Folha de S. Paulo
O governo já admite oficialmente que a volta do crescimento econômico ficou para o final do ano, e a equipe econômica teme agora que a agência de avaliação de risco Standard & Poor´s coloque a nota brasileira em perspectiva negativa, o que forçaria uma alta de juros brasileiros.
Na escala da S&P, o Brasil está apenas no último degrau do grau de investimento, atestado de bom pagador, com perspectiva neutra – que significa que não há motivos para que seja alterada.
A perspectiva negativa indicaria que ele poderia passar a grau especulativo em breve, o que faz com que investidores exijam juros maiores para compensar o risco.
Esse movimento se for confirmado, preocupa o governo Dilma também porque irá trazer mais pressão de alta para o dólar.
Segundo a Folha apurou, assessores presidenciais temem que a mudança da meta de superavit primário, de 1,1% para 0,15% do PIB (Produto Interno Bruto), possa alterar os planos da S&P.
Isso porque, ao fazer uma economia menor de recursos, o Brasil não conseguirá evitar que sua dívida pública cresça em relação ao PIB, o que, segundo os critérios usados pelas agências, significa menos capacidade de honrar empréstimos feitos.
O governo já estava preocupado com a revisão da classificação do país pela Moody´s, que ainda coloca o Brasil no segundo degrau do grau de investimento. A equipe econômica já dá como certo um rebaixamento, o que a colocaria no mesmo patamar da Standard & Poor´s, mas vinha trabalhando para que a Moody´s pelo menos classificasse a perspectiva da nota do Brasil em neutra, e não negativa.
Se cair para negativa, o país correria o risco de perder o grau de investimento também nesta agência em breve.
A perda do selo de bom pagador em duas agências é prejudicial para o país, porque investidores internacionais, como grandes fundos de pensão, ficariam impedidos de manter recursos investidos aqui.
Só no 4º trimestre
Ontem (27), após reunião da coordenação política com a presidente Dilma, o ministro Nelson Barbosa (Planejamento) afirmou que a recuperação da economia deverá ficar para o último trimestre deste ano, e não mais para o início do segundo semestre.
Oficialmente, o governo fala numa retração da economia de 1,5% em 2015, mas reservadamente teme que seja pior, podendo bater em 2%.
De acordo com Barbosa, a redução da meta fiscal é “compatível com a manutenção dos principais programas do governo”.
O ministro disse ainda que o Planalto não pretende usar as reservas internacionais.
“O governo não pensa em utilizar os estoques de reservas internacionais, que é um ativo que dá ao governo brasileiro maior autonomia na condução de sua política econômica”, completou.
Barbosa ressaltou ainda que vê sinais de recuperação em alguns setores da economia, como agronegócio e exportações, e que é “natural” que, com mudanças no cenário econômico, os preços flutuem e haja um aumento temporário da inflação, que deve ser reduzida no ano que vem.
“Estamos numa fase de reequilíbrio, numa fase de ajuste. Durante essa fase há um aumento temporário da inflação e uma redução da atividade econômica, com flutuação de alguns preços”, disse. Para ele, o importante é que a economia brasileira “absorva” essas flutuações sem grandes prejuízos. (Folha de S. Paulo/Valdo Cruz e Marina Dias)