FMI piora estimativas para dívida do Brasil

O Estado de S. Paulo

 

Um dia depois de melhorar sua previsão para o PIB brasileiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) traçou ontem um cenário negativo para as contas públicas do País, em meio a temores quanto aos riscos de uma crise fiscal. O organismo projeta que o peso da dívida pública no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro salte mais de 10 pontos porcentuais durante o atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E permanece cético quanto às chances de o governo entregar a casa em ordem, ou seja, com superávit primário ainda neste ano: para o Fundo, isso só deve ocorrer a partir de 2027.

 

O FMI estima que a dívida pública do Brasil como proporção do PIB avance de 83,9%, no fim de 2022 (último ano do governo Bolsonaro), para 94,7% em 2026 (data de conclusão do governo em curso). Se esse cenário se materializar, representará uma piora de 10,8 pontos porcentuais para o indicador.

 

A dívida bruta como proporção do PIB é considerada um dos principais indicadores de solvência de um país e é acompanhado de perto pelas agências de classificação de risco. Além disso, será o pior quadro fiscal no Brasil desde 2020, quando a situação das contas públicas foi agravada pelos gastos na pandemia de covid-19.

 

As novas projeções constam de relatório publicado ontem em paralelo às reuniões anuais do FMI, que acontecem nesta semana em Washington (EUA). Conforme o organismo, a deterioração fiscal será gradual no País. O Fundo vê o peso da dívida pública no PIB doméstico chegando a 87,6% neste ano, pior do que a sua estimativa anterior, de 86,7%, de abril último. Já no próximo ano, o indicador deve alcançar 92,0%.

 

Ao continuar se endividando, o Brasil seguirá em uma situação pior do que a de seus pares emergentes, cuja média estimada pelo Fundo é de 70,8%, neste ano, e de 75,0% em 2026. Levando em conta as projeções do FMI para 2024, a dívida do Brasil como proporção do PIB só perderá para a de países como China, Egito, Ucrânia, Bahrein e Argentina.

 

Metas fiscais

 

Pelo cenário desenhado pelo organismo, o Brasil não conseguirá voltar ao azul no atual mandato de Lula. Em 2026, último ano de sua gestão, o País ainda deve estar no vermelho, com déficit primário (antes do pagamento dos juros da dívida) estimado de 0,6%. A virada deve ocorrer somente a partir de 2027, quando é esperado que a equipe econômica entregue um superávit de 0,1% do PIB.

 

As projeções mais pessimistas do FMI vêm a público no momento em que a equipe econômica diz negociar com Lula um pacote de corte de gastos. A expectativa é de que essas medidas sejam anunciadas depois da volta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao Brasil. Ele está em Washington nesta semana para participar tanto das reuniões do Fundo quanto de compromissos relacionados ao G20, do qual o Brasil exerce a presidência neste ano. (O Estado de S. Paulo/Aline Bronzati)