Chevrolet Silverado High Country mostra como 23 anos evoluem um produto

Motor 1

 

“Silveraaaado! Che-vro-let!”. Se você leu isso cantando o clássico jingle dos anos 1990, sabe o que significa esse nome no mundo das picapes. Sucessora da importante C20 e D20, chegou no Brasil em 1997, com produção na Argentina, e deixou o país em 2001, já feita em São José dos Campos (SP) em uma fase fraca de vendas. Quase 23 anos depois, a Silverado voltou.

 

Dessa vez importada do México, é a mesma picape vendida nos Estados Unidos como Silverado 1500 – há as versões maiores, 2500 HD e 3500 HD, que já pediriam habilitação C ou D por aqui. O mercado brasileiro também é outro, com as picapes fullsize chegando de vez por aqui para clientes do mundo agro que não estão satisfeitos com as médias tradicionais topo de linha.

 

Do passado, só um nome

 

A Silverado High Country é a mais luxuosa da linha. Como na S10, este nome identifica a versão que tem toques de luxo que, aqui, quer justificar os R$ 537.850 pedidos – são R$ 229.860 de diferença para a S10 High Country. É imponente não só pelo tamanho, mas por um visual que, apesar de novidade por aqui, é datado de 2021 nos Estados Unidos, sendo a geração de 2018.

 

Além de seus 5.915 mm de comprimento (com 3.745 mm de entre-eixos), 2.063 mm de largura e 1.945 mm de altura, a Silverado tem um visual marcado pela grande grade dianteira cromada, que fica ainda mais destacada com a carroceria em preto, e que conversa com os faróis em LEDs e detalhes cromados espalhados, assim como a traseira com o estampado CHEVROLET acompanhado das lanternas em LEDs e saídas de escape cromadas.

 

É bonita e imponente por fora e trouxe luxo para o interior. Madeira, couro, alumínio e um bom gosto na escolha dos materiais deixam uma boa impressão. Os bancos são grandes, confortáveis e tem aquecimento e ventilação – se estiver frio, o aquecimento do volante e bancos ligam ao abrir as portas para o conforto do motorista. O painel tem 12″ e é de boa resolução, enquanto o sistema multimídia de 13,4″ é Google Built-In, ou seja, você pode baixar e logar aplicativos no lugar de espelhar – mas mantém Android Auto e Apple CarPlay sem fios, se preferir. Um Head-Up Display completa esse pacote junto com o retrovisor interno com câmera.

 

Lógico que com esse tamanho todo, espaço interno não seria problema. No banco traseiro, sobrou espaço para um bom porta-objetos embaixo dos assentos e até um “armário” nos encostos. O teto-solar não é panorâmico, algo que a Ford F-150 tem, só que como os ocupantes vão acomodados fará eles nem lembrarem de reclamar disso. Espaço para pernas sobra e os bancos tem até aquecimento junto com as saídas de ar-condicionado centrais.

 

Um V8 americano, mas não o do Camaro

 

A Chevrolet Silverado chegou ao Brasil com um 5.3 V8 a gasolina. Apesar de ser um motor da família LS, não é o LT1, o 6.2 que equipou o Camaro por aqui recentemente – o 6.2 da Silverado nos EUA é o L87, feito para picapes com 426 cv e 63,6 kgfm. O 5.3 é um L84, que pode desligar até quatro cilindros para economizar combustível, tem injeção direta de combustível, 2 válvulas por cilindro e variador de fase no comando único de admissão e escape, instalado no bloco. É um motor moderno, de 2019.

 

São 360 cv e 52,9 kgfm, com a vantagem de ser um motor preparado para o E85 norte-americano e já mais pronto para usar o nosso combustível com etanol. O câmbio é o automático de 10 marchas, aquele da parceria com a Ford, com tração 4×4 com função automática, 4×2 e reduzida. E como referência, a Ford F-150 tem 405 cv e 56,7 kgfm no 5.0 emprestado do Mustang. Guarde isso.

 

Em seus 2.505 kg e todo seu porte, a Silverado só não é o melhor carro para se usar na cidade pelo tamanho – além disso, veio com os retrovisores feitos para reboque pela legislação dos repetidores de setas e, além de muito grandes até para a Silverado, balançam e fazem muito barulho quando se passa em vias mais esburacadas. O câmbio de 10 marchas trabalha bem o torque do V8 aspirado e faz as trocas, além de uma forma suave, para entregar a força.

 

A qualquer toque do acelerador, a Silverado avança e aproveita o torque em baixa (com pico a 4.100 rpm) para parecer mais disposta do que os números podem entregar. Lógico que o escalonamento de marchas está nisso e o motor não precisa girar muito para o câmbio fazer as trocas. Apesar de não ter um modo ECO, o acelerador é fácil de dosar e a picape se torna dócil, diferente do que seu tamanhão poderia indicar.

 

Nisso, o consumo urbano foi de 6,1 km/litro, bem perto dos 6,2 km/litro da F-150, que é mais potente. A suspensão confortável é um convite a uma viagem, mas os 8,7 km/litro (melhor que os 8,3 km/litro da F-150) precisarão aproveitar dos 91 litros do tanque para rodar cerca de 790 km.

 

A direção e suspensão focaram no conforto. A caixa é longa e, apesar de facilitar na hora de manobrar, pede atenção no dia a dia além do próprio porte da Silverado. A suspensão, com as rodas de 20″, fazem ignorar qualquer coisa que esteja no asfalto no fora dele com maestria e suavidade, bem digno de um carro feito para o mercado norte-americano, tanto na cidade quanto na estrada.

 

Um nome forte, um nem tão novo cliente

 

É isso o que a Silverado se tornou depois de 23 anos fora do Brasil. Seu foco é conforto, tanto que a caçamba pode levar 1.781 litros, mas apenas 716 kg, praticamente a capacidade de uma picape compacta. Os bancos e a coluna de direção são elétricos, assim como os estribos que aparecem ao abrir as portas; o sistema de assistentes é completo, assim como sensores e câmeras para ajudar a manobrar; e dá para passar horas ao volante sem cansar.

 

Grande, imponente, vai de 0 a 100 km/h em 8 segundos, com retomadas entre 5 e 6 segundos em nossos testes – sim, mais lenta que a Ford F-150. Estradeira, basta cuidado na hora das curvas mais fechadas pois ela dobra a carroceria e pode sair de frente se abusar, e abusar bem pra isso. Mas seu foco não é esse, nem de perto.

 

Aquele que um dia teve a Silverado na garagem pode ver os R$ 537.850 como um atrativo, afinal, a vida dele também pode ter evoluído. Não ser a mais potente vai ser relevante para uma parte, mas longe de tornar a Silverado uma picape ruim. A chegada (ou a volta?) das fullsize trouxeram um cenário interessante ao nosso mercado para quem quer mais do que uma picape média turbodiesel topo de linha tradicional. (Motor 1/Leo Fortunatti)