O Estado de S. Paulo
O enfraquecimento da indústria ficou mais uma vez patente com a divulgação do resultado do PIB. Tomando como base o primeiro trimestre de 2014, o PIB total acumulou um crescimento de apenas 4,5% até agora. A área de serviços desempenhou um pouco melhor, atingindo 7,6% positivo. A agropecuária acumulou 40% de expansão, contrastando significativamente com uma queda de 18,3% da indústria de transformação.
Se considerarmos apenas o desempenho desde a pandemia, o quadro se repete: 7,7% no PIB, 7,9% nos serviços, 21,7% na agropecuária e -3,2% na indústria de transformação.
Se considerarmos que a parte da indústria ligada ao setor de commodities (tratores, colheitadeiras, implementos, silos e construções, fertilizantes, bioprodutos de todos os tipos, defensivos, caminhões, biocombustíveis, processamento de alimentos, madeira e outras fibras etc.) tem se expandido muito rapidamente, o quadro é ainda mais desolador.
Certamente o custo Brasil ainda aflige a produção local. Mas existem três questões a mencionar. Alguns segmentos, desde a recessão, perderam o norte, como os setores naval e automotivo.
Esse último, com muitas doses de subsídios e proteção, elevou a capacidade de produção a mais de 5 milhões de unidades por ano, número jamais atingido na prática. Em resposta à estagnação do mercado, algumas montadoras viraram importadoras, outras passaram a produzir carros com maior margem, porém caros para o consumidor médio brasileiro, outras querem elétricos, outras preferem os híbridos etc. Todas sem grande horizonte.
Uma segunda questão tem de ser vista no plano das empresas: quem saiu muito alavancado do período 2014-2016 e assim enfrentou a pandemia e a alta de juros está morrendo aos poucos. Isso não vale apenas para a indústria. Em mercados estagnados, o resultado é contracionista.
Mais recentemente, o fortalecimento das contas externas tem valorizado o real. A feroz competição dos mercados globais tem levado muitos produtores de matérias-primas e commodities industriais básicas a colocar seus produtos diretamente nas mãos de distribuidores locais, reduzindo o risco comercial das indústrias consumidoras e provocando quedas significativas de custo, porque em geral a produção nacional é bem mais cara que o produto trazido do exterior. Vemos isso nos segmentos de aço e metais, químicos e petroquímicos, combustíveis, dentre outros.
Está em curso uma abertura comercial ad hoc que tem ativo apoio dos compradores nacionais. (O Estado de S. Paulo/José Roberto Mendonça de Barros)