País vê fuga de projetos para o exterior

O Estado de S. Paulo

 

O empresário Erasmo Carlos Battistella, presidente da Be8, uma fabricante de biodiesel com sede no Rio Grande do Sul, tem 2027 como prazo estimado para começar a fabricar combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) e diesel verde – produtos considerados essenciais para o setor de transporte reduzir suas emissões de carbono em todo o mundo. A produção, porém, será no Paraguai, e não no Brasil.

 

A empresa de Batistella está investindo US$ 1 bilhão (o equivalente a cerca de R$ 5,1 bilhões) na usina, que será instalada em uma zona franca a cerca de 30 km de Assunção, capital do Paraguai. A unidade será focada em exportação, e o local foi escolhido para recebê-la devido aos custos inferiores de mão de obra e energia, além da isenção de impostos.

 

O SAF pode ser feito a partir de óleos vegetais e animais, como de dendê, milho ou soja. A oferta de matéria-prima e a experiência com o etanol tornam o Brasil um dos países com maior potencial de explorar o produto. A falta de incentivo público e o atraso na criação de um arcabouço regulatório no País, no entanto, tem levado empresários a olharem para outros mercados.

 

Outro brasileiro que desenvolve projeto de biocombustível no exterior, Bernardo Gradin afirma que a oportunidade de suprir a demanda europeia e, eventualmente, a americana por combustíveis do futuro está diante do Brasil e que há um alinhamento entre empresários e governos em relação à direção a se seguir. A questão é o atraso do País para definir a regulamentação desses investimentos.

 

A empresa de Gradin, a Granbio, recebeu uma subvenção de US$ 80 milhões (R$ 410 milhões) do governo americano para construir uma planta de demonstração de SAF no país. A companhia está levantando outros US$ 150 milhões para desenvolver o projeto, que deve começar a operar em 2026.

 

“O subsídio é importante na fase pré-comercial, em que você testa a tecnologia. Hoje, até temos subsídios no Brasil, mas, quando começamos o projeto, não havia um programa tão articulado aqui como nos EUA”, diz o empresário. Gradin também aponta que, o mais importante para desenvolver o setor, é um ambiente regulatório claro e o estabelecimento do preço de carbono.

 

“A Europa desenhou um programa de descarbonização há muito tempo. Isso é essencial para a transição energética. Se não se sabe quanto custará emitir (gases poluentes), não tem como desenvolver projetos. Nesse aspecto, não temos no Brasil ainda um sistema maduro para atrair investimentos”, diz Gradin. (O Estado de S. Paulo/Luciana Dyniewicz e Beatriz Bulla)