O Estado de S. Paulo
A produção industrial voltou a encolher em junho e acumulou queda de 6,3% no primeiro semestre do ano, a mais intensa desde 2009, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A baixa confiança dos empresários e dos consumidores, o aumento do desemprego e a queda na renda das famílias são fatores que pesaram sobre a produção.
Nos seis primeiros meses do ano, os veículos tiveram o principal impacto negativo, com baixa de 20,7%, mas não foi o único setor. Ao todo, 24 das 26 atividades pesquisadas tiveram retração nesta base de comparação. Segundo o IBGE, a indústria brasileira opera 12,2% abaixo do pico histórico, atingido em junho de 2013. Com isso, a atividade atual é comparável a níveis de julho de 2009, numa “clara tentativa” da indústria de tentar adequar os estoques acumulados à demanda.
Em junho ante maio, o recuo foi de 0,3%, na série com ajuste sazonal. A queda veio dentro das expectativas dos analistas e foi registrada após uma alta de 0,6% no mês anterior a qual foi vista com cautela por analistas e pelo IBGE.
Indústria em queda
Segundo o instituto, o novo recuo em junho ratifica a avaliação de que o avanço de 0,6% no mês anterior não significava reversão na trajetória de perdas. André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, destaca que nos últimos dez meses, a atividade cedeu em sete, um sinal do menor dinamismo do setor.
Em relação a junho de 2014, a produção teve queda de 3,2%, a 16ª taxa negativa consecutiva uma marca inédita na série do IBGE, iniciada em 2002. Apesar disso, o recuo foi menos intenso do que os observados em abril (7,9%) e maio (8,9%). Mas isso se deve a dois fatores: efeito calendário e base de comparação mais baixa, em função da Copa do Mundo de 2014.
“A queda menor na produção ante junho de 2014 se deve a efeito calendário. O mês de junho deste ano teve um dia útil a mais. Além disso, há a base de comparação mais baixa, pois no ano passado teve a Copa do Mundo, com reduções de jornada de trabalho”, explicou Macedo.
O gerente também notou que houve predominância de perdas na atividade em junho ante maio, com queda em 15 de 24 ramos pesquisados. Mesmo em segmentos que tiveram aumento na produção, Macedo observou que os desempenhos positivos estão concentrados na categoria de bens de consumo semi e não duráveis.
Enquanto a produção geral teve queda, a categoria de bens de consumo semi e não duráveis mostrou alta de 1,7% na produção em junho ante maio. “Os soluços na produção têm a ver com melhora no nível de estoque de determinados segmentos. Os bens de consumo semi e não duráveis estão mais próximos de uma determinada normalização de seus estoques do que outras categorias”, explicou o gerente.
Mesmo assim, o comportamento recente não anula as perdas anteriores. De outubro do ano passado a abril de 2015, a categoria teve queda acumulada de 8,5%. Em maio e junho, os resultados positivos significaram avanço acumulado de 2,9%, segundo o IBGE.
Já a produção de bens de consumo duráveis teve em junho o nono mês de queda em relação ao mês imediatamente anterior. Com isso, a categoria acumula no período uma retração de 26,2%, calcula Macedo. Segundo ele, o setor de veículos é o principal impacto negativo no setor. (O Estado de S. Paulo/Idiana Tomazelli)