Transporte Moderno
As vendas de caminhões elétricos no Brasil alcançaram crescimento de 57,7% até setembro deste ano, totalizando 369 emplacamentos — 135 a mais do que no mesmo período de 2022. O dado, divulgado pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos (Fenabrave), sugere um cenário otimista para o setor neste ano. No entanto, a trajetória de crescimento pode ser comprometida a partir de 2025 devido à inflação no preço da eletricidade.
A economista e sócia-diretora da consultoria MB Associados, Tereza Fernandez, destaca que o Brasil enfrenta desafios significativos relacionados à escassez de água e aos baixos níveis nos reservatórios de hidrelétricas. “A recente implementação da bandeira vermelha nas tarifas de energia, que aumentou em até 20% os custos, impacta diretamente o mercado de veículos elétricos, refletindo em aumentos nos preços de aquisição e operacionais”, alerta Tereza.
Além dos custos elevados, a introdução de caminhões elétricos no Brasil é dificultada pela infraestrutura insuficiente e pelo elevado tempo de carregamento. Enquanto o abastecimento com diesel é rápido, levando apenas 20 minutos, a espera para carregar um caminhão elétrico pode ser desproporcional, dificultando a viabilidade do uso para operações logísticas.
Gestão dos custos de energia
Diante desse cenário, a mistura de biocombustíveis com diesel surge como uma alternativa promissora, na visão da economista. Segundo Tereza, a Europa, que estabeleceu metas ambiciosas de eletrificação para 2030, já enfrenta dificuldades devido à guerra na Ucrânia, o que acentua as crises energéticas e pode ter reflexos no Brasil nos próximos anos.
“Os próximos passos para o setor de caminhões elétricos no Brasil exigem atenção e planejamento estratégico, com foco na construção de uma infraestrutura robusta e na gestão dos custos de energia”, avalia. Tereza complementa que o futuro do mercado dependerá de uma abordagem equilibrada que considere tanto a inovação tecnológica quanto as condições econômicas e ambientais do país.
Na visão do coordenador de cursos da FGV, Antonio Jorge Martins, a inflação do preço da energia elétrica impacta diretamente o custo de manutenção de carros, caminhões e ônibus elétricos, uma vez que a necessidade de recarga desses veículos se torna mais onerosa.
“Com o recente aumento nas tarifas de energia, o custo para carregar os veículos também se eleva, resultando em gastos superiores para os operadores, especialmente em um cenário onde a eletricidade é vital para a operação diária”, diz. Segundo Martins, para os veículos que ainda dependem de sistemas de recarga convencionais, o impacto financeiro é imediato e perceptível.
Baterias de estado sólido
No entanto, o professor avalia esperança no horizonte com a pesquisa em baterias de estado sólido, que prometem uma revolução na recarga e manutenção. “Essas novas tecnologias podem permitir uma “minirecarga”, que não apenas reduzirá drasticamente os custos operacionais, mas também aumentará a durabilidade das baterias”. Segundo Martins, aexpectativa é que, com essa inovação, o tempo de recarga e os custos associados sejam reduzidos significativamente, oferecendo uma solução mais econômica e eficiente para os usuários.
Entretanto, até que essa tecnologia esteja amplamente disponível — com previsão para 2028 ou 2030 —, os custos adicionais continuarão a pesar sobre o setor. “O impacto específico nos preços finais dos veículos ainda é incerto, uma vez que depende de diversos fatores, como a média de consumo de cada tipo de operação e as condições do mercado”, avalia.
Adicionalmente, a questão da energia elétrica e seus custos permanece em discussão. “O governo, atualmente, subsidia parte desses custos, mas a situação pode mudar, levando a um repasse de encargos financeiros ao consumidor final”, diz,
Martins acrescenta que as indefinições em torno do mercado energético criam um clima de incerteza, com riscos, como o de apagões, afetando a operação de frotas e o planejamento financeiro de empresas. (Transporte Moderno/Aline Feltrin)