Alta na geração de energia solar insere Brasil em grupo seleto de potências

O Estado de S. Paulo

 

A geração de energia solar no Brasil acaba de atingir a marca histórica de 50 gigawatts (GW) de potência instalada operacional, segundo levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). De acordo com a entidade, nesse período o setor atraiu cerca de R$ 230 bilhões em investimentos, boa parte de recursos externos, e foi impulsionado pelo segmento de geração distribuída (quando a fonte está instalada perto do local de consumo, como nas residências), responsável por 33,5 GW desse total. Já as grandes usinas fotovoltaicas atingiram 16,5 GW este ano. Ao longo desse período, ainda, foram gerados mais de 1,5 milhão de empregos “verdes”.

 

Enquanto o País alcança novo marco de geração, governo eleva imposto de importação de placas

 

Com este novo marco, o Brasil entra no seleto grupo dos países que ultrapassaram 50 GW com a fonte solar, com China, Estados Unidos, Japão, Alemanha e Índia, que lideram nesta ordem o ranking global de potência fotovoltaica instalada.

 

A energia solar agora equivale a 20,7% da capacidade instalada da matriz elétrica brasileira, tornando-se a segunda maior fonte do País, atrás apenas das hidrelétricas, diz a Absolar.

 

Em geração efetiva de eletricidade, a fonte solar também tem se destacado, ultrapassando a geração eólica, segundo o mais recente Boletim de Operações do Operador Nacional do Sistema (ONS). No último domingo, a geração solar foi responsável por 14,29% (9,9 mil MW médios) do fornecimento de carga no País, enquanto a energia eólica, terceira maior fonte da matriz nacional, respondeu por 11,89% (8,2 mil MW médios).

 

Menos emissões

 

De acordo com a Absolar, desde 2012 a geração solar já evitou a emissão de cerca de 60,6 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera e gerou mais de R$ 71 bilhões de arrecadação em impostos aos cofres públicos.

 

O novo marco da geração solar foi alcançado no momento em que o setor trava um embate com o governo federal por causa de novo aumento do Imposto de Importação de módulos fotovoltaicos (painéis solares), de 9,6% para 25%, anunciado semana passada. Para a entidade, a medida impacta o avanço da tecnologia no Brasil, pois encarece a energia solar aos consumidores, dificultando o acesso à fonte solar pela população, justamente num momento em que o mundo trabalha para combater as mudanças climáticas.

 

“Por mais que os 50 GW sejam motivo de comemoração, a medida do governo, definida de maneira unilateral, sem ouvir a sociedade e o mercado, mancha a trajetória de sucesso da energia solar no Brasil e ameaça os investimentos atuais e futuros, com risco de aumento da inflação, perda dos empregos “verdes” já gerados e insegurança jurídica para as empresas que atuam no País”, diz o presidente do conselho de administração da Absolar, Ronaldo Koloszuk.

 

De acordo com mapeamento feito pela entidade, pelo menos 281 empreendimentos fotovoltaicos estão em situação crítica, envolvendo mais de 25 gigawatts (GW) e R$ 97 bilhões em investimentos em projetos que seriam entregues até 2026 – que iriam permitir a geração de mais de 750 mil novos empregos “verdes” e a redução de 39,1 milhões de toneladas de CO2.

 

“Saímos da COP-29, no Azerbaijão, e agora o Brasil se prepara para sediar a COP-30, em Belém, no Pará. No entanto, com essa medida contrária à energia solar, o País vai na contramão dos esforços de promover a transição energética e se distancia da posição de liderança e protagonismo na geopolítica do combate ao aquecimento global”, diz o presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia.

 

A entidade considera que a alta do imposto pode inviabilizar os projetos por completo, em razão da perda automática do financiamento vinculado ao empreendimento, trazendo alto risco na modelagem financeira de grandes usinas solares. O financiamento desses empreendimentos exige um padrão de certificação e qualidade nos equipamentos utilizados que as indústrias nacionais ainda não têm, o que obriga a compra dos equipamentos importados, agora sobretaxados.

 

“As duas únicas fábricas nacionais de módulos fotovoltaicos não possuem capacidade de suprir nem 5% da demanda nacional de painéis solares, pois têm capacidade de produção máxima de 1 GW por ano, ao passo que a demanda do mercado solar brasileiro em 2023 foi de mais de 17 GW”, diz a Absolar. (O Estado de S. Paulo/Denise Luna)