O Estado de S. Paulo
O grupo siderúrgico Aperam South America informou ontem que decidiu postergar a terceira fase de seu plano de investimentos no Brasil previsto para 2024/2025, considerando o “momento de adversidade enfrentado pela indústria siderúrgica brasileira, com o excesso de aço importado no mercado e a queda nas vendas”. O projeto adiado, cujo valor não foi revelado, inclui a instalação de um novo laminador a frio na usina de Timóteo (MG). Durante a implementação do projeto, até 1,5 mil vagas temporárias seriam criadas, segundo a empresa.
O diretor-presidente da empresa, Frederico Ayres Lima, afirma, em nota, que a entrada massiva de aço chinês no mercado brasileiro em 2023, associada à redução da demanda, por conta da desaceleração econômica mundial, está “asfixiando” o setor.
De acordo com o Instituto Aço Brasil, as importações de aço da China cresceram 133,8% em setembro de 2023 ante o mesmo mês de 2022, atingindo 549 mil toneladas.
“Como uma empresa que sempre acreditou no Brasil e no crescimento da economia, nos deparamos com um cenário muito desafiador que nos leva a repensar nossos planos de expansão para os próximos anos. Devido a uma questão de sustentabilidade do negócio, vamos reavaliar esse projeto”, afirma Ayres Lima.
Especificamente no caso dos aços inoxidáveis e elétricos, que são o carro-chefe da Aperam, as importações da China cresceram 18% no primeiro semestre do ano em relação ao mesmo período de 2022. No entanto, o número excessivo de produtos chineses no mercado, a política predatória de preços e a demanda reduzida representaram uma queda de mais de US$ 800 por tonelada nos preços internacionais, segundo a instituição.
“Justificar novos investimentos na usina, mesmo com todo o diferencial da produção sustentável da Aperam, está se tornando cada vez mais desafiador”, disse Ayres, mencionando que a situação ameaça a continuidade da produção nacional.
Subsídios
O executivo avalia que o aço chinês chega ao Brasil subsidiado pelo governo do país asiático e com a maior pegada de carbono do mundo, o que, segundo ele, prejudica muito não só a competitividade da indústria siderúrgica nacional, bem como o processo de descarbonização do setor.
Ele classificou a situação como “muito séria e insustentável”, e lembra que países como EUA, México, membros da União Europeia – e, possivelmente, o Chile agora – adotaram medidas para combater o “comércio desleal chinês”, que “claramente causa um desvio de volumes de material para países como o Brasil.”
“Para lidar com tal situação, é imperativo que o Brasil adote a mesma medida que os países supracitados imediatamente. Ou seja, uma taxa de importação de 25%. Se isso não for feito imediatamente, a indústria siderúrgica não voltará a funcionar sustentavelmente, e medidas amargas que estão sendo tomadas, como a redução de produção, demissões, adiamento ou cancelamento de investimentos, irão continuar,” disse Ayres Lima.
A Aperam tem capacidade de produção de 2,5 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos planos inoxidáveis e elétricos no Brasil e na Europa. Tem seis unidades de produção no Brasil, na Bélgica e na França. (O Estado de S. Paulo/Caroline Aragaki)