Parceria Transpacífico pode reduzir exportação do Brasil em até 2,7%

Folha de S. Paulo

 

O acordo entre Estados Unidos e Japão e outros dez países pode encolher as exportações brasileiras em até 2,7%, segundo estudo dos pesquisadores Vera Thorstensen e Lucas Ferraz, da Escola de Economia da FGV.

 

O cenário considera a eliminação das taxas de importações e de pelo menos 50% das barreiras não tarifárias – padronizações de produto conflitantes, por exemplo.

 

As exportações brasileiras são afetadas, segundo o estudo, porque os produtos vendidos entre os países envolvidos no tratado ficarão comparativamente mais baratos.

 

Hoje as economias que formam o TTP recebem quase um quarto dos embarques brasileiros ao exterior. Nos manufaturados, o porcentual chega a 35%, por causa do mercado americano.

 

Analistas preveem que, com a entrada em vigor do TTP, os EUA devem concentrar seus esforços na negociação de outro mega­acordo com a União Europeia, a Ttip (Parceria Transatlântica).

 

“Se este fechar, asfixia o Brasil”, diz José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

 

Os números da FGV apontam que com a Ttip, as exportações do país sofreriam queda ainda maior, de 5%.

 

“É urgente que o Brasil inicie uma negociação para um acordo de livre comércio com os EUA”, diz Diego Bonomo, gerente executivo de comércio exterior da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

 

Segundo o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, porém, a negociação de um acordo de livre comércio com os EUA é um objetivo, mas não está “madura” e não é viável no médio prazo. “Estamos sendo pragmáticos e negociando uma convergência de normas com os EUA em diversos setores”.

 

O ministro afirma que o acordo entre EUA, Japão e demais países já estava previsto na estratégia do governo brasileiro, que discute a ampliação de acordo com o México e os países andinos.

 

Para Emanuel Ornelas, professor da FGV e pesquisador de política comercial e acordos de comércio, qualquer abertura de mercado seria positiva para o Brasil, cuja economia é muito isolada das cadeias produtivas globais. Ele, no entanto, se diz cético, já que o governo não tem implementado acordos.

 

“O Brasil está atrasado há muito tempo nesta área. Agora o resultado está aí”, diz Vera Thorstensen.

 

Setores

 

Os efeitos do TTP deverão ser sentidos tanto no agronegócio quanto na indústria.

 

Um dos setores mais prejudicados pelo acordo seriam produtos e preparados de carne, com queda de 5,1% do PIB setorial.

 

No caso dos manufaturados, setores como máquinas e equipamentos e produtos automotivos também devem sofrer desaceleração nas vendas externas.

 

Os cálculos da FGV foram feitos a partir do fluxo de comércio dos países em 2012 e consideram a taxa de câmbio vigente à época.

 

Segundo a pesquisadora, porém, a mudança na cotação da moeda norte-americana não provoca alteração relevante no modelo de simulação utilizado. (Folha de S. Paulo/Renata Agostini, Giuliana Vallone e Raquel Landim)