O Estado de S. Paulo
As incertezas sobre o pacote de corte de gastos do governo fizeram com que o dólar chegasse a R$ 5,79 durante o dia, ontem, recuando no fechamento a R$ 5,76, alta de 0,o3%. A escalada acende alerta para alta da inflação. Com a disparada da moeda americana, ministros como Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil) saíram a público para dizer que o governo fará o ajuste. No mercado, a expectativa é de que o governo apresente cortes de despesas ao redor de 0,5% do PIB. A ministra Simone Tebet (Planejamento) afirmou que o pacote pretende ter impacto nas contas públicas em 2026. O ministro Luiz Marinho (Trabalho) rechaçou cortes no abono salarial e no seguro-desemprego.
O roteiro se repete no governo: o dólar dispara, o sinal de alerta sobre os efeitos desse aumento na inflação e nos juros preocupam, e a equipe econômica tenta destravar o pacote de cortes de gastos. Ontem, a moeda americana bateu R$ 5,792, mas fechou o dia em R$ 5,763, com alta de 0,3%, a maior cotação desde março de 2021. No ano, a valorização é de 18,83%.
Após o salto do dólar, ministros vieram a público para tentar acalmar o mercado. Pela manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reafirmou que a ideia é elaborar uma “fórmula adequada” para os cortes. “Assim como o arcabouço no ano passado dissipou as incertezas e a gente teve um ano excelente na sequência, com queda do juro, queda do dólar, ancoragem das expectativas, eu espero que aconteça a mesma coisa (agora).”
Haddad disse que entende a “inquietação” do mercado, mas que há “especulação” em torno das propostas. À noite, ele reclamou que havia “uma forçação boba” para que as medidas fossem divulgadas logo. “Não é assim que funciona.”
Também ontem, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou que o pacote a ser apresentado não tem compromisso com cortes em 2025, mas em 2026, último ano do mandato de Lula.
“Não precisa ser aprovado neste ano. A questão é porque o impacto não é para ser em 2025, é para ser em 2026. O que precisamos é apresentar ao País um pacote que dê conforto para o presidente da República, deixando claro que não vamos tirar nenhum direito.”
Mais cedo, com o dólar subindo, além de Haddad, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, saiu em defesa do ajuste nas contas.
“Quem apostar contra o Brasil vai perder, o presidente Lula vai fazer os ajustes necessários para manter o crescimento do País, assegurar investimentos e cumprir o arcabouço fiscal, enquadrando as despesas dentro das regras da meta fiscal”, disse Costa, em seu perfil no X, antigo Twitter.
Enquanto a decisão final não sai, o governo analisa fixar um limite de crescimento de 2,5% ao ano, sem contar a inflação, para as despesas que aumentam a um ritmo mais veloz, submetendo todos os gastos ao mesmo limite do arcabouço fiscal. HISTÓRIA REPETIDA. Em junho, logo após um forte movimento de alta da moeda americana, o Estadão revelou que a equipe econômica preparava um “cardápio” de medidas para reduzir despesas que seria apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quatro meses depois, as iniciativas amadureceram, mas ainda continuam restritas à cúpula do governo.
No mercado, a expectativa é de que os cortes fiquem em torno de 0,5% do PIB. (O Estado de S. Paulo/Mariana Carneiro, Daniel Weterman, Alvaro Gribel e Caio Spechoto)