No final da década de 1940, uma jovem empresa chamada Albarus recebeu da Ford a incumbência de fabricar um lote de mil cruzetas para reposição em caminhões e assim apoiar a incipiente indústria automobilística nacional. Esse pedido – o primeiro grande projeto da pequena oficina de precisão no Rio Grande do Sul – impulsionou e deu visibilidade ao negócio. Em 1955, por sugestão da própria Ford, iniciou uma parceria técnica que culminou no primeiro investimento fora dos Estados Unidos da antiga Spicer Manufacturing, que mais tarde se tornaria a Dana, parte de um processo de expansão mundial que acompanhou os movimentos da própria indústria automobilística.
De lá para cá, Dana e Ford estabeleceram incontáveis parcerias e inúmeros projetos bem-sucedidos, no Brasil e no mundo. O mais recente, porém, se transformou em um grande case de inovação: o desenvolvimento de uma junta homocinética para cardans que equipam as potentes picapes Ford Super Duty nos EUA. Acompanhando a chamada Guerra das Picapes, que precisam atender às necessidades crescentes de capacidade de transporte de carga com níveis de conforto e performance associados a automóveis, se definiam assim as condições que inspiraram um amplo passo na direção da inovação, demandando novos materiais e processos.
Conquistar este negócio demonstra não apenas competitividade, mas um total foco no cliente, com disposição para aceitar um desafio de quebra de paradigmas: na tecnologia de transmissão de força, ao substituir a tradicional junta dupla com cruzetas de picapes, até então necessária para as picapes mais robustas, por uma solução que deveria combinar potência, capacidade de transmitir força com conforto. E na concepção e realização de um projeto inovador como um todo, cuja produção não podia se beneficiar dos materiais, ferramentais ou equipamentos existentes. Novos problemas demandam novas soluções.
Para fabricar a maior e mais potente junta homocinética até aquele momento, a Dana, já responsável pelo fornecimento de um amplo pacote de peças para esta super picape, precisaria investir amplamente – e este investimento não podia inviabilizar o projeto. Por se tratar de um projeto totalmente novo, havia necessidade de pesquisa e desenvolvimento de materiais e de máquinas, ferramentas, novos moldes e processos para o forjamento, novos processos de usinagem e de montagem – tudo isso agrega complexidade para a cadeia de suprimento, custos e tempo. E é aí que começa a ser definida a opção global pelo desenvolvimento e produção no Complexo Industrial da Dana em Gravataí, que oferece condições especiais e únicas:
- Estrutura otimizada e verticalizada, combinando conhecimento na produção e desenvolvimento de forjados, juntas homocinéticas, usinagem e montagem desde a década de 1970;
- Capacidade de desenvolvimento, fabricação e implementação de equipamentos para uma nova linha de montagem com baixa dependência de mão de obra;
- Centro de desenvolvimento local para produção de componentes de borracha.
Não se tratava de um projeto simples – os desafios incluíam desenvolver compostos de borracha para a coifa de proteção da junta homocinética. As especificações iam além do que os compostos existentes eram capazes de atender. O desempenho correto em ângulos e temperaturas extremas – menos de 40º C – dependeram do desenvolvimento de uma composição exclusiva, que suportasse temperaturas interna e externas extremas, aumento de força, exigências de durabilidade e cargas pesadas.
O próprio processo de forjamento naturalmente tem várias idas e vindas, do projeto ao protótipo e testes. Ao combinar conhecimento com autossuficiência estrutural, foram obtidos melhores tempos de resposta para as mudanças inerentes a um desenvolvimento complexo – mantendo sob controle o orçamento e atendendo ao cronograma de lançamento, que envolvia outros componentes, parte do sistema de torque e tração integrado que a Dana fornece para a Ford.
A manufatura e montagem foi desenhada com a eficiência operacional como elemento crítico da excelência na manufatura, atendendo aos elevados requisitos de qualidade, com custos competitivos. Foi aplicada uma combinação de mão de obra seletiva e qualificada com automação estratégica, resultando em uma linha de produção enxuta e eficiente, desenvolvida internamente.
Há também o inegável apelo de um programa 100% dedicado à exportação, o que contribui para o melhor balanceamento dos negócios ao aliviar a dependência do mercado local. Como a Dana exporta em modelo intercompany, de Dana para Dana, conquistar e manter um negócio deste porte é também uma validação de competitividade e competência, que vai além dos estereótipos associados ao Brasil e contra todos os vetores que afligem a manufatura no País, da pressão inflacionária sobre os custos estruturais, energia, matéria prima e mão de obra, aos desafios tributários, além das próprias oscilações cambiais. Para isso, é preciso manter custos sob controle e a verticalização também ajuda a viabilizar e manter o projeto.
Desenvolver um programa complexo e desafiador desde a base e entregar estas juntas homocinéticas em larga escala e com altos índices de qualidade é um desafio que vem sendo superado graças a competitividade, flexibilidade e comprometimento do time de Gravataí, potencializado pelo trabalho integrado entre as operações no próprio complexo industrial, os times nos EUA e em proximidade com o cliente. Este produto inovador e estratégico, que potencializa o portfólio de soluções que a Dana oferece para seus clientes, surge como solução para um problema e define um novo patamar tecnológico no atendimento das necessidades crescentes do transporte de carga com conforto em picapes.