O Estado de S. Paulo
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, afirmou ontem, que a desvalorização do yuan não é um problema para o Brasil. Mesmo que as exportações chinesas de manufaturados fiquem mais competitivas globalmente e desloquem parte das exportações brasileiras em mercados tradicionais na América do Sul, a desvalorização do real não pode ser ignorada, na visão do ministro.
“Nosso câmbio também de realinhou, algo próximo de 50% em 12 meses”, afirmou Monteiro. “Nossa moeda está bem posicionada, se levarmos em conta uma cesta de moedas, na qual podemos incluir a própria moeda chinesa”, completou o ministro.
Se na disputa por mercados internacionais para exportações de manufaturados, o câmbio ajuda, no comércio bilateral entre Brasil e China, a decisão desta terçafeira do Banco Popular da China, o banco central chinês, deverá pesar menos ainda. “Na nossa relação de comércio direta, a competitividade do Brasil se situa numa área que é de commodities”, afirmou Monteiro, classificando a competitividade brasileira na exportação de matériasprimas como “indiscutível”.
O ministro demonstrou preocupação maior com a inflação no Brasil, pois, segundo ele, a variação de preços anula em parte o ganho de competitividade dado pela desvalorização recente do real.
“Esse que é o grande fator que erode o câmbio real. Uma coisa é o câmbio nominal, outra é o câmbio real. Precisamos estar muito atentos à evolução de custos. Você desvaloriza o câmbio, mas os custos sobem. Esse é o problema. Não é a desvalorização da moeda chinesa, que ainda é, de resto, bem menor do que a nossa”, resumiu Monteiro.
Balança comercial
O ministro elevou sua expectativa para o superávit da balança comercial em 2015 de entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões para até US$ 12 bilhões. Monteiro destacou a importância do superávit, mesmo que conseguido graças à queda nas importações.
O ministro fez as estimativas já com base nos dados até a primeira semana de agosto, que apontam para um superávit acima de US$ 5 bilhões, segundo ele. Além disso, o movimento de queda nas importações pode ser visto positivamente porque inclui uma substituição por produtos locais.
“Esse movimento de queda está correspondendo também a um movimento de substituição de importações. Com a desvalorização do real, as importações ficam mais caras e isso abre um espaço adicional para a indústria, para a produção doméstica, sobretudo num ano marcado por uma forte retração no mercado doméstico”, afirmou o ministro.
Outras justificativas para a visão otimista de Monteiro em relação ao comércio exterior são as ações de maior abertura comercial. De acordo com o ministro, o acordo automotivo renovado com o México poderá elevar em 70% nas exportações de veículos para o parceiro latinoamericano. Além disso, está “bem encaminhado” um acordo no setor com a Colômbia. (O Estado de S. Paulo/Vinicius Neder)