O Estado de S. Paulo
Dez megatendências globais poderão ditar o ritmo da transição energética do futuro. Essa é a conclusão do relatório preparado pelo Energy Center, braço de energia da MIT Technology Review Brasil, plataforma de conteúdo e tecnologia que está ligada ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts, tradicional universidade dos Estados Unidos.
O documento tomou como base os assuntos debatidos no Energy Summit, que discute anualmente os próximos passos da descarbonização e da sustentabilidade no Brasil e no mundo. Realizado no Rio de Janeiro em outubro, o evento reuniu representantes do governo, universidades, corporações, startups e investidores.
“As tendências revelam que a transição energética é uma grande oportunidade e deve ser conduzida com inteligência estratégica. Políticas públicas robustas e o envolvimento de outros setores, além do energético, serão essenciais para a implementação das inovações”, diz Hudson Mendonça, vice-presidente de energia e sustentabilidade da MIT Technology Review Brasil.
Para ele, o setor de energia está em constante modificação, a exemplo do que aconteceu com a internet desde o seu início, há três décadas no País. “É uma transformação forte rumo à descarbonização, mas existem várias rotas possíveis”, argumenta.
Das 10 megatendências levantadas pelo Energy Center, seis estão relacionadas à eletromobilidade e poderão contribuir decisivamente para a transição energética. “Elas indicam um movimento em que as tecnologias e os recursos serão fundamentais para o desenvolvimento de soluções sustentáveis”, diz Mendonça. Confira:
Captura de carbono
A prática tem o papel crucial de diminuir as emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, especialmente em setores industriais, como automotivo, siderurgia e petroquímico. Para isso, políticas públicas e investimentos em ações como captura e armazenamento de carbono (CCS) e captura direta do ar (DA) serão decisivos para a descarbonização.
“Ainda são tecnologias extremamente caras, mas ficarão mais acessíveis com a produção em escala”, destaca. Avaliado em US$ 2 bilhões em 2022, o mercado de captura de carbono deverá evoluir para US$ 50 bilhões até 2030.
Eficiência energética: IA E IOT.A indústria automotiva estuda meios de aplicar a Inteligência Artificial (IA) na produção de baterias e na otimização do uso do veículo eletrificado para emitir menos poluentes. De acordo com o relatório, a inteligência artificial, em combinação com a Internet das Coisas (IoT), pode revolucionar a eficiência energética.
Essas tecnologias estão sendo utilizadas em sistemas de monitoramento em tempo real e viabilização de infraestruturas industriais, o que reduz desperdícios e melhora o gerenciamento de redes elétricas. O Energy Center indica ainda que o mercado global de eficiência energética deve atingir cerca de US$ 154 bilhões até 2030.
Energia solar
A energia solar é uma realidade no setor automotivo. Absorvida por placas fotovoltaicas, ela é jogada para a rede que, em seguida, recarrega a bateria de veículos elétricos nos eletropostos. “Quando não estiver em uso, a bateria do carro é capaz de gerar energia para residências ou ligar aparelhos eletrônicos”, acrescenta Mendonça. A tecnologia também pode proporcionar novos modelos de negócios, como sistemas de assinatura e comunidades solares.
Armazenamento de energia
Graças ao aumento da demanda por fontes renováveis, o armazenamento de energia é, atualmente, um assunto muito importante quando se fala em descarbonização. Segundo Mendonça, o mercado global – que registrou US$ 10 bilhões em 2020 – deve crescer para US$ 55 bilhões até 2030, alavancado pelas baterias de íonlítio e de estado sólido. “A gestão do armazenamento ainda é crítica. Por mais que o processo de reciclagem esteja se desenvolvendo, o destino das baterias continua exigindo novos estudos”, destaca.
Hidrogênio verde
A fonte de energia está se consolidando como peça-chave na transição energética, com o hidrogênio verde ganhando destaque por ser produzido a partir de fontes renováveis. “Ele apresenta densidade energética três vezes maior que a gasolina e o diesel”, compara. Trata-se, porém, de uma solução dispendiosa. Mesmo assim, o executivo da MIT acredita que até 2050 o hidrogênio verde represente 25% da produção global de hidrogênio.
SAF
O combustível sustentável de aviação (SAF) surge como solução promissora para descarbonizar o setor aéreo. A produção global de SAF, que alcançou 300 milhões de litros em 2022, deverá representar 10% do combustível de aviação até 2030. Devido à expertise de fabricar biomassa – material orgânico que se transforma em energia –, o Brasil é apontado como possível protagonista mundial na produção de SAF. (O Estado de S. Paulo/Mário Sérgio Venditti)