‘Brasil tem grande potencial para carros voadores’

O Estado de S. Paulo/Mobilidade

 

José Ignacio Rexach Vega, diretor comercial na Europa e América Latina da EHang, fabricante chinesa de carros voadores, visitou a Expo eVTOL, realizada em São Paulo em maio, e gostou do que viu.

 

Depois de participar de muitas reuniões e fóruns, concluiu que o mercado brasileiro tem muito potencial para absorver as aeronaves, que devem revolucionar a mobilidade urbana mundial.

 

Vega está otimista com o novo cenário do eVTOL (veículos elétricos de decolagem e pouso verticais) que começa a se formar, conforme revelou na entrevista ao Mobilidade.

 

Depois de comparecer à Expo eVTOL, que balanço o senhor faz sobre o interesse do brasileiro pelos chamados carros voadores?

O entusiasmo é tão grande que, provavelmente, o evento será desmembrado em dois já em 2025. A demanda global tem acompanhado o nível do desenvolvimento das aeronaves e no Brasil não é diferente. Esse sentimento reflete a conscientização por uma mobilidade mais sustentável e segura.

 

Mas, na prática, qual é o potencial desse mercado?

Estamos falando de um mercado que, segundo estimativas, poderá movimentar US$ 1 trilhão até 2040, com serviços, locomoção de passageiros e atividades logísticas. Além disso, há a parte de suporte técnico e o pós-venda no mundo todo. No Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro juntas representam uma carteira de vendas de 10 mil unidades, com receita potencial de US$ 7,3 bilhões até 2040. Em um cálculo preliminar, uma viagem de 30 quilômetros deverá custar US$ 100 por pessoa. A redução será gradual com o avanço da tecnologia e aumento da demanda.

 

A operação do eVTOL no Brasil não corre o risco de esbarrar na burocracia, na demora da aprovação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil)?

A homologação nunca é um processo rápido. Onde não há indústria aeronáutica é ainda mais complicado, porque as autoridades demoram para entender a complexidade do projeto. Felizmente, não é o caso do Brasil. Europa, Japão e países do Oriente Médio também estão nas etapas de homologação. A China enfrentou um longo caminho até que o eVTOL fosse autorizado a operar. A burocracia existe em todos os países, é natural porque estamos diante de uma tecnologia totalmente inovadora.

 

As empresas do setor estão em entendimento com a Anac para acelerar a certificação?

Eu mesmo já me reuni com representantes da Anac, estamos conversando há muitos meses e eles estão completamente familiarizados com a tecnologia. Acredito que, até o fim do ano, a Anac homologará os carros voadores no País, o que permitiria iniciar os voos em 2025. Os congestionamentos são tão pesados que precisamos urgentemente oferecer outros meios de transportes sustentáveis. É uma questão de necessidade.

 

A seu ver, o usuário brasileiro vai aderir ao carro voador no primeiro momento ou verá o veículo com certa desconfiança?

Há experiências que só podem ser vividas a bordo de um eVTOL, que apresenta agilidade e rapidez na eletromobilidade urbana. Tenho convicção de que o mercado vai se multiplicar rapidamente. Basta amadurecer um pouco mais e ganhar confiança.

 

Mesmo sem a permissão para voar, as fabricantes já enfrentam muita concorrência para vender seus equipamentos no Brasil?

A EHang é a primeira fabricante de eVTOL do mundo e apostamos na nossa experiência. Não considero, por exemplo, a Eve Air Mobility, braço da Embraer, uma concorrente direta. Com autonomia de 30 quilômetros, nosso eVTOL tem vocação e transporta uma pessoa. O da Eve é para distâncias maiores, leva quatro passageiros e voa 200 quilômetros com a carga completa das baterias.

 

Como a EHang está atuando no Brasil?

A empresa Gohobby negocia nossas aeronaves no País. Até o fim de maio, ela tinha 15 encomendas e, em um dos dias da Expo eVTOL, fez duas vendas. No Brasil, nosso carro voador custa aproximadamente R$ 3 milhões. Globalmente, a EHang entregou 263 unidades da série EH216 no primeiro quadrimestre.

 

Há outras parceiras da EHang no mundo?

Mantemos um acordo com a estatal chinesa Guangzhou Automobile Group (GAC) no sentido de fortalecer a capacidade de produção inteligente do eVTOL da EHang. No ano passado, o GAC ficou em 49º lugar entre as 500 maiores empresas chinesas e seu trabalho abrange as áreas de investigação e desenvolvimento, veículos, componentes, comércio e viagens, energia e ecologia, internacionalização e investimento e finanças. Isso nos ajuda a aplicar mais know how no desenvolvimento do EH216. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Mário Sérgio Venditti)