O Estado de S. Paulo
Mais de 500 servidores do Banco Central (BC) em postos de chefia já haviam entregado os cargos até ontem, no primeiro dia das 48 horas de paralisação da categoria. O número representa cerca de 40% da cadeia de comando da instituição.
O movimento foi marcado pela manifestação conjunta de 43 chefes de unidade do órgão, que aproveitaram o começo da reunião do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) – com participação de todos os diretores do BC – para entregar uma carta pedindo mais esforços para a reestruturação da carreira.
A entrega de cargos é uma forma de pressão dos servidores, já que, sem ter quem exerça papéis-chave na instituição, são maiores as chances de atrasos em entregas e divulgações.
“A crise que atinge o Banco Central nos últimos anos tem se aprofundado. Às restrições orçamentárias, que dificultam a realização dos processos de trabalho e o desenvolvimento de projetos, se somam a constante redução do quadro de pessoal e o desalinhamento remuneratório crescente em relação a outras carreiras de Estado de papel estratégico para o País”, diz a carta.
“Tais fatores têm levado à deterioração aguda e sem precedentes do clima organizacional, que já tem impactos observáveis e ameaça seriamente a condução dos processos de trabalho. Nesse contexto, são crescentes os riscos para o cumprimento da missão institucional do Banco Central, inclusive para a execução de serviços críticos ao regular funcionamento da economia”, completa o documento.
Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o pedido é para que os diretores do BC apresentem a carta na Mesa Específica de Negociação da categoria com o governo, que se reúne na tarde desta quarta-feira. Os chefes de unidade afirmam que seguirão mobilizados e ameaçaram partir para “próximos passos”, o que pode significar paralisações ainda mais extensas nos trabalhos da autarquia.
Proposta
No dia 9 de fevereiro, os funcionários do BC rejeitaram a contraproposta do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, na Mesa Específica de Negociação da categoria. O governo ofereceu reajuste salarial de 13%, parcelado para 2025 e 2026.
Os servidores pedem reestruturação da carreira. Além do bônus por produtividade, os funcionários querem exigência de ensino superior para o cargo de técnico na autarquia e a alteração de nomenclatura do cargo de analista para auditor.
O Banco Central afirmou em nota, também no dia 9, que reconhece o mérito das reivindicações e o direito dos servidores de promoverem manifestações organizadas. O órgão disse que “o movimento não tem afetado o funcionamento dos sistemas críticos para a população, os mercados e as operações das instituições reguladas” e ainda disse confiar “na histórica dedicação, qualidade e responsabilidade dos servidores e de seu compromisso com a instituição e com a sociedade”. (O Estado de S. Paulo/Célia Froufe e Eduardo Rodrigues)