Mercado prevê taxa básica de juros sem alteração até o fim deste ano

O Estado de S. Paulo

 

O comunicado da reunião de anteontem do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa Selic em 10,5%, gerou avaliações distintas no mercado financeiro. Enquanto parte dos agentes avaliou o tom da comunicação como mais austera (hawkish, no jargão do mercado) do que o anterior, alguns analistas aguardavam um posicionamento mais duro por parte do comitê, dada a deterioração das expectativas de inflação nos últimos meses e a pressão sobre o câmbio.

 

Ainda assim, o cenário não alterou a mediana das expectativas para o nível da Selic em 2024 (10,5%) e 2025 (9,5%). A maioria das casas (24 de 41 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, ou 58,5%) vê o juro inalterado até dezembro deste ano e retomada do afrouxamento monetário em algum momento de 2025.

 

A economista para Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho, avalia que o BC optou por uma estratégia de “falar menos” no comunicado da última reunião para não se comprometer com movimentos futuros.

 

Para 2025, a expectativa do BNP é de retomada do afrouxamento monetário, com a Selic

 

encerrando no próximo ano em 9,50% e nesse nível dentro do horizonte relevante, no primeiro trimestre de 2026. Laiz diz, porém, que o retorno do ciclo de queda da Selic deve acontecer mais próximo do meio do que do início de 2025.

 

Prognóstico

 

O economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, por outro lado, prevê que a Selic deverá ficar parada no atual nível até o fim de 2025.

 

Ele cita que o prognóstico está condizente com um ambiente de atividade doméstica resiliente, expectativas de inflação acima da meta e a avaliação do BC de que o juro em 10,5% ainda é restritivo.

 

Para ele, porém, é importante analisar como se dará o ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos, à medida que a retomada do ciclo de queda no juro americano se aproxima.

 

“Uma coisa é o Fed (Federal Reserve, o BC americano) cortar juro porque quer, outra coisa é cortar se precisa”, diz o economista, citando a possibilidade de a economia dos Estados Unidos desacelerar além do esperado.

 

Este cenário em que o juro americano precisa cair mais rapidamente que o previsto hoje pelo mercado tende, na avaliação de Sichel, a interferir na função do BC. Ele aponta que uma economia dos Estados Unidos que desacelera mais fortemente pode, por um lado, trazer riscos também para a atividade doméstica.

 

Possível alta

 

Embora ainda não esteja no cenário-base da maioria das casas, uma possível alta nos juros ainda neste ano está no radar de parte dos analistas.

 

Para o economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, há uma chance de 30% de haver elevação do juro básico em 2024, dada a “persistente fraqueza” da cotação do real em um ambiente de incertezas fiscais “remanescentes”.

 

O UBS BB também vê uma possibilidade de 30% de alta na Selic, mas já na próxima reunião do Copom, em setembro, como efeito do fator cambial e, principalmente, de um fiscal “aquém das expectativas” do mercado. (O Estado de S. Paulo/Daniel Mendes e Gabriela Jucá)