Conheça as novas montadoras chinesas que preparam desembarque no Brasil

O Estado de S. Paulo Online

 

O Auto China 2024, que termina neste sábado, 4, foi palco para muito mais do que duas centenas de lançamentos de veículos, sobretudo para o mercado chinês. No Salão de Pequim ficaram claros dois recados importantes para o Ocidente. O primeiro é a impressionante evolução das fabricantes locais em relação à qualidade de seus produtos. O segundo é a avidez com que elas avançam para além-mar. Vários modelos expostos na feira serão vendidos em breve também no Brasil – várias dessas marcas chegarão ao Brasil até 2025.

 

São elas: Omoda e Jaecoo, da Chery (porém, em operação separada da Caoa), Neta, Keekr, da Geely, dona da Volvo, e MG, que pertence à Saic. Esta, aliás, deve erguer uma planta em Pouso Alegre (MG), onde já fica a unidade da XCMG – a gigante chinesa foca produtos da linha amarela (máquinas de construção) e, mais recentemente, começou a vender caminhões elétricos no Brasil. Assim, as “novatas” se juntarão à GWM, que começa a fabricar seus carros em Iracemápolis (SP) na virada de 2024 para 2025, e à BYD, que assumiu o complexo que pertencia à Ford em Camaçari, na Bahia.

 

Para a China, o Brasil é um parceiro fundamental no projeto de internacionalização de suas marcas de veículos. Tanto que, juntas, GWM, BYD, Omoda e Jaecoo levaram 24 jornalistas brasileiros das áreas de automóveis e economia ao Salão de Pequim deste ano. Além disso, em um jantar oferecido a convidados da GWM de uma dezena de países, o general manager, Feng Mu, e o chefe da divisão internacional, Parker Shi, se sentaram na mesa da delegação brasileira.

 

O Brasil também sabe da importância dos chineses. Nesse sentido, um grupo com representantes de Anfavea, (associação das montadoras) Sindipeças (sindicato dos fabricantes de peças), AEA (engenheiros automotivos) e ABVE (associação dos veículos elétricos) esteve no Salão de Pequim.

 

O objetivo da visita era conhecer as tecnologias e buscar novas oportunidades de negócio. Segundo o presidente da Anfavea, Marcio Leite, a velocidade da evolução dos veículos chineses é notável. Ele aproveitou a viagem para visitar fábricas e centros de pesquisa e desenvolvimento da GWM e da BYD. E também foi conhecer a associação das revendedoras de veículos do país. “Foi uma importante oportunidade para troca de ideias”.

 

Uma das novidades dessa nova onda de veículos chineses no Brasil é a chegada da Neta. A marca, criada há 10 anos, será lançada no País em maio. Inicialmente, deve oferecer dois carros, ainda em 2024 – um terceiro modelo está programado para 2025. Segundo Henrique Sampaio, diretor de marketing e produto no País, a empresa acaba de receber um aporte do governo da China de 5 bilhões de yuans (cerca de R$ 3,5 bilhões). O investimento será feito em pesquisa e desenvolvimento e na expansão das exportações.

 

A Neta acena com a possibilidade de ter uma planta de produção de veículos no País. Atualmente, a empresa tem três fábricas na China e uma na Tailândia. Assim, a futura unidade brasileira seria responsável por fabricar automóveis para abastecer não apenas o mercado interno, mas também outros países da região. Porém, ainda não há detalhes sobre onde essa planta seria instalada. Seja como for, é possível que a operação tenha início até 2026.

 

Omoda e Jaecoo negociam fábrica com Caoa

 

Além da Neta, as marcas Omoda e Jaecoo confirmaram o início de operações no Brasil. Elas pertencem à Chery, que tem negócios no País em parceria com a Caoa, e vende veículos com a marca Caoa Chery. Porém, a nova operação será independente. A chegada dos SUVs Jaecoo 7 e 8 está agendada para ocorrer entre o último trimestre deste ano e março de 2025, respectivamente. O plano de Omoda e Jaecoo para o mercado brasileiro inclui o lançamento de oito a dez modelos até 2026.

 

Enquanto a Omoda, que promete chegar a 40 mercados fora da China ainda neste ano, foca SUVs de uso urbano, a Jaecoo pretende chegar a 25 países e oferece veículos com apelo fora de estrada. A nova divisão da empresa também não esconde sua intenção de produzir automóveis no Brasil. Uma opção seria utilizar a fábrica que foi da Chery, em Jacareí (SP), fechada desde 2022. Segundo o diretor da Omoda e Jaecco para o Brasil, Alex Wang, as negociações com a Caoa estão em fase avançada. Porém, ele não revelou detalhes das conversas.

 

Outra marca chinesa com as “malas prontas” para o Brasil é a Zeekr. A divisão de veículos premium elétricos da Geely, dona da sueca Volvo e da britânica Lotus, vai começar a operar no País ainda neste ano. Dois carros já estão, inclusive, em processo de homologação: o crossover 001 e o SUV compacto X. Segundo a empresa, o objetivo é disputar vendas com marcas consagradas, como as alemãs Mercedes-Benz e Porsche. O 001, por exemplo, pretende ser rival do Porsche Taycan, enquanto o X deverá mirar clientes do Volvo EX30, com o qual, aliás, divide a plataforma.

 

Além disso, outros dois elétricos estão nos planos da marca para 2025. O primeiro deve ser um sedã médio, que ainda não foi revelado, além de outro já existente em seu portfólio, mas ainda indefinido. A marca informa que ainda está estudando o mercado brasileiro para escolher os modelos mais adequados. Por ora, não há detalhes sobre preços e rede de concessionárias.

 

Da mesma forma, a Morris Garages, ou MG Motor, britânica que pertence à chinesa Saic, estaria preparando sua volta ao Brasil, segundo reportagem da Autoesporte. Isso porque alguns modelos da MG foram vendidos no País há cerca de uma década, sem muito sucesso, por meio de importação independente. Agora, contudo, a marca terá uma filial local. A vinda da Saic foi anunciada no fim do ano passado pelo governo de Minas Gerais.

 

Fundada em 1924, na Inglaterra, onde produzia cupês e esportivos, a MG foi comprada pela Saic em 2007. Atualmente, produz carros elétricos na China.

 

GWM pode ter segunda fábrica no Brasil

 

Das, digamos, “novas veteranas”, a primeira a iniciar a produção no Brasil será a GWM. No fim de 2021, a empresa comprou a fábrica que pertencia à Mercedes-Benz em Iracemápois (SP). Inicialmente, a previsão era iniciar a fabricação nacional com a picape híbrida Poer. Porém, com a aprovação do Mover, novo programa de fomento ao setor no País, os planos mudaram. Assim, o primeiro GWM feito no Brasil será o SUV híbrido Haval H6.

 

Além das linhas Haval, focada em picapes, e Ora, de automóveis elétricos, a GWM lançará mais duas marcas no Brasil. Ou seja, a Wey, de SUVs híbridos e elétricos premium, e Tank, de jipes. Esta, aliás, terá três modelos com preços a partir de cerca de R$ 300 mil. E, com o aumento da oferta de produtos, já há até estudos para a construção de uma segunda planta no País. Isso tem a ver com a produção do Haval H4, um novo veículo, que será revelado em breve e deverá ser o carro-chefe de vendas da empresa no mercado brasileiro.

 

Segundo Ricardo Bastos, diretor de Relações Institucionais e Governamentais da GWM Brasil, o novo modelo fará com que a capacidade máxima de produção da planta de Iracemápolis seja atingira nos próximos anos. “Nesse caso, para atingir nossas metas será preciso ter uma segunda fábrica”, diz. Antes, porém, a empresa vai erguer no complexo um centro de pesquisa e desenvolvimento. O primeiro fruto desse plano deve ser lançado antes mesmo de a unidade ficar pronta. Será a versão híbrida com motor flexível do Haval H4. (O Estado de S. Paulo Online/Tião Oliveira)