O Estado de S. Paulo
Montadoras brasileiras estão entrando novamente no jogo da competição global. Em 2004, as fabricantes de carro exportaram 1,1 milhão de unidades produzidas no Brasil. Dez anos depois, saíram do País 334 mil unidades, queda de 70 no volume. “Ao mesmo tempo em que tivemos uma estabilidade do real num patamar forte, nessa década nossos custos de produção aumentaram em 110%”, diz Luiz Moan, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). “Foi uma perda de competitividade muito forte, já que nesse período vários países concorrentes mantiveram suas moedas desvalorizadas”.
Com as mudanças do câmbio em 2015, as montadoras já começaram a reagir. Entre janeiro e julho, as exportações de carros de passeio subiram 11%, as de caminhões aumentaram 12,2 e as de ônibus, 4%. Na verdade, foi a única boa notícia para um setor que vem encolhendo há três anos consecutivos, perdeu mais 20% das vendas em 2015 e fechou quase 25 mil postos de trabalho em dois anos. De acordo com Moan, além do câmbio, a reintrodução do Reintegra (o programa que cria créditos tributários provenientes das exportações) e o aprofundamento de acordos comerciais irão alavancar ainda mais as transações internacionais do setor.
Foi o fortalecimento dos acordos comerciais que permitiram o incremento nas exportações para o México em 73, em número de unidades, entre janeiro e julho. Para a Argentina, as vendas já têm sete meses consecutivos de alta. São os países com os quais o Brasil tem acordos automotivos, mas não os únicos em que as vendas estão aumentando. “Também estamos entrando em novos mercados: exportamos mais de mil tratores para vários países do continente africano e também venderemos cerca de 400 unidades para Cuba”, diz Moan. O acordo comercial com a União Europeia também deverá ser fortalecido. Segundo ele, as montadoras voltaram a buscar fornecedores locais e a balança comercial se tornará mais equilibrada no longo prazo.
Algumas montadoras aproveitaram programa Inovar-Auto, que exigiu investimentos em inovação e eficiência energética dos carros, entre outras coisas, para montar plataformas globais para seus produtos, no Brasil. É o caso da Scania. Assim, quando o mercado interno ficou ruim, parte de seus caminhões foi voltada à exportação. Hoje, 50% de sua produção, seja de caminhões ou de outros produtos, como motores, são exportados. Segundo Um especialista do setor, a estratégia da Scania custou participação de mercado num primeiro momento, já que quando os veículos novos chegaram ao Brasil eles eram mais caros. Porém, com o passar do tempo e a nacionalização das peças, os caminhões passaram a ter preços mais atraentes, além de serem mais modernos. Outras montadoras estruturaram sua cadeia de produção em vários países, fazendo uma espécie de hedge contra oscilações em diferentes economias.
O fôlego trazido pelas exportações, porém, não será suficiente para salvar o ano do setor. Hoje, há no País 43 montadoras fabricando carros de passeio, número inferior apenas ao da China. Elas foram atraídas pela promessa de um mercado de 5 milhões de unidades novas por ano, até 2020. No ano passado, foram licenciados 3,5 milhões de carros novos e, pelas previsões para os próximos anos, dificilmente as projeções se realizarão. “O grande patrimônio brasileiro é o mercado interno”, diz Moan. “É com ele que a indústria brasileira consegue alcançar a economia de escala necessária para ser exportadora”.
A outra ponta do comércio exterior, a dos importadores de carros, também viu suas vendas caírem em quase 30 no ano. A associação do setor, a Abeifa, está pleiteando junto ao governo o relaxamento das cotas de importação de veículos, livres da sobretaxa do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Para incentivar a produção local, o governo estabeleceu com a edição do Inovar-Auto, em 2012, que a importação isenta de IPI extra seria restrita 4,8 mil carros por ano. Para estimular investimentos, o programa libera cotas extras a montadoras que instalem fábricas no Brasil. o dólar perto do patamar de R$ 3,50, diz a Abeifa, já é uma barreira natural aos carros importados. Além disso, os investimentos que o Inovar-Auto tinha de atrair, argumentam, já foram feitos. (O Estado de S. Paulo/Projetos Especiais)