Volkswagen é acusada de fraude nos EUA

The Wall Street Journal

 

A crise que tomou conta da Volkswagen depois que ela foi acusada nos Estados Unidos de cometer fraudes em testes sobre emissões de gases de efeito estufa se aprofundou ontem. A montadora alemã interrompeu as vendas de alguns carros movidos a diesel, emitiu um amplo pedido de desculpas por ter violado a confiança de seus clientes e iniciou uma investigação externa.

 

A empresa pode enfrentar bilhões de dólares em multas e a crise pode enfraquecer ainda mais o CEO da Volkswagen, Martin Winterkorn. Ele sobreviveu por pouco às tentativas de um grande acionista de demiti­lo no início do ano e perdeu a disputa para o cargo de presidente do conselho, o principal posto da empresa, este mês.

 

“Eu pessoalmente sinto profundamente que tenhamos abalado a confiança de nossos clientes e do público”, disse Winterkorn, em uma nota divulgada.

 

Os carros da marca Volkswagen vêm batalhando contra uma queda das vendas no mercado americano. A Audi, fabricante de carros de luxo da montadora, também enfrenta dificuldades para recuperar terreno perdido nos EUA para as rivais BMW e Daimler, dona da marca Mercedes­Benz.

 

Os EUA são um mercado crucial nos esforços da empresa alemã para se tornar a maior fabricante de automóveis do mundo em vendas. A Volkswagen, com sede em Wolfsburg, baseou sua campanha para os EUA em uma promessa de que seus motores a diesel oferecem melhor desempenho e baixas emissões de poluentes.

 

Mas na sexta­feira, a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) e o Conselho de Recursos do Ar da Califórnia alegaram que a Volkswagen usou um software, apelidado de “dispositivo de dissimulação”, nos carros para fazer os motores a diesel mostrarem níveis inferiores de emissões do que realmente geram. Por volta de 482 mil carros a diesel da Volkswagen foram afetados.

 

O inquérito da EPA pode forçar Volkswagen e Audi a realizar um recall de milhares de veículos que usam motores de “diesel limpo” nas linhas Passat, Jetta, Golf e Beetle (da Volkswagen) e no modelo compacto de luxo A3 (da Audi).

Depois do anúncio da EPA, a Volkswagen suspendeu a venda de todos os modelos 2015 e 2016 que usam o motor, disse um porta­voz da empresa. A investigação da EPA retrocede aos modelos 2008. O porta­voz disse que a empresa ainda não anunciou o recall.

 

A descoberta de que a Volkswagen pode ter fraudado esses resultados tem potencial para prejudicar sua recuperação nos EUA e enfraquecer ainda mais a cotação de suas ações, que já perdeu mais de 30% desde que atingiu um pico em março, dizem analistas.

 

“Não há como ser otimista ­ isso é realmente sério”, diz Max Warburton, analista da Bernstein Research. “A melhor solução para a Volks é provavelmente pagar uma multa multibilionária”.

 

As autoridades americanas informaram que a Volkswagen violou duas partes da Lei do Ar Limpo e pode enfrentar multas de até US$ 37,5 mil por carro, ou mais de US$ 18 bilhões.

 

Em novembro de 2014, a EPA forçou as sul­coreanas Hyundai Motor e Kia Motors a pagar multa recorde de US$ 100 milhões por terem exagerado em afirmações sobre a eficiência no consumo de combustível e obrigou­as a desembolsarem outros US$ 200 milhões em créditos regulatórios.

 

Nenhum recall de carros Volkswagen está em andamento agora e a agência informou que os veículos são seguros e podem ser dirigidos. A Volkswagen terá que fazer um recall dos carros para consertá­los, dizem as autoridades, embora o processo possa demorar até um ano.

 

A EPA está trabalhando com o Departamento de Justiça e a investigação continua. As autoridades alegaram que a Volkswagen utilizou um software que ativa os controles das emissões apenas durante o teste, mas depois reduz sua eficiência durante o uso normal. O resultado é que as emissões de óxidos de nitrogênio sobem para até 40 vezes acima do permitido, segundo a agência. Carros a diesel representam apenas uma pequena parcela do total de carros e caminhonetes vendidos nos EUA.

 

“Usar um dispositivo de dissimulação em carros para escapar dos padrões de ar limpo é ilegal e uma ameaça à saúde pública”, disse Cynthia Giles, assistente administrativa da agência. Ela acrescentou mais tarde: “Essas violações são muito sérias. Nós esperávamos mais da Volkswagen”.

 

Os especialistas dizem que o software permite que os carros tenham mais eficiência de combustível às custas das emissões de óxidos de nitrogênio, que foi provavelmente um motivo para a Volks usá­lo, diz Margo Ore, que recentemente se aposentou da diretoria do Escritório de Transporte e Qualidade do Ar da EPA, depois de mais de 32 anos na agência.

 

As motivações aparentes da Volkswagen para fraudar os testes de emissões não estão claros. Uma porta­voz da EPA disse que seria “prematuro especular sobre o motivo”. Um porta­voz da Volks em Wolfsburg disse: “Nós estamos agora na fase da investigação e não vamos comentar além da declaração publicada hoje”.

 

Winterkorn prometeu fazer “todo o necessário” para recuperar a confiança do público na empresa. “Nós não toleramos e não vamos tolerar a violação de qualquer tipo de regulamento interno ou da lei”, disse ele no comunicado. “Este assunto é prioritário para mim”.

 

A Califórnia também abriu uma investigação separada sobre a montadora. (The Wall Street Journal/William Boston, Amy Harder e Mike Spector)