Profissionais de diversas áreas pegam carona na chegada de carros elétricos

O Estado de S. Paulo

 

Em meio aos desafios ambientais, o mercado de carros elétricos e híbridos surge como uma alternativa no setor automotivo para frear os efeitos da emergência climática no mundo. Com isso, está havendo um aumento na busca por profissionais que tenham aptidão para atuar no segmento.

 

De forma geral, quem trabalha diretamente com tecnologias híbridas e elétricas no País veio da indústria automotiva tradicional: engenheiros (mecânicos, eletricistas e da área de produção), administradores, relações-públicas e profissionais de marketing. Não há necessariamente a criação de novos cargos, mas, sim, uma adaptação.

 

A transição para o ramo da eletrificação também demanda investimentos em habilidades complementares. “Precisamos que a pessoa chegue com bagagem técnica. Os acabamentos do carro, pneu, roda e toda parte de estrutura do veículo são praticamente as mesmas.

 

Então, você traz profissionais que dominam esses conhecimentos e vamos agregar algumas skills (habilidades) ”, diz Gabriel Perucci, head de RH da GWM Brasil, que tem previsão de iniciar a produção de modelos híbridos e elétricos no País no fim deste ano. “Quando olhamos para o profissional, não queremos saber se já trabalhou com eletrificação de carros. Vamos focar na capacidade dele de conseguir propor coisas diferentes.”

 

De acordo com ele, as áreas com maior escassez de talentos no setor de eletromobilidade são engenharia de produto e TI com foco no setor automotivo. Ele acrescenta que a procura por talentos nos setores de vendas e marketing também aumentou.

 

Ganhando tração

 

Conforme estudo mais recente do Índice do Estado da Ciência da 3M, fabricante de produtos químicos, 57% dos brasileiros consultados manifestaram interesse em dirigir um veículo elétrico. A pesquisa, realizada pela Morning Consult em dezembro de 2023 a pedido da empresa, ouviu cerca de 1 mil brasileiros sobre questões ligadas ao futuro do trabalho e às mudanças climáticas.

 

Ainda segundo o levantamento, as pessoas consultadas são um pouco mais propensas a acreditar que a tecnologia criará empregos (71%), em vez de reduzir (65%).

 

“Podemos dizer que o veículo elétrico está em voga. Ainda que seja um desejo da classe alta, começa a aparecer na sociedade como um todo”, diz Paulo Gandolfi, diretor de pesquisa e desenvolvimento da 3M para a América Latina.

 

Cursos e salários

 

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) tem cursos de políticas, planejamento e oportunidades de negócios na área de mobilidade elétrica, tecnologias de eletrificação e princípios da eletrificação dos transportes no Brasil utilizando o etanol, mas no momento não há informações de novas turmas.

 

O Senai também oferece formação na área sobre as características dos veículos elétricos

 

e híbridos em relação à tecnologia de funcionamento do motor, bateria e sistemas de recarga, assim como os benefícios para a sustentabilidade ambiental. O curso é gratuito e online. Estudantes a partir do 5.º ano do nível fundamental podem se candidatar.

 

A GWM fechou parceria com o Senai em Iracemápolis (SP), com o objetivo de capacitar profissionais. Segundo Perucci, a remuneração começa em torno de R$ 2.300 e pode chegar a R$ 15 mil para o cargo de engenheiro sênior.

 

O administrador e especialista em negócios Marco Ghidelli diz que, quando entrou no mercado de eletrificação, em meados de 2018, “tudo era mato”. Há mais de 13 anos na Volkswagen, o especialista em eletrificação e conectividade atua na área de Marketing de Produto desde 2019 com foco no setor de automóveis elétricos, híbridos e conectados.

 

“Abrir caminho do setor com pesquisa e transformar isso para um prisma do mercado é algo novo. O que vejo agora é que os cursos de eletromobilidade vão direto para as conclusões. Antes nós não tínhamos isso, mas daqui a cinco anos vai estar muito mais maduro”, avalia Ghidelli.

 

Em 2018, o grupo Volkswagen dispunha de produtos e planos, mas não sabia como iria ser o mercado na América Latina, conforme ele relata. Naquele período, Ghidelli também não encontrou cursos no Brasil, somente material de consultorias internacionais que explicavam o panorama de mercados como China, Europa e EUA.

 

Em 2023, a montadora iniciou trouxe dois modelos 100% elétricos: ID.4 e ID.Buzz, ambos oferecidos na modalidade de assinatura.

 

“Fui bebendo da fonte de leituras e relatórios até chegar a uma conclusão de como a eletromobilidade iria refletir no prisma socioeconômico da América Latina e para a realidade do cliente brasileiro. Na Volkswagen, começou a ser conduzido por várias pessoas, geramos conhecimento, um plano de ação e o que deveria ser feito com base em relatórios e dados”, explica.

 

Em outras áreas da empresa, de acordo com o especialista, surgiram novas contratações e outros funcionários migraram de setor. Na montadora, além da área de marketing do produto, outros setores estão envolvidos com a eletromobilidade: design, engenharia, operações, compras e TI. Ghidelli estima que o conhecimento técnico sobre o assunto será mais acessível nos próximos anos. Ele observa que hoje já existe maior preocupação do meio acadêmico para apresentar o mercado de eletrificação e os experimentos do País. (O Estado de S. Paulo/Jayanne Rodrigues)