Auto Esporte
A partir de 10 de dezembro, a Argentina terá um novo presidente. Javier Milei foi eleito neste domingo (19) com 55,69% dos votos. Fã de carros, o economista tem uma coleção de respeito. Mas além da paixão pelos automóveis, Milei tem propostas que podem mudar a indústria automotiva não só no país vizinho, como também no Brasil.
Novo Mercosul?
Em seu plano de governo, o presidente eleito propõe renegociar os termos do Mercosul, bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. De acordo com a proposta, os países membros seguiriam com os acordos de livre comércio entre si, mas a chamada Tarifa Externa Comum (TEC) seria eliminada.
A TEC é um imposto cobrado pelos membros para importação de países de fora do bloco. Na prática, isso permitiria que cada nação pudesse estabelecer acordos de livre comércio com outros países que não pertencem ao Mercosul.
Mas a questão é complexa. O próprio documento oficial que detalha a TEC tem mais de 400 páginas. Há vários níveis de tributação, com normas específicas para cada tipo de produto, valor agregado e índice de componentes locais.
Ou seja, a tarefa de Milei poderá ser bastante difícil. Ainda assim, caso consiga colocar em prática tal medida, as indústrias automotivas dos dois países podem ser afetadas. Historicamente, Brasil e Argentina são os maiores clientes um do outro.
Em 2022, de cada 10 carros, utilitários, caminhões e ônibus importados pela Argentina, 8 foram produzidos no Brasil. No total, foram enviados 137.135 exemplares daqui para lá.
No sentido contrário, o Brasil representa 62,8% das exportações das fábricas argentinas. Também em 2022, o país vizinho embarcou 202.406 veículos para cá. Desses, segundo Anfavea e Abeifa, foram vendidos 195.891.
Atualmente, sete fábricas instaladas na Argentina enviam para o Brasil 10 modelos de automóveis e comerciais leves. As fabricantes com os maiores volumes exportados da Argentina para o Brasil em 2022 foram Stellantis (75.065 unidades), Toyota (62.437) e Volkswagen (19.744).
Onde estão as fábricas e quais carros vêm da Argentina para o Brasil
Chevrolet – Santa Fé (Cruze e Cruze Sport6)
Fiat – Córdoba (Cronos)
Ford – General Pacheco (Ranger)
Nissan – Santa Isabel (Frontier)
Peugeot – El Palomar (208)
Toyota – Zárate (Hilux e SW4)
Volkswagen – General Pacheco (Amarok e Taos)
Renault e Honda também têm fábricas na Argentina, mas não enviam veículos para o Brasil.
Livre comércio
O plano de governo de Milei ainda estabelece que “negociações bilaterais ou multilaterais terão início imediato com todos os países e regiões com os quais haja a possibilidade de alcançar acordos de livre comércio ou outros de natureza comercial semelhante”.
Ou seja, caso a Argentina consiga zerar o imposto de importação com outros países, o Brasil poderá perder competitividade, ainda que seja um vizinho próximo e consiga uma melhor logística na comparação com outros países.
Um exemplo está do outro lado da Cordilheira dos Andes. Sem produção local, mas com acordos de livre comércio, o Chile tem um setor diverso, com mais de 60 marcas presentes. Porém, segundo o relatório mais recente da entidade que regula a indústria automotiva chilena, em 2017, apenas 12 fabricantes exportavam do Brasil para lá. Dessas, a Ford fechou as fábricas brasileiras em 2021.
Caso a Argentina consiga os acordos de livre comércio, os vizinhos poderão experimentar a entrada de novas marcas, aumentando a competitividade. Porém, esse pode ser um problema para a indústria brasileira. Em 2023, o México já ultrapassou a Argentina como principal destino das exportações de veículos produzidos aqui.
Coleção de Milei
De volta à paixão por carros, o presidente eleito da Argentina tem na garagem ao menos três modelos. O mais chamativo deles é um Cadillac Sedan DeVille de 1961. O veículo inclusive foi usado por Milei no início da campanha, ainda em agosto de 2021.
Milei também é dono de um Mazda MX-5 Miata de 1988 e um Peugeot RCZ. (Auto Esporte/André Paixão)