Seitz, da VW, sobre chineses: “Quando começarem a produzir aqui, acaba a alegria”

AutoIndústria

 

Recém-chegado de Detroit, Estados Unidos, onde foi negociar a compra de peças para suprir o desabastecimento provocado pela chuvas do Sul, o chairman executivo da Volkswagen na América do Sul, Alexander Seitz, conversou com jornalistas antes do início do The One, evento de premiação dos melhores fornecedores da montadora na região.

 

Questionado sobre vários temas, o executivo apenas não revelou a data de lançamento do primeiro híbrido a etanol da marca no País. No mais, conversou de tudo um pouco, de fornecedores e das chuvas no Rio Grande do Sul até a invasão atual dos carros chineses.

 

Disse ser a favor de mercado livre, mas sem subsídios de governo como acontece na China. Sobre o aumento da venda de modelos vindos do país asiático, principalmente os elétricos, para o Brasil, Seitz foi bem objetivo:

 

“Quero os chineses aqui, produzindo aqui com os custos do Brasil. Daí quero ver se a alegria continua como agora. A alegria acaba”.

 

Ele comentou que, no setor, o caos é o normal. Seja por conta de uma chuva como a do Sul do Brasil, seja por qualquer outro imprevisto: “Temos de ter sempre alternativas para manter produção. Não quero importar 80% de peças, mas também não quero depender só de fornecimento local”.

 

Como vice-presidente de Compras, Seitz esteve no Brasil entre 2008 e 2013, quando foi nomeado vice-presidente executivo Comercial da SAIC Volkswagen Automotive, em Xangai. Voltou para o Brasil em 2022 já com o cargo atual.

 

Como ele mesmo admite, muita coisa mudou no período em que esteve fora. “Naquela época a globalização já existia. Hoje, o que vemos é a desglobalização”.

 

Na sua avaliação, as quatro maiores regiões — Ásia, Europa, América do Norte e América do Sul — começam a se proteger. Nesse contexto, o Brasil tem de reconhecer algumas deficiências, como o fato de não ter tecnologia para carro autônomo, incluindo sistemas de segurança e eletrônicos, e não produzir baterias.

 

Relação com fornecedores

 

A Volkswagen tem hoje mais de 1 mil fornecedores produtivos e outros 600 de compras gerais. No ano passado, suas compras atingiram algo próximo de R$ 11,7 bilhões, acompanhando o crescimento das vendas.

 

A partir de agora, com a chegada dos modelos híbridos, Seitz estima que haverá um acréscimo em compras de 5% a 10% ao ano, sem considerar crescimento decorrente de volumes. É que essa nova tecnologia vai exigir a aquisição adicional de peças e componentes hoje não ofertados por aqui.

 

O chairman da Volkswagen diz que a montadora segue firme no processo de nacionalizar peças para os modelos eletrificados que lançará no Brasil. Segundo ele, a receptividade tem sido muito boa.

 

“Grandes empresas multinacionais, como a Bosch, já têm tecnologia similar lá fora e fica mais fácil para desenvolver e produzir aqui. As fabricantes brasileiras talvez tenham de fazer parceria com empresas de fora, tipo joint-venture com alguma chinesa ou de outro local. Mas temos sentido interesse da cadeia produtiva brasileira de participar dos novos projetos”, explicou o dirigente da VW.

 

A montadora investe R$ 16 bilhões no País de 2022 a 2028, prometendo daqui até lá ainda 16 lançamentos no período, o primeiro o novo T-Cross, apresentado em São Paulo na quarta-feira, 16.

 

Sobre a relação com os fornecedores, se hoje é mais tranquila do que na época em que foi VP de Compras no Brasil, Seitz diz que “tranquila não é”. Mas admite que o quadro agora é bem mais saudável, com melhorias principalmente em qualidade e prazos de entrega: “O relacionamento comercial é menos tenso”, reconhece.

 

O executivo também falou da taxação pelos Estados Unidos de 100% para os carros elétricos chineses e de maior imposto para o aço vindo daquele país.

 

Ele admite que parte do que iria para o mercado estadunidense pode vir para o Brasil, mas disse que no caso da indústria automotiva a compra de aço envolve um processo de homologação que leva pelo menos seis meses. Ou, seja, não há risco desse aumento ocorrer de imediato no caso do setor. (AutoIndústria/Alzira Rodrigues)