O Estado de S. Paulo
A Petrobrás anunciou na noite desta terçafeira um reajuste nos preços da gasolina e do diesel, válidos a partir desta quartafeira.
O preço da gasolina nas refinarias subirá 6% e o do diesel, 4%. Esse é o primeiro reajuste de preços nos combustíveis na gestão de Aldemir Bendine, que assumiu a petroleira em fevereiro com a missão de recuperar a empresa.
Ainda não há estimativas oficiais sobre o impacto do reajuste para os consumidores. O último reajuste de preços de combustíveis, anunciado em novembro pela expresidente Graça Foster, gerou, na época, impacto entre 2% e 2,5%.
De acordo com comunicado da empresa, os preços sobre os quais incidem o reajuste não incluem tributos federais, como Cide e PIS/Cofins. Isso significa que a alíquota dos impostos vai incidir sobre o novo valor, o que pode gerar um impacto maior na bomba de gasolina.
Situação frágil. A decisão foi tomada pela diretoria da empresa na noite desta terçafeira, após reunião em que a pauta principal foi a frágil situação financeira da estatal, agravada pelo efeito da depreciação cambial. Também foram analisadas propostas para novo corte de investimentos. Em junho, a companhia anunciou redução de 37% nos investimentos no período entre 2015 e 2019. Um novo corte, entretanto, não foi definido.
Após discutir o tema com os diretores da companhia, o presidente Aldemir Bendine se reuniu com o novo presidente do conselho de administração da empresa, Nelson Carvalho. Nesta quartafeira ocorrerá a primeira reunião do colegiado sob o comando de Carvalho, que assumiu o cargo após o afastamento de Murilo Ferreira, no início do mês, por divergências com a cúpula da estatal sobre o tamanho do ajuste necessário para a Petrobrás.
Autonomia e inflação
O reajuste, anunciado de surpresa um dia antes do encontro, é também uma tentativa de sinalizar ao mercado que a companhia possui autonomia para definir sua política de preços. Analistas não esperavam um reajuste neste ano, apesar da fragilidade da companhia. A avaliação é que o cenário político instável, a baixa popularidade do governo e a crise econômica retardariam a decisão. O reajuste terá impacto direto na inflação. A projeção atual dos analistas ouvidos pelo Banco Central é de que a inflação feche 2015 em 9,46%.
Apesar da preocupação com a economia, prevaleceu o diagnóstico sobre a gravidade da situação da companhia. No dia 10 de setembro, a estatal perdeu o grau de investimento da agência de classificação de risco Standard &Poor’s, afetando seu acesso ao crédito no mercado internacional. Desde então, com o agravamento da crise política, a alta do dólar para acima dos R$ 4 agravou ainda mais a situação da petroleira, uma vez que 80% de sua dívida é cobrada em moeda estrangeira. As projeções indicam que a dívida da companhia pode ultrapassar os R$ 500 bilhões.
Ingerência política. O endividamento explodiu desde 2010, quando o governo passou a conter reajuste de preços como forma de evitar uma alta da inflação no País. Por isso, a estatal precisou revender o combustível a preços mais altos que o custo de importação do petróleo, em um momento em que as cotações do óleo estavam acima de US$ 110.
A ingerência política teria causado, no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, uma perda para a companhia de cerca de R$ 80 bilhões, segundo estimativas da própria estatal.
Ao longo deste ano, entretanto, com a queda à metade da cotação internacional do petróleo, os combustíveis no País passaram a ser vendidos com preços mais caros do que em outros países. A variação positiva para a companhia chegou, em alguns momentos, a mais de 40%, segundo estimativas de analistas. Entretanto, com a desvalorização do real, a situação voltou a piorar e a estatal precisou fazer caixa para manter investimentos prioritários. Para melhorar o caixa, a companhia já vinha reajustando preços de gás canalizado e liquefeito (GLP) para o consumo industrial, principalmente. (O Estado de S. Paulo/Antonio Pita, Fernanda Nunes e Mônica Ciarelli)