The Wall Street Journal
Com a decisão de encerrar a produção de veículos nos Estados Unidos, mercado dominado pelas gigantes globais do setor automobilístico, a Mitsubishi se tornou a segunda montadora de menor porte, depois da Suzuki, a migrar seus esforços de mercados maduros para economias emergentes, principalmente da Ásia.
Sexta maior montadora do Japão, com uma produção de cerca de 1,1 milhão de carros por ano, a empresa vai encerrar atividades de sua única fábrica americana, em Normal, Illinois. Ao mesmo tempo, constrói fábrica na Indonésia e deve iniciar neste ano a produção em outra, que comprou da Ford, nas Filipinas.
Outras montadoras pequenas adotaram uma estratégia semelhante, inclusive a Suzuki Motor Corp., que em 2012 suspendeu grande parte de suas operações nos Estados Unidos para se concentrar em países como a Índia, onde é líder de mercado. A Daihatsu Motor Co. foi outra que abandonou os EUA, 20 anos atrás, e deu prioridade à Indonésia e outros mercados.
“Temos uma longa história na Tailândia, Indonésia e Filipinas, um mercado maior comparado com outras regiões, e uma imagem de marca forte, o que são vantagens muito grandes”, disse Osamu Masuko, diretor-presidente da Mitsubishi Motors, numa entrevista ao “The Wall Street Journal” neste ano.
A população em expansão e o potencial de crescimento da região também são atrativos, disse ele. Além de mercados aquecidos como o da Indonésia, ele citou as perspectivas futuras em países como Myanmar, Camboja e Laos, que até hoje quase não fizeram parte da estratégia das montadoras globais.
A Mitsubishi Motors continuará vendendo carros nos EUA através de importações da Tailândia e Japão, uma medida que deverá elevar a lucratividade, segundo analistas, porque o iene desvalorizado está permitindo que as montadoras japonesas fabriquem veículos mais baratos em casa do que nos EUA.
A fábrica americana produziu, no ano passado, menos de 35% dos 222 mil veículos que foram produzidos no auge da empresa, no ano 2000, devido à queda nas vendas nos EUA e à retração das exportações para a Rússia. A Mitsubishi Motors informou ontem que vai atuar junto com o sindicato dos trabalhadores de montadoras, que representa os funcionários da fábrica de Illinois, para tentar encontrar um comprador.
“A realidade é que a escala da fábrica dos Estados Unidos é muito pequena perto das fábricas de outras empresas”, disse o diretor¬superintendente e diretor operacional da Mitsubishi Motors, Tetsuro Aikawa, durante uma coletiva de imprensa ontem. “Estava ficando claro que a fábrica não tinha uma racionalidade econômica”.
A mudança da Mitsubishi Motors ressalta a realidade econômica das montadoras menores, algumas das quais estão preferindo concentrar seus recursos financeiros limitados em mercados emergentes para atender a demanda de carros novos. Esse foco permite que as montadoras projetem e construam modelos mais adequados aos consumidores dos mercados selecionados. A montadora japonesa, por exemplo, está desenvolvendo um novo veículo compacto com múltiplas funções para a Indonésia, onde esses carros, de alta capacidade e baixo custo operacional, são populares.
Os mercados emergentes também tendem a ter menos concorrentes que aqueles maduros. Embora as montadoras japonesas, lideradas pela Toyota Motor Corp., estejam operando no Sudeste Asiático há décadas e dominem o mercado, as montadoras dos EUA e da Alemanha enfrentam dificuldades lá.
Na Indonésia, as montadoras japonesas juntas detêm cerca de 90% do mercado. Este ano, a General Motors Co. fechou sua unidade de montagem na Indonésia. Agora, ela mudou sua estratégia e vai se unir a um sócio chinês, o SAIC Motor Corp., em uma joint venture para produzir e vender minivans de baixo custo no país mais populoso do Sudeste Asiático.
Nos últimos anos, a Mitsubishi Motors ampliou seus esforços no Sudeste Asiático, que agora representa cerca de 20% das vendas globais anuais da montadora. A Tailândia, onde a Mitsubishi tem três fábricas, se tornou um centro exportador da empresa.
As ações da Mitsubishi Motors subiram 5,5% ontem, com os analistas dizendo que a empresa vai economizar ao encerrar a produção nos EUA. A Mitsubishi atualmente produz o modelo Outlander Sport na fábrica americana, mas ela planeja migrar a produção do carro para o Japão.
Masataka Kunugimoto, analista da Nomura Securities, estima que os custos de produção do Outlander Sport no Japão provavelmente seriam pelo menos 200 mil ienes (US$ 1.615) menores por veículo do que nos EUA, devido ao iene mais fraco.
Alguns analistas dizem que, se o iene se valorizar, a Mitsubishi Motors pode sair de vez dos EUA. “Se os níveis atuais do câmbio se mantiverem, a empresa pode continuar exportando” do Japão para os EUA, diz Koji Endo, analista do setor automobilístico da Advanced Research Japan. “Mas, no caso do iene se fortalecer de novo no futuro, há uma possibilidade de que não seja possível exportar”. (The Wall Street Journal/Yoko Kubota e Eric Pfanner)