O Estado de S. Paulo
Em sua primeira reunião de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu pela quinta vez seguida a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto porcentual, de 11,75% para 11,25% ao ano. O colegiado também manteve a projeção de um corte “de mesma magnitude” – ou seja, de 0,5 ponto – nas próximas reuniões, por avaliar que “esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.
Ontem, o dia foi também de decisão nos Estados Unidos, completando a chamada “Superquarta” dos juros. Só que o resultado foi diferente. Os integrantes do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não só decidiram manter as taxas entre 5,25% e 5,50% ao ano, como indicaram ser “improvável” que esse patamar comece a cair já na próxima reunião, marcada para março – contrariando a expectativa de boa parte do mercado.
Em reação, as Bolsas de Nova York fecharam em baixa. As ações de tecnologia enfrentaram particular pressão, após balanço mal recebido da Alphabet (dona do Google). O Dow Jones fechou com queda de 0,82%, enquanto a S&P 500 recuou 1,61%. Já a Nasdaq teve desvalorização de 2,23%. No Brasil, o Ibovespa (principal indicador da B3) subiu 0,28%, num movimento debitado por operadores a “correções técnicas”, depois das quedas nos últimos dias. O recuo no mês foi de 4,79%. “O comunicado do Fed veio ainda bem conservador”, avaliou Marcelo Oliveira, cofundador da plataforma Quantzed.
Meta fiscal
O Copom reafirmou a importância de perseguir as “metas fiscais estabelecidas para a ancoragem (convergência para a meta) das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária”. Como mostrou o Estadão, a equipe econômica criou um “plano de guerra” de curto prazo para tentar reduzir o bloqueio no Orçamento em março e, assim, manter a meta de déficit zero em 2024 – colocada em dúvida pelo mercado.
O encontro de ontem reuniu, pela primeira vez, os quatro membros indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o BC. Além de Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Ailton de Aquino Santos (Fiscalização), participaram Rodrigo Teixeira (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta) e Paulo Picchetti (Assuntos Internacionais).
Pesquisa do Projeções Broadcast mostrou que a expectativa do mercado é de mais dois cortes de 0,5 ponto nas reuniões de março e maio, com reduções de outras magnitudes se alongando até setembro. Na mediana das estimativas, a Selic deve fechar o ano em 9%. Mas a perspectiva de continuidade de queda da inflação, segundo analistas, pode permitir uma segunda rodada de redução da Selic em meados de 2025.
“À medida que tivermos uma inflação mais estável, próxima de 3,5%, e com o risco fiscal relativamente controlado, haverá espaço para um ajuste residual da Selic em 2025”, diz a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória. Ela prevê que o ciclo atual de cortes acabe em dezembro, em 8,5%. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Rodrigues, Célia Froufe, Luis Leal e Marianna Gualter)