do segundo semestre do próximo ano uma recuperação nas vendas sobre este ano, diante da expectativa do setor de retomada da economia.
Já o segmento de caminhões deve continuar amargando os efeitos da queda da confiança dos empresários na economia. Segundo o vice-presidente da Anfavea responsável pela área de veículos comerciais da entidade, Marco Saltini, a expectativa de vendas de caminhões no país este ano é de 74 mil unidades, queda ante as 137 mil unidades de 2014.
Para 2016, Saltini espera manutenção no volume de caminhões licenciados. “Nosso setor é PIB (…) O ideal seria uma solução dessa crise política para permitir que as pessoas voltem a ter confiança no país”, disse Saltini. (Reuters/Alberto Alerigi Jr.)