AutoIndústria
A Caoa Chery arrumou uma boa e desejada sarna para se coçar. Como atender em prazo razoável, a ponto de não perder vendas, tantos consumidores interessados em comprar o Tiggo 7 Sport, versão mais barata do SUV médio lançada no fim fevereiro?
Para sorte da concorrência, a resposta, ao que parece, a empresa ainda não tem. AutoIndústria ouviu de três concessionárias da marca que o menor prazo para a entrega do SUV, após sinal imediato de R$ 5 mil, era de 90 a 100 dias.
Mas ponderaram que a própria montadora sugere informar que a espera pode chegar a até seis meses. Procurada, a Caoa Chery não se manifestou.
Na melhor das hipóteses, portanto, quem encomendar a Sport, que custa R$ 135 mil — R$ 35 mil mais barata que a Pro MaxDrive — precisará de muita paciência, o que nem todos os consumidores têm e, muitas vezes, acabam migrando para outro produto e marca.
Só em abril foram licenciadas 3 mil unidades do Tiggo 7 X, contra 1,7 mil em março. Em fevereiro, ainda sem o efeito “Sport”, o SUV teve somente 522 emplacamentos.
No primeiro quadrimestre, são 5,9 mil unidades entregues aos clientes finais, o quádruplo de igual período do ano passado, e que já colocam o modelo como o 15º SUV mais vendido no País — 12º lugar em abril, com o dobro dos licenciamentos dos badalados BYD Song Plus e GWM Haval H6.
O sucesso do Tiggo 7 Sport perfila com a robusta retomada das vendas da própria marca. Quando se passa a régua nas vendas totais de 2024 até abril, fica evidente salto de nada menos do que 310%.
Além da fraca base de comparação, contribuíram para esse desempenho turbinado o Tiggo 8, cujas vendas avançaram 27%, mas ainda mais o SUV compacto Tiggo 5X, modelo mais em conta que passou de 1,6 mil licenciamentos nos primeiros quatro meses de 2023 para 9,2 mil, quase seis vez mais!
Os 18,1 mil Caoa Chery negociados no último quadrimestre já equivalem a praticamente metade do total vendido pela empresa em 2021 — 39,7 mil veículos —, melhor resultado desde que o Grupo Caoa adquiriu as operações industriais e comerciais da parceira chinesa, em novembro de 2017.
É um cenário antagônico do que há exatamente um ano. Depois de uma transição conturbada no comando da empresa, com saída dos principais executivos do primeiro escalão no fim de 2022 e a ascensão Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho a CEO, a Caoa Chery ingressou em um período de declínio de vendas.
Os negócios com os produtos fabricados em Anápolis haviam despencado para menos da metade na comparação entre os primeiros quadrimestres de 2023 e 2022 — isso em um mercado que crescia 13% na mesma época —, com a participação da Caoa Chery declinando quase dois terços, de 3,1% para 1,3%.
A Caoa Montadora argumentava então que o drástico recuo devia-se à renovação do portfólio de produtos, com a exclusão de quatro modelos, inclusive o de entrada 3X, e a hibridização dos demais, o que implicava em preços médios mais elevados.
De qualquer maneira, o desarranjo seguiu também pelo segundo semestre a ponto de a marca encerrar 2023 com 1,4% do mercado de automóveis e comerciais leves, mesmo patamar do primeiro quadrimestre.
Com 31,5 mil veículos vendidos, ficou abaixo de 2022 e até de 2021, um ano ainda fortemente impactado por dificuldades logísticas e de fornecimento de componentes decorrentes da pandemia.
O cenário bem menos nebuloso de 2024 começou ser descortinado ainda nos últimos meses de 2023. Em agosto, a empresa confirmou ao governo federal a contratação de 800 funcionários, número equivalente a 40% do então quadro de trabalhadores, e plano de investimento de R$ 3 bilhões para os próximos cinco anos.
Segundo Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho, o aporte privilegiará aumento da produção e desenvolvimento de novos produtos.
Anápolis completou 17 anos com declarada capacidade instalada de até 150 mil veículos anuais. Montou somente 26,3 mil em 2023, com ínfima parcela ainda de modelos Hyundai, que já não mais são produzidos lá.
Mas mesmo em 2021, ano em que a linha de montagem mais trabalhou, alcançou 46,7 mil automóveis e comerciais leves das marcas Chery e Hyundai, praticamente um terço da capacidade plena.
Simultaneamente, Caoa Montadora e Chery precisam resolver o destino da fábrica de Jacareí, SP, onde foram fabricados os modelos Celer, Arrizo 5 e 6, Tiggo 2 e Tiggo 3X. Inaugurada em 2014, está fechada desde maio de 2022.
À época, a medida foi justificada como uma etapa necessária para adequação da planta para produção veículos elétricos e eletrificados a partir de 2025, e que Anápolis aceleraria sua linha para fabricar 60 mil veículos ainda naquele ano.
Desde então, entretanto, a fábrica do Vale do Paraíba serviu como base apenas para recebimento e preparo para distribuição dos modelos importados.
Nos últimos meses, a Omoda-Jaecoo Brasil, empresa formada por duas das marcas da Chery, tem afirmado que negocia com a Caoa Montadora a fábrica de Jacareí para lá fabricar seus SUVs, que já começaram a chegar ao mercado brasileiro importados. (AutoIndústria/George Guimarães)