Renault Oroch Iconic 1.6 MT é picape de trabalho com algo a mais

Motor 1

 

No mercado desde 2015, a Renault Oroch foi a primeira picape intermediária do país, poucas semanas antes da Fiat Toro. Com quase 10 anos de loja, a picape é chamada de veterana, mas não passou por grandes mudanças desde então, nem mesmo as melhorias que o Duster recebeu em 2020.

 

Dentro do segmento, a Fiat Toro mudou bastante nesse tempo, além da chegada recente da Chevrolet Montana para essa briga. Então como a Oroch se segura nas vendas? Apostando em custo/benefício interessante, como esta nova versão que foi apresentada em março, a Oroch Iconic 1.6 manual, que custa R$ 129.490 e com uma boa lista de equipamentos de conforto vindos da versão mais cara, Outsider.

 

Altos e baixos nos equipamentos

 

A versão Iconic 1.6 MT da Renault Oroch está mais próxima da versão topo de linha, Outsider 1.3 turbo CVT, do que a básica PRO 1.6 manual. Então ela traz alguns itens interessantes, como sensor de chuva, start-stop, acendimento automático dos faróis, ar-condicionado automático, vidros elétricos traseiros (sim, é algo digno de nota mesmo nessa faixa de preço) e controle de cruzeiro.

 

Mas em outros pontos não deixou de ser um carro de 2015. Quer airbags? Tem dois, os frontais obrigatórios por lei. Outro item muito característico é a regulagem do volante, somente em altura e sem profundidade. O painel analógico com uma pequena tela de computador de bordo e o velocímetro de LCD, conjunto herdado do finado Captur, também está caindo em em desuso. O anacronismo continua com a regulagem da altura dos faróis feita por cabo, como no Kwid, e a direção com assistência eletro-hidráulica, não elétrica.

 

E não muito mais o que salientar na lista de equipamentos de série que não seja o mínimo para atender a legislação ou o mínimo para não ficar para trás das rivais. A versão Iconic ainda tem rodas de 16″ com acabamento diamantado bicolor e alguns detalhes em laranja na cabine, mas só. Ou vocês realmente querem que eu destaque trio elétrico em um carro de R$ 130 mil? Ok, tem central multimídia com tela de 8″ e espelhamento sem fio, mas não passa muito disso.

 

A mecânica é composta pelo motor 1.6 16V SCe da Renault, bem mais novo que a Oroch. É aspirado, tem variador de comando de válvulas apenas para admissão e injeção indireta de combustível. Ele é capaz de entregar até 120 cv de potência e 16,2 kgfm de torque quanto abastecido com etanol. E para o torque fica o adendo: o pico acontece a 4.000 rpm. Até mesmo a transmissão manual de 6 marchas é um lembrete de outros tempos. Se você quiser o automática tem que investir mais para a versão topo de linha Outsider (R$ 153.790) com motor turbo – não há o 1.6 com o câmbio CVT na Oroch, presente no Duster.

 

Nas medidas, a Oroch tem 4.700 mm de comprimento, 2.829 mm de entre-eixos, 1.821 mm de largura e 1.631 mm de altura. A caçamba, grande diferencial de qualquer picape sobre um SUV equivalente, tem 683 litros de capacidade apenas, porque é rasa. É menor até que de uma Fiat Strada, que tem 844 litros. A capacidade de carga é a mesma entre as duas: 650 kg.

 

Torci o nariz, não deveria

 

Sempre tive pra mim que a Renault Oroch é um carro que você deveria comprar na versão mais básica, a PRO com os parachoques pretos e rodas de ferro (R$ 118.490). Então a proposta de valor da versão Iconic não estava clara pra mim, principalmente porque a configuração não tem opção de câmbio automático.

 

A Oroch visualmente parece um carro desatualizado. A frente do antigo Duster e a luz diurna com lâmpada halógena entregam a idade. Só que a Oroch Iconic custa menos que uma Strada Ultra/Ranch completa (R$ 136.990). A compacta da Fiat que mais se aproxima do preço é na versão Volcano 1.3 automática (R$ 124.990), mas qualquer Strada perde para a Oroch em um quesito fundamental para as picapes que se vendem como carros de passeio: espaço no banco traseiro.

 

Enquanto a Strada tem um espaço similar ao de um Mobi para quem vai atrás, a Oroch não tem a fartura encontrada no Duster, mas ainda é muito melhor que a rival da Fiat tanto no espaço para pernas quanto para os ombros. A Renault ao menos deu um tapa no painel, que não parece tão barato quanto as primeiras interações da Oroch no Brasil. Ainda é plástico, mas engana bem se você não tocar muito as superfícies.

 

E não tem muito o que acrescentar sobre o interior. Faz falta o ajuste telescópico do volante, mas ainda é possível encontrar uma posição relativamente confortável. Os botões são fáceis de usar, mas a pequena telinha de computador de bordo acima do velocímetro já poderia ter mudado. A multimídia funciona bem, apesar de não muito rápida. O que incomodou sobre ela é a demora com a qual se conecta a aparelhos via conexão sem fio. Algumas vezes foi preciso refazer a conexão do zero.

 

E dirigindo? Pelo menos a Oroch é bem confortável, auxiliado pela suspensão independente traseira (que Strada e Montana não têm) e o entre-eixos alongado. Dentro de sua simplicidade, é um carro até gostoso de dirigir. Ia fazer menção ao câmbio manual, por conta dos engates mais precisos que de anos anteriores da picape, mas, principalmente em conjunto com o start-stop, engatar a primeira com o carro parado foi por vezes difícil e recorri à manha que usava no meu Fusca: engatar segunda e depois a primeira marcha, aí ela engatava.

 

A assistência eletro-hidráulica, confiem em mim, já foi pior. Apesar da melhoria, ainda é mais pesada que em rivais com direção elétrica. Na estrada, ruídos de vento e dos pneus ficam evidentes, porém não chegam a incomodar. A 120 km/h, o conta-giros fica em cerca de 3.000 rpm, o que é bom para um motor aspirado.

 

Mas a entrega de potência da Oroch 1.6 não é só alegria. O modo ECO deixa o acelerador extremamente anestesiado, enquanto o normal é um tanto arisco nas saídas. Aí te leva a acreditar que a picape anda bem, mas não é bem assim. Passando das 2.500 rpm, parece que há um hiato na entrega de potência, que volta passando das 4.000 rpm. Provavelmente algo relacionado às emissões de poluentes.

 

O mesmo vale para a resposta do acelerador na estrada: a 120 km/h, você vai precisar reduzir marcha se quiser ultrapassar alguém, pois a resposta em sexta marcha é lenta. Além disso, você pode ficar quicando o acelerador pra cima e pra baixo que ele não vai responder nas velocidades mais altas.

 

Se o desempenho não é o forte, ao menos o consumo impressionou. O InMetro declara um consumo de 7,4 km/l com etanol na cidade e de 8 km/l com o mesmo combustível na estrada. Em nossos testes, com o combustível vegetal, registrou 7,7 km/l e 10 km/l, respectivamente.

 

Até aqui parece que a Oroch Iconic receberia um grande “não obrigado” de minha parte, só que não é bem assim. Ela é maior – e até mais barata – que uma Strada, mais equipada que a Montana equivalente em preço – menos nos itens de segurança…- e bem mais barata que a Toro mais em conta. Você tem que fazer concessões severas, principalmente por ter apenas 2 airbags e um desempenho apenas ok.

 

Mas vamos lembrar da turma que acredita em “o que não tem, não quebra”. A Oroch não tem turbo, não tem injeção direta, não tem um monte de eletrônica embarcada e, portanto, tem menos chances de dar dor de cabeça no longo prazo. Os equipamentos a mais da versão Iconic deixam uma impressão menor de se estar em um carro de trabalho, mas mantêm a funcionalidade de uma picape de passeio. A Renault sabe que Oroch não entrega tudo, mas pelo menos não cobra a mais por isso. (Motor 1/Thiago Moreno)