A descarbonização como pilar central para a indústria

O Estado de S. Paulo

 

O diagnóstico, em termos gerais, aponta para um contexto positivo. O setor industrial brasileiro já trabalha com uma agenda de baixo carbono, como relata Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI. “A atuação envolve quatro frentes: transição energética, mercado doméstico de carbono, economia circular e conservação florestal”, explica o executivo. Se no primeiro ponto as fontes de energia limpa estarão cada vez mais presentes no horizonte, a regulação do mercado de carbono, o ponto central do segundo conjunto de ações, segue em discussão no Congresso Nacional. Além disso, economia circular é algo que cresce de forma vigorosa, enquanto a questão do desmatamento – fora do contexto industrial – ainda é o principal problema que o governo precisa equacionar, apesar da melhora registrada nos índices de destruição da Amazônia a partir de janeiro.

 

“Os esforços feitos pela indústria e as janelas de oportunidades que se abrem para o Brasil com o desenvolvimento do hidrogênio de baixo carbono, da energia eólica offshore e dos biocombustíveis, além do empenho do governo federal com a redução do desmatamento, nos colocam de volta no protagonismo das discussões de sustentabilidade. Tudo isso é fundamental para atrair investimentos, novas plantas industriais e ajudar o País na criação de empregos”, ratifica Bomtempo.

 

O fato de o quadro geral fazer emergir certo otimismo, entretanto, não significa que não existam pontos de atenção que precisam estar sempre no radar. No caso do desenvolvimento de novas energias, como a questão do hidrogênio, ou mesmo na implementação de projetos robustos de bioeconomia, em que as populações locais são peças-chave, existem políticas transversais que precisam ser postas em prática, atestam os executivos do setor industrial.

 

“Temos diversos desafios, como requalificação da força de trabalho, estabelecimento de uma infraestrutura adequada e disponibilização de financiamento”, explica o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI.

 

A questão torna-se mais complexa, segundo Bomtempo, quando se olha para a diversidade do setor privado nacional. “O desafio é particularmente grande para empresas de pequeno e médio portes, que lidam com limitações tanto financeiras quanto técnicas para a adoção dessas novas tecnologias”, comenta.

 

Se, de um lado, existe um custo alto para a implementação de fontes renováveis de energia nos processos industriais, de outro, assuntos como bioeconomia e matriz limpa tendem a atrair mais investimentos, desde que as condições basilares e transversais para elas decolarem estejam presentes. Em evento recente na CNI, Marcelo Miterhof, assessor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ressaltou essa questão.

 

“A bioeconomia e a estratégia brasileira têm uma questão óbvia: para um país continuar tendo o peso geopolítico que tem e que pode crescer, ele precisa cumprir a meta de desmatamento legal zero até 2030. Essa é a nossa chance de continuarmos nos posicionando no mundo e exigir contrapartidas, fazendo investimentos que tragam desenvolvimento para nós. Para isso, o papel da bioeconomia é muito relevante, mas não acho que seja um problema de financiamento, mas de demanda”, diz Miterhof. (O Estado de S. Paulo)