O Estado de S. Paulo
A crise não derrubou só as vendas do setor automotivo, mas também mudou os hábitos de consumo de quem ainda está disposto a fazer uma dívida para comprar um veículo. Pela primeira vez desde 2011 (início da série histórica), os carros com quatro a oito anos de uso passaram os novos nos financiamentos, segundo um levantamento da central de depósitos de ativos e títulos Cetip.
No primeiro semestre, os “usados jovens” responderam por 35,51% dos financiamentos, ou 752,1 mil unidades, enquanto os novos representaram 35,1% do total. A vantagem, ainda que por margens estreitas, começou a ganhar impulso na virada do ano, com a volta da cobrança integral do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os veículos zero km.
“O mercado de novos teve benefícios fiscais e de crédito enormes de 2010 para cá, mas isso acabou”, diz Marcus Lavorato, gerente de Relações Institucionais da Unidade de Financiamentos da Cetip. Ele pondera que, mais do que uma franca expansão dos usados, o resultado mostra uma volta à normalidade do mercado. Agora, o consumidor que precisa trocar de veículo olha para o tamanho da parcela do novo e acaba migrando para ousado. “Um veículo de 2010, por exemplo, foi fabricado ainda no contexto do IPI reduzido. Logo, tem um preço ainda mais competitivo em relação ao novo”, diz Lavorato. Para Vitor Meizikas, analista da consultoria Molicar, outra questão que influencia é o fato de o veículo novo ter um preço mais rígido e com menos margem de barganha do que o usado.
O presidente da Fenabrave, associação que representa as concessionárias, Alarico Assumpção Junior, diz que existem também evidências de que há menos seminovos na praça. “Grande parte dos donos dos seminovos não quer trocar de carro. Logo, cai o estoque desses veículos, e o consumidor parte para unidades mais velhas”, afirma.
Custos
As taxas de juros para aquisição de veículos variam entre 0,80% e 4,1% ao mês, segundo dados do Banco Central. O levantamento não separa as taxas por idade dos veículos, mas, segundo especialistas, o juro do usado é maior do que o do novo. Assim, o consumidor precisa levar em conta que o financiamento vai pesar mais no bolso.
“A possibilidade de retomar um veículo usado e conseguir um bom preço em leilão é menor do que no novo, então os bancos e financeiras embutem isso na taxa de juros”, afirma Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive.
O comprador ainda precisa ficar atento ao fato de que modelos muito procurados, como hatches, sedãs e utilitários esportivos (SUVs), podem ter o preço inflado pela demanda.
O preço médio de um Honda Civic 1.8 manual 2011, por exemplo, aumentou 2,4% de abril a julho deste ano, e hoje está em R$ 41 mil, segundo dados da consultoria Molicar. Meizikas afirma que foi justamente a partir do segundo trimestre que a preferência dos compradores pelos usados começou a ficar mais clara.
Seguro
O preço do seguro também deve entrar na lista de itens a serem considerados pelo comprador. Em veículos populares, por exemplo, costuma sair mais em conta contratar um seguro para os carros de “segunda mão”. Uma simulação da corretora Minuto Seguros mostra que a diferença de superar os 50% entre um veículo novo e outro com oito anos de uso. É o caso do Fiesta 1.6 nos anos 2007 e 2015, cujos preços dos seguros ficam, respectivamente, em R$ 1.672,27 a R$ 2;527,50.
Analistas do setor, contudo, dizem que a idade do veículo não é o único fator a determinar o valor do seguro. Índice de roubo e quilometragem são informações que também entram na análise.
No fim das contas, o custo do seguro pode aumentar ou a seguradora pode até mesmo recusar o contrato. (O Estado de S. Paulo/Hugo Passarelli)