Mercedes-Benz volta atrás em 1,5 mil demissões no ABC

O Estado de S. Paulo

 

A Mercedes- Benz suspendeu 1,5 mil demissões previstas para hoje na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, após os trabalhadores da unidade aceitarem, em assembleia, a redução da jornada em 20% e dos salários em 10%. Os 10 mil trabalhadores terão estabilidade no emprego por um ano.

 

Com a decisão, a Mercedes é a primeira montadora de veículos a aderir ao Programa de Proteção ao Emprego (PPE). Todos os funcionários da fábrica, incluindo os administrativos, vão trabalhar o equivalente a um dia menos por semana nos próximos nove meses.

 

Como o Fundo de Amparo ao Trabalhador (F A T) vai bancar metade do corte dos salários, o funcionário arcará com 10% da redução.

 

Após a assembleia de ontem, que aprovou o acordo negociado entre a empresa e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC no fim de semana, os trabalhadores encerraram a greve iniciada há uma semana. Eles também aceitaram reajuste de apenas 50% do INPC em 2016 e um abono de R$ 3 mil, que não será incorporado aos salários.

 

Na proposta recusada em julho, que motivou as demissões, não havia abono e o corte de jornada e salários se estenderia por 12 meses.

 

No dia 21, a General Motors também voltou atrás de um corte de 798 funcionários da fábrica de São José dos Campos (SP) e colocou esse pessoal em lay-off (suspensão de contratos por cinco meses), após acordo com  o sindicato local.

 

Na última sexta-feira, a Volkswagen suspendeu 50 demissões em Taubaté (SP) e decidiu abrir um programa de demissão voluntária (PDV). Nos dois casos, antes do acordo houve protesto, com paralisação da produção .

 

Fôlego

 

O presidente da Mercedes- Benz, Philipp Schiemer, disse que o acordo representa «um fôlego tanto para a empresa quanto para os colaboradores, diante de uma forte crise econômica no País”. Ressaltou, contudo, que as expectativas de vendas para o mercado de veículos comerciais neste ano continuam negativas e que não existe nenhuma previsão de recuperação no próximo ano.

 

“Nesse sentido, o País precisa de medidas para sair da recessão, controlando a alta inflação e as elevadas taxas de juros, retomando o crescimento econômico e despertando a confiança dos investidores para realizar novos negócios”, disse, em nota. “A falta de estabilidade política e econômica gera uma desconfiança dos clientes, que deixam de investir no mercado brasileiro. Essa situação, se não resolvida, continuará ameaçando as empresas e a manutenção de empregos no País”.  A Mercedes produz caminhões e ônibus e alega ter 2 mil trabalhadores excedentes, pois opera com mais de 40% de ociosidade.

 

O grupo já demitiu 500 pessoas recentemente e tem 250 funcionários em lay-off.

 

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do. ABC, Rafael Marques, ressaltou que, além da adesão ao PPE – programa sempre defendido pela entidade -, o acerto com a Mercedes “é uma vitória importante”, porque era a única montadora na base da entidade que ainda não tinha acordo de estabilidade.

 

Outras quatro empresas já aderiram ao PPE, sendo três do setor de autopeças e a Caterpillar, que produz máquinas agrícolas. “Estamos negociando com mais sete empresas dos setores de autopeças, máquinas e aço”, disse Marques.

 

De janeiro a julho, a indústria automobilística demitiu 8,8 mil trabalhadores e a maioria das fabricantes segue adotando medidas de corte de produção, como férias coletivas. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)