Inflação de 0,46% em maio faz mercado prever freio na Selic

O Estado de S. Paulo

 

Já refletindo os primeiros impactos das enchentes no Rio Grande do Sul sobre alguns preços de alimentos, a inflação oficial no País acelerou para 0,46% em maio, ante alta de 0,38% em abril, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

A pressão sobre os preços reforçou a avaliação no mercado de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve interromper o corte da taxa básica de juros (Selic) na sua reunião da próxima semana. “A resiliência da inflação de serviços corrobora nossa visão de que não há mais espaço para o Banco Central cortar juros neste ano”, projetou a economista sênior do C6, Claudia Moreno, em comentário. “Acreditamos que o Copom interromperá o ciclo de cortes de juros na reunião da próxima semana”, completou, lembrando que houve tanto piora recente do câmbio quanto das expectativas para a inflação. O C6 Bank prevê IPCA de 4,7% neste ano, além de taxa básica de juros estável nos atuais 10,50% ao ano até o fim de 2024.

 

O resultado da inflação ficou no teto das estimativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que previam aumento entre 0,32% e 0,46%, com mediana positiva de 0,40%. Como consequência, a taxa acumulada pelo IPCA em 12 meses avançou, após sequência de sete meses de arrefecimento: ela foi de 3,69%, até abril, para 3,93% até maio, ante uma meta de inflação de 3,0% perseguida pelo BC em 2024 (com teto de tolerância de 4,50%).

 

Para 2024, a Tendências Consultoria Integrada espera inflação de 3,8%, seguida de elevação de preços de 3,9% em 2025, em um ambiente que inclui o real mais depreciado ante o dólar e o mercado de trabalho ainda aquecido.

 

“Embora as variações de curto prazo permaneçam moderadas, há possibilidade de pressões mais persistentes sobre os preços de alimentos e serviços, o que imporia risco altista para a projeção de 2024”, avaliou Matheus Ferreira, analista da Tendências, em nota.

 

Em maio, houve pressão sobre preços de alimentos, energia elétrica, passagem aérea, plano de saúde e combustíveis. As chuvas no Rio Grande do Sul já provocaram o encarecimento de alguns alimentos, mas ainda podem respingar também em produtos industriais, confirmou André Almeida, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE. “A situação que está sendo vivida em Porto Alegre afetou cadeias produtivas, a estrutura logística do Estado e a produção de alimentícios”, enumerou.

 

No caso dos alimentos, os destaques foram as altas nos preços da batata-inglesa (20,61%), cebola (7,94%), leite longa-vida (5,36%) e café moído (3,42%). (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim)