Sem obrigatoriedade, indústria de extintores de carros prevê demissões

Folhapress

 

A indústria reagiu com preocupação à resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), determinando que o uso de extintores de incêndio em carros de passeio seja optativo, e teme a perda de até sete mil empregos.

 

Segundo o diretor da Abiex (associação de empresas que fabricam extintores), Cláudio Sachs, a medida é “um retrocesso na segurança do consumidor”.

 

“No momento em que praticamente estávamos no fim desse processo de tornar obrigatórios os extintores do tipo ABC e os pontos já estavam abastecidos com a mercadoria para vender, veio a resolução”, questiona.

 

Ele disse, no entanto, que não há indicação das montadoras de que elas deixarão de disponibilizar os extintores de incêndio nos automóveis que serão produzidos a partir da entrada em vigor da nova regra.

 

“Posso afirmar que vai ter um prejuízo enorme na cadeia produtiva. A gente calcula que tem dez mil empregos diretos envolvidos nessa cadeia produtiva toda. Certamente, se não houver nenhuma reversão dessa lei, vai haver mais demissões. Mas eu não posso dizer se são três mil ou até sete mil empregos”, projeta.

 

Segurança

 

Sachs também contesta dados apresentados pelo Contran sobre um eventual baixo número de incêndios em carros de passeio e de que há mais risco em uma pessoa inexperiente tentar combater um incêndio que abandonar o carro em princípio de incêndio.

 

“Existem mais de 13 mil incêndios por ano no Brasil que o corpo de bombeiros atende em veículos, um número significativo. Nos Estados Unidos, em 2013, 188 mil carros pegaram fogo nos Estados Unidos. Portanto, num país com frota muito mais moderna os carros pegam fogo também. Então, entendemos que foi um retrocesso isso”, critica.

 

Ele argumenta ainda que “no Brasil, de 25% a 30% dos carros têm seguros, outros 70% não têm. Para quem tem seguro é mais fácil falar eu saio do carro e deixo queimar, mas para quem não tem é mais difícil”.

 

Testes

 

Em nota, o Denatran justificou que “na maioria das nações europeias não existe a obrigatoriedade, pois as autoridades consideram a falta de treinamento e despreparo dos motoristas para o manuseio do extintor geram mais risco de danos à pessoa do que o próprio incêndio”.

 

O presidente do Contran, Alberto Angerami, acrescenta que “nos ‘test crash’ realizados na Europa e acompanhados por técnicos do Denatran, ficou comprovado que tanto o extintor como o seu suporte provocam fraturas”. O Contran é o conselho responsável por estabelecer as normas do CTB (Código de Trânsito Brasileiro) e as diretrizes da Política Nacional de Trânsito.

 

Segundo a AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva), de 800 incêndios em veículos cobertos por seguros, em apenas 24 (ou 3%) foi usado o extintor.

 

Polêmica e correria

 

A decisão do Contran ocorreu após quase um ano de polêmica e correria dos motoristas para comprar os equipamentos do tipo ABC, que seriam exigidos pelo conselho.

 

A exigência foi adiada pelo menos três vezes ao longo de 2015. O primeiro prazo estabelecido foi 1º de janeiro, depois houve adiamentos em abril e julho e o novo limite para trocar os equipamentos seria 1º de outubro. Os adiamentos foram justificados em razão da dificuldade de motoristas encontrarem o novo modelo de extintor.

 

Os carros fabricados a partir de 2010 já são equipados com esse tipo de extintor, com carga à base de bicarbonato de sódio e validade de cinco anos. (Folhapress)