Setor agrícola terá pacote de ajuda do Banco do Brasil em duas semanas

Folha de S. Paulo

 

O presidente do Banco do Brasil, Alexandre Abreu, 49, antecipou quais os próximos setores receberão crédito da instituição: cooperativas agrícolas, petróleo e gás e construção civil.

 

A instituição ampliou de R$ 91 bilhões para R$ 100 bilhões o limite de financiamento para ramos específicos da cadeia produtiva brasileira.

 

Em entrevista à Folha, Abreu afirma que a injeção de mais dinheiro no mercado é uma estratégia comercial do banco para evitar o crescimento da inadimplência, não uma política de governo nos moldes do socorro feito durante a crise internacional de 2009.

 

“Não vai ser uma elevação de crédito abrupta, mas, sim, suave”, disse o executivo.

 

Nesta última terça­feira (18), ao anunciar uma política de crédito para o setor automotivo, a presidente da Caixa, Miriam Belchior, disse que a medida era uma ação conjunta para

evitar desaquecimento maior da economia, patrocinada pelo Palácio do Planalto.

 

Folha – O governo novamente usou os bancos públicos para salvar a economia?

É uma estratégia do Banco do Brasil desenhada para alguns setores. Não utilizamos nenhum tipo de recursos públicos. O momento é bastante desafiador da economia. Temos diversos setores produtivos reduzindo vendas e com dificuldades de atravessar este momento.

 

Reedição da política de 2009?

Fizemos naquela época uma estratégia mais ampla. Era estrategicamente adequado ampliar nossa participação de mercado. Hoje estamos com 21% de participação de crédito.

 

Hoje, há setores com queda muito forte de vendas. É preciso ser cirúrgico.

 

Além do automotivo, quem terá mais crédito?

Cooperativas agrícolas serão as próximas. Sai em umas duas semanas. Dos R$ 9 bilhões de aumento de crédito, R$ 2,3 bilhões vão para o setor agro.

 

Depois vem petróleo e gás, em uns dois meses.

 

Esses incrementos vão gerar convênios individuais com as empresas.

 

Por que o Ministério da Fazenda e o BB não estavam presentes no anúncio feito pela

 

Caixa?

É uma estratégia comercial de cada banco, não uma política de governo.

 

Não foi isso o que disse a presidente da Caixa.

 

É uma estratégia individual. O governo está evidentemente sabendo. O BB financiará as empresas menores que fornecem para as empresas líderes de mercado.

 

O que estamos fazendo é direcionar uma parte do limite de crédito da empresa líder para essas fornecedoras.

 

As grandes têm acesso a uma taxa de juros mais barata pelo fato de o risco ser menor.

 

Já as fornecedores são empresas menores, com acesso a crédito com taxas maiores e maior exigência de garantias. Vincularemos os empréstimos às pequenas ao fluxo de recebíveis das grandes. Teremos ciência do quanto as empresas grandes planejam comprar de suas fornecedoras.

 

Será uma espécie de fiador?

Praticamente. Se trabalhasse somente com as pequenas, as garantias seriam menores.

 

Isso vai diminuir o número de demissões. Estamos muito preocupados. Se houver desemprego, pode haver aumento da inadimplência da pessoa física.

 

Não vai ser uma elevação de crédito abrupta, mas sim suave. Queremos atingir empresas que precisam, mas de forma menos arriscada.

 

A inadimplência vai crescer?

 

Estamos conseguindo manter isso estável. Mas, evidentemente, temos que movimentar para evitar que cresça. Estamos fazendo muitas renegociações de dívidas. Com um dia de atraso a gente já procura o cliente. Se eu não fizer isso, ele entrará em default. Em 2009 foi maior. De 2013 para cá tem ficado bem estável. Vamos trabalhar para manter no patamar atual de 2,4%, 2,5%.

 

Cresceu muito o número de empresas em default e recuperação judicial?

O setor automotivo é o sétimo setor a que o banco tem mais exposição, são R$ 28 bilhões.

 

O primeiro é petróleo, seguido de metalurgia, energia elétrica, alimentos de origem vegetal, administração pública e o automotivo.

 

No caso do petróleo gás, são 14.500 fornecedores.

 

Vamos incluir o setor de construção civil também na política de crédito.

 

Com a Lava Jato, é seguro emprestar para empreiteiras?

Não se pode generalizar. Para algumas, sim, outras, não. Não acredito em risco sistêmico. O banco levanta R$ 9 bilhões de crédito, mas o BC eleva a Selic taxa básica, que norteia as outras taxas, inibindo o crédito. Não é contraditório?

As empresas e as pessoas continuam necessitando de crédito. Esse projeto procura fazer isso.

 

Claro que a taxa de juros mais alta ela tende a induzir o crescimento do crédito e compete a nós encontrarmos uma maneira de continuar trabalhando para dar crédito sem elevar nossos riscos.

 

Banqueiro não gosta de juro alto?

Discordo. Quando você tem juros mais altos, tem mais inadimplência.

 

O que banqueiros e bancos não gostam é de inadimplência. É claro que política monetária tem suas funções. Com juros mais baixos é muito mais fácil.

 

A qual taxa de juro?

Não tenho juro subsidiado, então vou trabalhar com o que eu tenho. A gente está reduzindo taxa de juro baseado na redução do risco. O objetivo é manter o emprego, mas achamos muito difícil de controlar isso. A empresa vai assumir o compromisso de não demitir, mas não haverá meta no contrato.

 

É só uma carta de intenções?

Exatamente.

 

Por que um acordo para salvar a Sete Brasil não sai?

É uma negociação entre a Sete e a Petrobras. Eu sou credor de empréstimo­ponte junto com outros bancos. Estamos aguardando o plano de reestruturação da empresa. Prorrogamos o prazo e estamos aguardando.

 

Os bancos estão fazendo provisionamento para eventuais perdas?

Enquanto houver expectativa de uma solução, não.

 

Se não houver solução para a Sete, os bancos que financiaram a Sete vão processar quem? Petrobras? BNDES?

Espero que tenha solução. Obviamente que, se tiver uma situação de default, tem medidas jurídicas a tomar.

 

Quando a situação da economia começa a melhorar?

A gente tem a torcida e a expectativa de que seja o mais breve possível. Acho que o governo está fazendo o ajuste fiscal, que tem de ser feito. A grande notícia são as expectativas de inflação para o ano que vem, que começam a mostrar queda, indicativo de que a economia pode voltar a crescer.

 

Os clientes do BB estão pessimistas?

Acho que os empresários estão ansiosos por notícias boas para voltar à normalidade. Quem concede crédito tem de acreditar no futuro.

 

Investidores estão querendo investir aqui?

Sim. A crise dá essa oportunidade. Os ativos brasileiros ficaram baratos. Os investidores estão procurando ativos. O mercado de fusões e aquisições deve crescer. O país está barato. (Folha de S. Paulo/Maria Cristina Frias e Natuza Nery)