O Estado de S. Paulo
Mercado estagnado, vendas online, pandemia, juros altos e incertezas na economia não derrubaram o número de concessionárias de veículos no País, ao contrário do que chegou a ser cogitado pelo setor há alguns anos.
O segmento mantém número de lojas próximo ao de antes da pandemia, com 4.068 unidades, apenas 19 a menos do que em 2019, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
O que ocorreu, porém, foi um movimento de concentração, com grandes grupos adquirindo os menores. Em 2019, 1.382 grupos detinham 4.087 concessionárias. No ano passado, o total de donos caiu para 1.037, para um número similar de lojas, de acordo com dados de consultorias e revendas.
A chegada das marcas chinesas BYD e GWM também movimentou o mercado. Elas nomearam, até agora, 175 revendedores, compensando cerca de 80% das lojas fechadas pela Ford após encerrar a produção de veículos no País, em 2021.
Relatório anual da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostra que, nos últimos três anos, a Ford fechou 224 revendas, ficando com 105 no ano passado.
“As entrantes trazem um aspecto significativo dentro deste contexto e, embora estejam fazendo parcerias com grupos já existentes, também ampliam o leque do polo de vendas do setor automotivo”, diz Ricardo Roa, líder do setor automotivo da KPMG.
Um dos grupos que têm investido na concentração de lojas é o Automob, da holding Simpar. Desde 2021, a empresa adquiriu 70 revendas de diversos grupos. Hoje, soma 105 lojas de 27 marcas – entre as quais BYD e GWM –, nos Estados de São Paulo, Maranhão, Paraná e Santa Catarina.
A Automob (antiga Original Holding) é a segunda maior em número de concessionárias no País. Perde para o grupo Caoa, que afirma ter 240 revendas das marcas Ford, Hyundai, Caoa Chery e Subaru. Em terceiro lugar está o grupo Parvi, de Recife.
“Vamos continuar ampliando (o número de lojas) e a consolidação de grupos é uma tendência do mercado, aqui e lá fora”, afirma Antonio Barreto, vice-presidente de Planejamento e Gestão da Simpar. Ele considera que o segmento ainda é pulverizado, regionalizado e com famílias que têm uma loja.
Extinção
Para o economista e sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva, Raphael Galante, “grupos com uma ou duas lojas tendem a morrer, porque não vão conseguir fazer os investimentos exigidos pelas montadoras”.
A Automob também está investindo na criação de uma rede própria nacional para venda de veículos seminovos. As primeiras lojas serão inauguradas ainda este ano no interior de São Paulo e em São Luiz (MA).
Especialistas dizem que a venda de usados hoje dá mais retorno do que a de novos. O negócio de novos, contudo, também está permitindo margens maiores, porque atualmente os modelos disponíveis são de categorias mais caras e a maioria das empresas não produz mais os chamados carros populares.
Além disso, ressalta Galante, também há ganhos maiores com oferta de peças e serviços, incluindo financiamentos e seguros. Por isso, ele não acredita em fechamento de concessionárias nos próximos anos. Em sua opinião, o número pode até aumentar, mesmo que o mercado se mantenha na casa de 2 milhões de unidades anuais, como vem ocorrendo desde 2015.
Grandes grupos
Na estratégia de consolidação de redes autorizadas, GWM e BYD também chegaram na frente em relação a outros concorrentes, pois nomearam apenas grandes grupos como representantes.
Entre os 28 selecionados pela GWM estão também Carrera e Toriba. Com a BYD estão, por exemplo, Parvi, Eurobike, Saga e Itavema.
A BYD nomeou, por enquanto, 100 concessionárias, das quais 25 já estão operando. A GWM tem, por enquanto, 65 revendas, uma delas na Avenida Europa, na capital paulista, tradicional ponto de vendas de marcas de luxo. Até o fim do ano, o grupo abrirá mais 10 lojas e espera chegar em meados de 2014 com 133.
Enquanto a rede não estiver 100% funcionando, o grupo manterá parte das 32 minilojas instaladas em shopping centers de 14 Estados. O grupo também oferece a possibilidade de venda de todos os seus modelos pela internet, e a entrega do carro pode ser feita na casa do cliente.
Para Roa, da KPMG, ainda que se amplie o comércio online, a concessionária é a “ponta final” para a retirada do veículo, para fazer todo o trâmite de documentação e cuidar do pós-venda. “Não vejo um contexto de fechamento de concessionárias”, diz. “Sempre tem um público que prefere ir à loja, ver e testar o carro”. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)