Folha de S. Paulo
A perspectiva de mudança na cobrança de tributos, como o novo PIS/Cofins ou a tentativa de ressuscitar a CPMF, provoca a pior insegurança jurídica já vivida no país, afirmam 30 entidades do setor produtivo, tributaristas, consultores e empresários ouvidos pela Folha.
Na indústria, no varejo e no setor de serviços, o resultado são investimentos e planos de negócios travados, contratações suspensas e, em 7 de 10 segmentos consultados, enxugamento de vagas.
“No fim do ano passado, o governo prometeu desoneração da folha de pagamento permanente. Três meses depois, decidiu retirar o benefício por causa do ajuste fiscal e, agora, as alíquotas subiram 150%. Quem consegue sobreviver com as regras do jogo mudando desse jeito?”, questiona Humberto Barbato, presidente da Abinee, que representa as empresas do setor eletroeletrônico. “A atual insegurança é maior até do que a do governo Collor”.
Somente no setor industrial, o vaivém da desoneração/reoneração deve custar 290 mil empregos, com 54% das empresas prevendo demissões, de acordo com levantamento feito pela Fiesp com 340 empresas.
Se as dispensas forem confirmadas, o corte representa 3,7% do total de empregos do setor. Já a elevação na carga tributária do setor deve chegar a R$ 5,6 bilhões ao ano. A medida pode ter ainda impacto na inflação, uma vez que, para compensar o aumento de carga, 40% das empresas têm a intenção de repassálo aos preços.
Simplificação x impacto
Empresários de segurança privada, tecnologia da informação, serviços de terceirização, máquinas, autopeças e plástico dizem que mal saiu de cena esse debate e outro já preocupa: o projeto de unificar o cálculo do PIS e da Cofins, criando nova contribuição social.
“Não somos contra a simplificação do PIS/Cofins, mas as reformas feitas em 1999 e em 2003 promoveram aumento de 70% na carga tributária, em época de uma debilitada situação fiscal do país”, afirma José Ricardo Roriz Coelho, diretor do departamento de competitividade da Fiesp. “Esse histórico traz desconfiança e precaução”.
A Elemar, que atua em logística, importação e transporte, cancelou o investimento em infraestrutura – de cerca de 10% de seu faturamento – por causa de incertezas na legislação.
“Estamos dispensando clientes, deixando de fazer mudanças que permitiram ganhos de escala e nos concentrando em enxugar custos”, diz Adilson Vieira de Araújo, dono da empresa. “É um contrassenso uma empresa não poder se expandir quando tem mercado para isso”.
Carga maior
Outra queixa do setor produtivo é a alta na alíquota do PIS e da Cofins na importação de mercadorias, de 9,25% para 11,75% neste ano.
“Se você me perguntar qual o meu plano de negócios para 2016, vou ter responder: ainda não sei”, diz Carlos Bernardi, sócio da CTI, que atua em tecnologia de informação e preside o Sindicato de Empresas de Internet do Estado de São Paulo
“O Brasil tem 320 mil normas tributárias, e uma nova é criada a cada hora pelos dados do ano passado do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação). Tenho de gastar para cumprir essas regras em vez de treinar a mão de obra de que preciso para um setor que, se não se atualizar, morre”, diz o empresário.
Na Finder, indústria do segmento de componentes eletroeletrônicos, a expansão da empresa também está em banhomaria por causa das incertezas na tributação.
“Uma empresa que quer crescer, atender de forma mais eficiente seu mercado, tem de ter planejamento para seis meses, dois anos, dez anos. Como alocar recursos se não se sabe qual será o tamanho do gasto que seu negócio terá?”, diz Juarez Guerra, diretor comercial da Finder.
Nó tributário
Mudanças previstas têm impacto direto no caixa das empresas; vaivém das cobranças eleva insegurança jurídica
CPMF: Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, conhecida como o “imposto do cheque”.
Como era
– Surgiu como imposto (IPMF) em 1993 com alíquota de 0,25% sobre movimentação financeira para custear área da saúde
– Foi extinto em 1994 e voltou como contribuição em 1996, com previsão inicial de durar até 1998
– Foi prorrogada até 2002, depois até 2004 e 2007
– CPMF teve alíquotas de 0,20%, 0,30% e 0,38%
– Tributo foi criado para custear a área da saúde, mas sua receita foi em seguida destinada a outras finalidades
– Não teve mais apoio no Congresso Nacional para nova prorrogação e deixou de existir em 1°.de janeiro de 2008
Como é hoje
– Um novo modelo de CPMF para financiar a saúde vem sendo articulado no governo
– O novo tributo pode virar uma “contribuição social” e ser repartido entre União, Estados e municípios
– Não há detalhes da proposta, pode ter alíquota de 0,38% e incidir sobre movimentação financeira
(Folha de S. Paulo)