Elevação de juros pelo BC já em setembro entra no radar do mercado

O Estado de S. Paulo

 

Após os últimos indicadores mostrarem uma economia aquecida e inflação se afastando do centro da meta (de 3%), cresce no mercado a expectativa de que a taxa básica de juros possa ser elevada já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marcada para o próximo mês.

 

Levantamento do Projeções Broadcast com 58 instituições financeiras mostra que 22 delas (ou 38%) esperam aumento da Selic em setembro. No levantamento anterior, de 6 de agosto, apenas uma de 45 instituições ouvidas esperava alta já no próximo mês.

 

Além disso, chama a atenção o fato de que, dessas 22 instituições que esperam alta em setembro, três projetam aumento de 0,5 ponto porcentual – o que levaria a taxa de juros dos atuais 10,5% para 11% ao ano. As outras 19 estimam aumento de 0,25 ponto. As demais 36 instituições acreditam que a taxa não sofrerá modificação na próxima reunião.

 

Outra mudança apontada é em relação à Selic no fim de 2025. Na pesquisa anterior, a mediana das respostas mostrava taxa de 9,5% em dezembro do próximo ano. Agora, esse número subiu para 10%.

 

A mudança no humor do mercado vem após declarações em tom mais duro, ao longo das últimas semanas, do presidente do BC, Roberto Campos Neto, e do diretor de Política Monetária da autarquia, Gabriel Galípolo (apontado pelo mercado como provável substituto de Campos Neto a partir de 2025). Indicadores como o IBC-Br (dado do BC que mede o nível de atividade econômica) em junho, que veio mais forte do que o esperado pelo mercado, e o relatório Focus, que mostrou previsão de inflação mais alta em 2024, reforçaram esse novo cenário.

 

Instituições como XP Investimentos, BTG Pactual, Banco ABC Brasil, Banco BV e Banco Master estão entre as que anteveem a retomada do ciclo de aperto monetário a partir de setembro. “O que realmente nos fez mudar o cenário-base para a taxa Selic foi a recente comunicação dos membros do Copom”, resumiu o time de economistas da XP, em relatório divulgado na segunda-feira. A corretora espera alta de 0,25 ponto em setembro, seguida nas reuniões seguintes de duas elevações de 0,50 ponto e uma última de 0,25 ponto, com a Selic atingindo 12% no início do próximo ano e ficando nesse nível até o fim de 2025.

 

A percepção é corroborada pelo economista-chefe do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier, que passou a projetar a retomada do aperto monetário em setembro. “O principal ‘driver’ foram falas mais cautelosas de Galípolo, de que a alta dos juros está na mesa do Copom.”

 

De outro lado, a economistachefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, reconhece que há um risco de alta, mas avalia que o cenário econômico está mais benigno em comparação ao exposto na última ata do Copom. “O cenário não se deteriorou e não vemos deterioração para justificar essa alta”, afirma, citando menor pressão no câmbio e o possível início de corte de juros básicos nos EUA. •

 

Sinais de economia aquecida e posição de integrantes do BC levam mercado a rever projeções

 

“Quase todos” os diretores do Fed, o banco central americano, julgaram que os dados da economia do país indicam que a inflação está convergindo para a meta de 2% ao ano, segundo a ata da última reunião da autoridade monetária, em 30 e 31 de julho, divulgada ontem.

 

O documento dá indícios de que o Fed deve começar a cortar a taxa básica de juros, hoje entre 5,25% e 5,50%, a maior em quase 25 anos, a partir do mês que vem. A próxima reunião ocorre nos dias 16 e 17 de setembro. A inflação, de acordo com o índice preferido do Fed, caiu de um pico anual de 7,1%, em 2022, para uma projeção de 2,9% neste mês.

 

Um corte de juros nos EUA favorece o Brasil, pois investidores deixam de apostar em títulos do tesouro americano, que são mais bem remunerados por juros mais altos lá, e passam a avaliar operações em Bolsas em países emergentes.

 

“Quase todos os participantes (da reunião do Fed) observaram que os fatores que contribuíram para a desinflação recente, provavelmente, continuariam a exercer pressão para baixo sobre a inflação nos próximos meses. Esses fatores incluíam um declínio contínuo do poder de precificação, crescimento econômico moderado e diminuição do excesso de poupança familiar acumulado durante a pandemia”, relata o documento.

 

A ata traz uma pista de o que o presidente do Fed, Jerome Powell, deve dizer no encontro anual dos dirigentes de bancos centrais dos EUA, amanhã, em Jackson Hole, Wyoming. No país, o Fed tem 12 seções espalhadas pelos Estados – são esses dirigentes que vão se reunir amanhã.

 

“Muitos participantes notaram que a moderação do crescimento dos custos trabalhistas à medida que as condições do mercado de trabalho se reequilibravam continuaria a contribuir para a desinflação, particularmente, dos preços dos principais serviços” não relacionados à habitação, como aluguéis.

 

Conforme o documento, os diretores também observaram que as expectativas de inflação de longo prazo permaneciam ancoradas.

 

De acordo com a ata do Fed, os dirigentes observaram que o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA foi sólido no primeiro semestre do ano, embora mais lento do que o ritmo do segundo semestre do ano passado.

 

No documento, o Fed citou que as compras domésticas pelas empresas, que geralmente dão um sinal melhor do que o crescimento do PIB, também foram mais moderadas no primeiro semestre. DISCURSO. A maioria dos analistas avalia que Powell vai sinalizar em seu discurso de amanhã que o Fed está confiante de que a inflação está voltando para sua meta de 2% e pode até dar alguma dica sobre quantos cortes de taxas poderão acontecer até o fim deste ano. O mercado prevê que uma redução de 0,25 ponto porcentual é o mais provável para setembro. (O Estado de S. Paulo/André Marinho e Patricia Lara)