The Wall Street Journal Americas
O Google Inc. projetou seus carros autodirigidos para seguir as regras das ruas. Agora, a empresa está ensinando esses veículos a dirigir mais como as pessoas, fazendo curvas fechadas, avançando nos cruzamentos e ultrapassando em faixas contínuas.
Os humanos esperam que os motoristas evitem colisões. Mas os robôs do Google esperam o pior e acionam os freios frequentemente quando seus “olhos” digitais identificam risco de perigo, às vezes levando outros motoristas a pararem abruptamente.
Os carros são “um pouco mais cautelosos do que precisam ser”, disse Chris Urmson, que lidera o projeto do Google para desenvolver carros autônomos, em uma conferência em julho. “Estamos tentando fazer com que os carros dirijam de forma mais humana.”
O Google está mais próximo de comercializar veículos autodirigidos. Ele contratou recentemente o veterano do setor automotivo John Krafcik como diretor-presidente do projeto. Um grande desafio ainda é fazer os carros, que já percorreram mais de 1,6 milhão de quilômetros, moverem-se de forma mais homogênea entre motoristas humanos.
Desde 2009, esses carros se envolveram em 16 pequenos acidentes; em 12 deles, foram atingidos na traseira. É uma proporção maior de acidentes que a média dos Estados Unidos, mas o Google afirma que as estatísticas nacionais excluem muitos pequenos acidentes similares.
O Google afirma que em nenhum dos casos a culpa foi dos seus veículos. Mas alguns parceiros dizem que o hábito dos carros frearem para evitar riscos reais, mas pequenos, pode ter contribuído para os incidentes.
“Por que eles estão sendo atingidos na traseira? Porque dirigem como um computador”, diz Jen-Hsun Huang, diretor-presidente da Nvidia Corp., empresa que desenvolve processadores gráficos poderosos que ajudam os carros do Google a reconhecer objetos.
Huang diz que o Google pode resolver o problema com técnicas de “aprendizagem profunda”, que ajudam os computadores a reconhecer imagens e objetos e então, avançar com o tempo. Em um teste de direção recente com dois repórteres do The Wall Street Journal, o carro autônomo Google Lexus RX450h acionou os freios em situações aparentemente estranhas.
Em um momento, o Lexus acionou o freio porque ele interpretou que um carro que se aproximava rápido por trás poderia fechá-lo enquanto fazia a ultrapassagem. O outro carro não fez isso, criando uma sensação de que o veículo do Google desacelerou sem nenhuma razão.
Em outra situação, o carro parou em um cruzamento movimentado com visão limitada do tráfego. Ele esperou por uns 30 segundos, começou a virar para a esquerda, mas parou no meio do cruzamento porque uma mulher do outro lado da rua andava na calçada perto demais do meio-fio.
“Acho que era aquela fração de segundo que damos para aquela pessoa cruzando a faixa de pedestre”, diz Nathaniel Fairfield, líder de equipe do Google que conduziu o teste de direção. “O melhor comportamento seria não ter parado abruptamente.”
Fairfield registrou o incidente em um laptop e diz que o Google irá estudá-lo para considerar mudanças nas instruções do computador que guia o carro. O evento também foi registrado na biblioteca de cenários de condução que o Google usa para testar se a mudança de um padrão pode desencadear um comportamento inseguro em outras situações.
Ainda assim, Fairfield insiste que a abordagem cautelosa não estava levando outros motoristas a bater na traseira dos veículos autônomos do Google. “Claramente somos mais bruscos do que gostaríamos”, diz. “Mas todos esses casos aconteceram quando estávamos parados.”
Alguns motoristas ao redor da sede do Google em Mountain View, na Califórnia, dizem que os carros incomodam. Eles se movem lentamente em cruzamentos em T, parando regularmente para manter o rumo. Eles são extremamente cuidadosos quando viram à esquerda porque seu software calcula a distância mínima segura que devem manter do tráfego existente. Os humanos tomam decisões mais instintivas, de maior risco.
Os carros do Google costumavam fazer curvas abertas à esquerda. Mas essas curvas confundiam outros motoristas e pareciam “estranhas” para os passageiros, diz Fairfield. Ao estudar padrões humanos de como virar em uma esquina, o Google viu que as pessoas fazem a curva de forma mais direta, com antecedência, “trapaceando ao virar”, nas palavras de Fairfield. O Google colocou isso em seus algoritmos.
Após 12 minutos do início do teste, o carro do Google foi em direção ao centro de uma rua de mão dupla, dirigindo sobre as duas faixas amarelas para desviar de um carro estacionado – o resultado de outra mudança. O Google havia proibido seus carros de cruzarem as linhas amarelas. Mas isso se mostrou impraticável quando carros estacionados bloqueavam a rua, e os carros do Google ficavam parados indefinidamente. “É bizarro e incomum”, diz Fairfield. “É preciso descobrir quando é o momento certo para flexibilizar um pouco as coisas.”
Diante de sinais para parar, o Google adotou uma função “lenta” para mostrar aos outros motoristas que o carro pretende avançar. Sem isso, em um cruzamento com quatro sinais de ‘Pare’, ele poderia ficar esperando até que o caminho ficasse livre.
Os veículos ainda param ou diminuem a velocidade quando estão inseguros sobre o que fazer.
O Google agora está incluindo flexibilidade e a interpretação humana em mais desses casos incomuns. Se um semáforo não funciona e os outros carros usam o cruzamento como um local com quatro sinais de ‘Pare’, o carro do Google vai perceber e agir de acordo. (The Wall Street Journal Americas/Alistair Barr e Mike Ramsey)