Famílias automotivas: “glamour” e escândalos na história dos Agnelli, da Fiat

O Estado de S. Paulo/Blogs Primeira Classe

 

Entre as famílias que comandam – ou já comandaram – as montadoras, talvez a mais interessante seja a Agnelli. O clã que está à frente da Fiat desde sua fundação tem uma instigante história centenária, que inclui laços com a nobreza e muitos triunfos, mas também escândalos envolvendo drogas, adultério e brigas entre mãe e filho. Apesar dos altos e baixos, a bem sucedida família é a mais poderosa de seu país. Os Agnelli são chamados de “os Kennedy da Itália”.

 

Desde sua fundação, em 1899, em Turim, na Itália, a Fiat se tornou um imenso conglomerado, que hoje reúne as marcas italianas Alfa Romeo, Lancia, Maserati e Ferrari (esta pertencente aos acionistas do grupo) e as americanas Chrysler, Jeep e Dodge.

 

Ainda assim, a montadora continua sendo comandada pela família Agnelli, por meio da figura de John Elkann, de 39 anos. Ele, que ocupa a presidência do conselho administrativo do grupo (agora chamado de FCA) e é tataraneto de  Giovanni Agnelli, um dos fundadores da Fiat.

 

Junto com um grupo de empresários, Giovanni criou a companhia, cujo nome é a sigla para Fábrica Italiana de Automóveis de Turim. O objetivo era fazer frente às fabricantes francesas.

 

Giovanni teve dois filhos, Aniceta Caterina e Edoardo Agnelli, que se casou com a filha de um príncipe e gerou quatro herdeiros. Entre eles, estava Gianni, nascido em 1921 e homem responsável por transformar a Fiat no maior conglomerado industrial da Itália.

 

A era Gianni Agnelli

 

Gianni foi o número 1 do grupo automotivo italiano desde 1966 e até sua morte, em janeiro de 2003.  Mas outros filhos de Edoardo também se destacaram: Susana, por exemplo, foi a primeira mulher a ocupar o comando do Ministério das Relações Exteriores da Itália.

 

Voltando a Gianni, ele se casou com a princesa Marella, uma das mulheres mais bonitas da Itália à sua época. Além de grande empresário, era considerado um ícone de estilo. Inspirou, inclusive, a moda masculina para os mais aclamados estilistas do mundo. Foi também eleito um dos cinco homens mais bem vestidos da história.

 

Por trás da imagem de glamour, Agnelli foi um empresário obstinado. Sob seu “reinado”, foram compradas as marcas italianas que hoje compõem o grupo. Porém, ele também passou por momentos difíceis, como o episódio dos anos 80 em que mais de 40 mil trabalhadores bloquearam a produção da Fiat por dias, descordando das políticas adotadas pela companhia.

 

Gianni Agnelli teve dois filhos, Edoardo III e Margherita. O filho, nascido em Nova York, teve problemas de relacionamento com o pai desde a juventude. Mesmo tendo se formando na universidade de Princeton, ele não era considerado por Gianni um herdeiro à altura do “império” Fiat.

 

O empresário, que achava o filho tímido demais para a função, já havia avisado Edoardo que não passaria a ele o comando da empresa. Entre os negócios da família, o primogênito de Gianni Agnelli ocupou apenas a direção do clube de futebol Juventus, nos anos 80.

 

Edoardo morreu em 2000; seu corpo foi encontrado em um rio de Turim. A suspeita é de que ele, que, de acordo com relatos da imprensa italiana, estava envolvido com drogas desde os anos 90, tenha se jogado de um viaduto.

 

Margherita e o “racha”

 

Já Margherita teve três filhos do primeiro casamento, com o escritor e jornalista norte-americano Alain Elkann, e cinco do segundo, com Serge de Pahlen. A filha de Gianni Agnelli foi quem desencadeou o maior  ”racha” da história da família.

 

Quando Gianni morreu, deixou um testamento no qual dividia em três o comando de duas empresas. Margherita e sua mãe ficaram, cada uma, com 37% das ações. A John Elkann, filho mais velho de Margherita e escolhido pelo avô para ser seu sucessor, coube 25%.

 

Após a leitura do testamento, Margherita começou a ofensiva contra a família. Ela acreditava que estavam sendo escondidos alguns bens de Agnelli. Além disso, se sentiu lesada quando a mãe, Marella, reuniu suas ações às de John. Ele se tornou então o maior acionista da companhia e deixou sua mãe fora dos negócios.

 

Os outros filhos do primeiro casamento de Margherita, Lapo e Ginevra, também receberam ações das companhias de Agnelli. Porém, seus cinco filhos com Serge Pahlen ficaram sem nada. Ela discordava desse termo do testamento do pai, pois queria que tudo fosse dividido igualmente entre seus herdeiros.

 

Margherita decidiu levar toda essa história à imprensa, acrescentando detalhes sobre o comportamento de Gianni em relação aos filhos. De acordo com ela, o empresário não se preocupava com ela e Edoardo, apenas com os negócios e suas inúmeras amantes.

 

As declarações magoaram à família e levaram ao rompimento de John, Lapo, Ginevra e Marella com Margherita. Para fazer as pazes, em 2004 a filha de Gianni vendeu suas ações a John. Porém, em 2008 resolveu retomar a briga e voltou à imprensa, novamente buscando desvendar os tais “segredos” sobre o patrimônio de seu pai.

 

Os Elkann

 

Escolhido e treinado pelo avô, John Elkann pode ser considerado o novo Gianni Agnelli. Ao menos quando o assunto é poder – sobre o talento para os negócios, ele ainda tem muito a provar. Aos 39 anos, esse ítalo-americano nascido em Nova York é o principal acionista da empresa que gerencia todos os negócios de Agnelli, dos quais o principal é a companhia agora chamada de FCA.

 

Porém, cauteloso, Elkann ainda não toma as principais decisões da companhia. Ele é presidente do conselho administrativo. O presidente executivo, ou CEO, é Sergio Marchionne, responsável pela compra da Chrysler e uma espécie de “coach” do neto de Agnelli.

 

Elkann é casado com Lavinia, herdeira da aristocrática família italiana Borromeo, de Milão – sua irmã, Beatrice, recentemente se casou com Pierre Casiraghi, príncipe de Mônaco. Lavinia e John têm três filhos.

 

Lapo já atuou na Fiat, trabalhando no departamento de Marketing. Porém, decidiu deixar a companhia do avô para fundar sua própria, especializada em design e marketing e situada em Milão.

 

Ele faz mais o estilo “bon vivant”, com um quê de “bad boy”. Na sua lista de ex-namoradas estão duas badaladas socialites: a italiana Bianca Brandolini e Goga Ashkenazi, radicada em Londres.

 

Antes de tornar-se um empresário de sucesso, Lapo passou por uma fase rebelde, quando estava na casa dos 20 anos. A mídia italiana reportou em setembro de 2005 que, após uma overdose de drogas, ele foi internado em situação grave em um hospital em Milão.

 

Ginevra atua nos bastidores do cinema. Trabalhou com Bernardo Bertolucci e Anthony Minghella e foi responsável pelo lançamento na Itália de sucessos como “Ninfomaníaca” e “Para Sempre Alice”. (O Estado de S. Paulo/Blogs Primeira Classe/Rafaela Borges)