Baixo nível de confiança preocupa Mercedes-Benz

DCI

 

Com 40% de ociosidade em veículos comerciais no Brasil, a Mercedes-Benz quer estabilidade e consenso nas decisões do governo para que o mercado desenhe uma retomada.

 

“Nós temos que recuperar a credibilidade que o País vem perdendo já há alguns anos. Se perdermos o grau de investimento, a retomada pode ficar só para 2018”, afirmou nesta quarta-feira (9) a jornalistas o presidente da empresa, Philipp Schiemer.

 

Na avaliação do executivo, o mercado de caminhões deve encerrar o ano com cerca de 75 mil unidades vendidas, uma queda de quase 50% em relação a 2014. “Mas temos potencial para atingir entre 150 mil e 200 mil”, acredita.

 

Porém, a retomada do mercado de caminhões esbarra na forte queda da atividade econômica do Brasil, segundo Schiemer. “Cerca de 60% das cargas do País são transportadas por caminhões. Mas sem grau de investimento, ninguém irá investir em infraestrutura”, pondera. “Estamos correndo o risco de retroceder 20 anos”.

 

Além do arrefecimento da economia, especialmente o segmento de veículos comerciais sofreu com a majoração do financiamento do BNDES para a compra de bens de capital, o Finame, de 6% para cerca de 14%, em 2015.

 

“O governo não define as taxas de juros do Finame no longo prazo, o que dificulta muito o ambiente de negócios. Se temos um pleito a fazer ao governo é previsibilidade”, acrescenta Schiemer.

 

Segundo ele, a falta de estabilidade nas decisões do governo tem impactado muito a economia e em particular o mercado de caminhões. “A única certeza que temos hoje é que não sabemos o que vai acontecer amanhã”, avalia.

 

Ele garante, contudo, que a postura da empresa não será de passar o chapéu, mas sim criar o que eles chamam de agenda positiva.

 

“Existem diversas medidas que o governo poderia tomar para alavancar o setor sem ter que desembolsar dinheiro ou mesmo aumentar impostos. É fazer mais com menos”, salienta o presidente da Mercedes.

 

Ele cita como exemplo tirar do papel o projeto de renovação da frota de caminhões. “A legislação atual não favorece a troca do bem ao isentar o IPVA dos caminhões com mais de dez anos de uso”, explica.

 

Para o executivo, a seletividade do crédito também desestimula a compra de veículos comerciais. “Sem regras claras de retomada do bem em caso de inadimplência, o banco cobra mais caro”, destaca.

 

PPE

 

Na semana passada, a Mercedes acordou com o sindicato do ABC paulista para aderir ao Programa de Proteção ao Emprego (PPE). Todos os 10 mil funcionários da planta terão redução da jornada em 20% e em 10% dos salários.

 

“Certamente a ociosidade é maior do que essa redução, mas vamos arcar com a diferença para manter o nível do emprego”, garante Schiemer.

 

O executivo afirma ainda que a rede da Mercedes não fechou nenhuma concessionária, apesar das centenas de pontos que fecharam as portas neste ano, segundo dados do setor. “A rede está saudável e pronta para quando vier a retomada”, diz Schiemer. Ele ressalta que, além do corte de custos em até 20% em 2015, a empresa mantém investimentos e esforços no pós-vendas. (DCI/Juliana Estigarríbia)