O Estado de S. Paulo
Depois de sete quedas consecutivas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve anunciar hoje a manutenção da taxa básica de juros em 10,50% ao ano. Essa é a previsão majoritária do mercado financeiro, embora algumas poucas casas ainda apostem em uma redução adicional (de 0,25 ponto) para, só então, a Selic parar de cair.
Do ponto de vista do mercado, mais importante do que a parada ou um corte adicional, explicam os economistas, é que a decisão seja unânime – depois da divisão na reunião de maio. Na ocasião, cinco diretores herdados do governo Jair Bolsonaro votaram pela redução da Selic em 0,25 ponto, enquanto os quatro indicados pelo atual governo votaram por queda maior, de 0,5 ponto. O placar levantou suspeitas de que poderia haver uma divisão política dentro do Copom, o que contribuiu para a piora das expectativas.
Segundo levantamento do Projeções Broadcast feito em 7 de junho, 43 de 50 instituições financeiras consultadas apostavam na manutenção da taxa em 10,50% ao ano. Pelo boletim Focus divulgado na segunda-feira, a mediana das expectativas já aponta que a Selic chegará a dezembro em 10,50% – ou seja, sem novos cortes neste ano.
Para o economista Sérgio Goldenstein, da Warren Investimentos, o BC tem cinco motivos para interromper os cortes. Além da piora do dólar, do aumento das expectativas de inflação e da necessidade de recuperar a credibilidade, após o racha da última reunião, ele entende que houve um agravamento dos riscos fiscais e foram divulgados indicadores mais fortes de atividade e do mercado de trabalho – o que tende a pressionar a inflação de serviços.
“Acreditamos que o Copom sinalizará a necessidade de política monetária mais restritiva do que a projetada anteriormente. Uma decisão consensual pela manutenção da Selic no atual patamar é essencial para que o Copom reconquiste sua credibilidade, evidenciando o caráter técnico de suas decisões. Isso abriria espaço para uma posterior reancoragem, ainda que parcial, das expectativas de inflação”, afirmou.
Já Eduardo Velho, estrategista-chefe da JF Trust, diz que o mercado e o BC ainda vão esperar pelo plano de corte de gastos que vem sendo sinalizado pela equipe econômica. “Afirmar que vai ‘observar o espaço de remanejamento de gasto’ é uma coisa; cortá-los, efetivamente, e reverter a tendência de piora do déficit fiscal de 2024 e 2025 é outra. E avaliamos que tem pouca probabilidade de sucesso”, afirmou o economista.
Entre as casas que ainda acreditam em uma nova redução de 0,25 ponto está o Bank of America. Ainda assim, o corte adicional seria o último do ano, de acordo com o economista David Beker. “A política monetária se mantém contracionista mesmo com a Selic caindo para 10,25%. Os juros reais em 12 meses permaneceriam próximos de 7,3%, muito acima da taxa neutra de 4,5% calculada pelo BC. Enfatizamos a importância de uma decisão unânime, o que ajudaria o Banco Central a recuperar a credibilidade”, disse Baker, em relatório.
Fatores externos
O cenário externo também tem forte influência sobre a decisão do BC brasileiro. Se no fim do ano passado as apostas eram por vários cortes de juros por parte do Federal Reserve (Fed, o BC americano), agora o cenário mais provável passou a ser de uma única redução, em dezembro.
Dados mais fortes de atividade por lá, assim como indicadores de inflação ainda longe da meta de 2%, adiaram o início da redução dos juros, que se encontram no patamar entre 5,25% e 5,50%. Os juros altos nos EUA por mais tempo atraem investimentos em renda fixa nos EUA e fortalecem o dólar globalmente.
Pelas contas do economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, as incertezas internas impulsionaram essa piora e foram responsáveis por mais da metade da alta do dólar sobre o real neste ano, como mostrou o Estadão. (O Estado de S. Paulo/Alvaro Gribel)