Banco Central avisa que ‘não hesitará’ em elevar juro para conter inflação

O Estado de S. Paulo

 

A ata da mais recente reunião do Copom mostra que o Banco Central, apesar de ter mantido a taxa Selic em 10,50% ao ano, endureceu o discurso sobre a condução da política monetária. O BC avisou que “não hesitará” em elevar a taxa de juros para “assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”. Parte dos agentes de mercado acredita que o comitê deixou aberta a possibilidade de elevar os juros à frente. Ainda assim, a estimativa predominante é de manutenção dos 10,50% até o fim do ano. De 45 casas consultadas pelo Projeções Broadcast, 42 não mudaram estimativas. A ata não trouxe indicações para a próxima reunião, em setembro, mas diz que o cenário atual é “marcado por projeções mais elevadas e mais riscos para a alta da inflação” e que isso é “desafiador”.

 

O Banco Central endureceu o discurso sobre a condução da política monetária, ao dizer que “não hesitará” em elevar a taxa de juros “para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”. A mensagem está na ata referente à última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, que terminou com a manutenção da Selic em 10,5% ao ano.

 

A mudança de tom levou parte dos agentes de mercado a reconhecer que o comitê deixou uma porta aberta para uma possível elevação do juro à frente, como citaram casas como Bradesco e Itaú Unibanco, enquanto a XP Investimentos avaliou que a chance de alta da Selic “está subindo”. Ainda assim, a estimativa predominante no mercado é de manutenção dos juros no atual patamar até o fim do ano.

 

O texto da ata não trouxe nenhuma indicação para a próxima reunião do colegiado, em setembro. Mas diz que o cenário atual é “marcado por projeções mais elevadas e mais riscos para a alta da inflação” e que isso “é desafiador”. “O comitê avalia que o desenrolar do cenário será particularmente importante para definir os próximos passos de política monetária”, diz trecho da ata.

 

Segundo o documento, a avaliação é de que a política monetária se manterá contracionista por tempo suficiente em patamar que não só consolide o processo desinflacionário, como também a ancoragem das expectativas (ou seja, até que as estimativas do mercado fiquem mais próximas das metas oficiais). “O comitê, unanimemente, optou por manter a taxa de juros inalterada, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela.”

 

O BC e seu atual presidente, Roberto Campos Neto, têm sido alvo constante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que reclama da manutenção de juros altos. Lula também já acusou Campos Neto de “ter lado político” (ele foi indicado ao BC pelo ex-presidente Jair Bolsonaro) e de trabalhar “contra o Brasil”. Mas tanto a decisão da semana passada quanto o texto da ata tiveram o endosso de todos os diretores do BC, mesmo os já indicados por Lula.

 

A questão fiscal não foi deixada de lado no texto do BC. A ata destaca que a percepção recente do mercado traz impactos relevantes em ativos e nas expectativas. “O comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”. (O Estado de S. Paulo/Célia Froufe e Fernanda Trisotto)