Mercado de transportes sofre com a falta de motoristas profissionais

Frota & Cia

 

Ao longo dos anos a categoria dos caminhoneiros passou por várias mudanças em muitos aspectos. Décadas atrás, a função era passada de pai para filho, tamanho orgulho em exercer a profissão. Entretanto, hoje em dia, uma das maiores dores das transportadoras é justamente encontrar esse profissional no mercado.

 

Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o Brasil tem mais de 1,1 milhão de veículos registrados para transporte de cargas em transportadoras e cooperativas. Já a Confederação Nacional do Transporte (CNT) estima que o número de caminhoneiros autônomos esteja hoje perto dos 470 mil. Porém, entidades de classe avaliam que o Brasil tem cerca de 2 milhões de caminhoneiros entre autônomos, empregados e desempregados. Os números são de 2019.

 

Jean Ricardo Salgals é gerente de RH da TransJordano, empresa com cerca de 700 funcionários e concorda que a mudança de perfil desse profissional. “Notamos que o perfil do motorista mudou quando comparamos algumas décadas atrás, onde a profissão era passada de pai para filho. Hoje, atrair e reter as pessoas é um grande desafio para o RH.  Para isso, devemos sair da zona de conforto, não apenas divulgar a vaga e aguardar o candidato vir até ela. Precisamos inovar, diferençar e ir até os candidatos.”

 

Muito dessa dificuldade vem do julgamento que a profissão sofre. Melina Schio, do Sindicamp (Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de Campinas e Região), comenta que não existe mais o glamour de outrora, muito pelo contrário.

 

“É uma profissão muito subjugada. Os bons profissionais pagam pela fama dos maus. E sim, as empresas têm muito problema para atrair candidato porque motoristas bom não fica parado. O maior problema é que os filhos dos caminhoneiros não querem seguir na área. As pessoas não tem interesse em dar continuidade nessa profissão por vários motivos: ficar longe da família, passar muito tempo na estrada, não encontrar estrutura na estrada. O caminhoneiro é muito estigmatizado.”

 

Perfil do caminhoneiro atual

 

Mesmo com todas essas considerações, as empresas ainda procuram um perfil de caminhoneiro que siga certas diretrizes. Segundo Melina Schio, a idade é um ponto-chave na escolha. A experiência e maturidade também são levadas em consideração e até se o motorista tem uma família ou não.

 

Além desses, a executiva destaca que outros aspectos da vida pessoal também são analisado. Caso, por exemplo, do estado civil (e há quanto tempo), se a pessoa tem filhos ou se mora em casa alugada. “Isso muda a relação da pessoa com o trabalho e demonstra seu comportamento, mesmo que indiretamente. Com certeza as empresas buscam um padrão.”

 

Jean Salgals, por outro lado, faz uma análise mais branda desse perfil de procura. Ele diz que a empresa avalia a idade, mas não é um fator determinante que influência o resultado do processo. “Buscamos profissionais que sejam aderentes ao perfil e à necessidade de cada negócio”.

 

As transportadoras também contam com auxílio de terceiros nessa busca.  Tanto a Transjordano como várias outras empresas do país mantém uma parceria com o SEST SENAT (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte) para processos seletivos. O Sindicamp também auxilia as empresas de Campinas nos processos.

 

Programas de capacitação

 

Já que a procura pelo motorista “formado” não é tão fácil, um dos caminhos que as empresas também têm seguido é o de capacitar o jovem profissional. O SEST SENAT também ajuda em treinamentos (que também não se limitam só à motoristas e incluem outras funções).

 

Um grande case é o do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas no estado do Paraná (SETCEPAR) que criou o ISET (Instituto SETCEPAR de Educação no Transporte) que tem como objetivo capacitar essa mão de obra e já fazer a ponte com o mercado de trabalho.

 

Vivian Wisniewski, coordenadora do ISET, comenta que o projeto é uma escola sem fins lucrativos e explica o modelo de sustentação que forma cerca de 100 trabalhadores por mês. Há cursos pagos, mas são valores sociais pra manter o projeto funcionando. Na maioria das vezes eles têm patrocínio de empresas do segmento.

 

“Nós temos o compromisso de que todas saem com colocação. Além disso também tem os casos em que as empresas encaminham funcionários que querem melhorar, mesmo já estando lá dentro”. Completa Viviane.

 

Melina Schio finaliza citando que “O que falta é investir para criar novos motoristas no mercado, pagar habilitação, o que for possível. As empresas buscam manter ao máximo os bons profissionais porque quando perdem um funcionário, sabem que não perdem só um número ali. Elas perdem um profissional que é muito difícil de encontrar no mercado. (Frota & Cia/Victor Fagarassi)