Mercado vê nova redução de 0,5 ponto na taxa Selic

O Estado de S. Paulo

 

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne hoje e amanhã para definir a nova Selic, a taxa básica de juros da economia. O mercado é unânime ao prever um corte de 0,5 ponto porcentual, o que levaria os juros dos atuais 12,75% para 12,25% ao ano.

 

Os analistas veem a barra agora um pouco mais alta para o BC acelerar esses cortes, por conta principalmente da questão internacional, um pouco mais instável após o início da guerra entre Israel e o Hamas. Esse cenário ainda recebeu, na sexta-feira, um novo ingrediente, quando o presidente Lula disse que não faz sentido o Brasil perseguir uma meta de déficit fiscal zero em 2024.

 

Pesquisa feita pelo Projeções Broadcast mostra que todas as 57 instituições consultadas apostam no corte de 0,5 ponto esta semana. Em relação à reunião que será realizada em dezembro, 55 também projetam outra queda de 0,5 ponto, enquanto duas preveem um corte um pouco maior, de 0,75 ponto. A mediana das respostas indica uma Selic de 11,75% no fim deste ano. No fim do atual ciclo de cortes, a projeção é de uma taxa de juros de 9%.

 

Para Maurício Une, economista-chefe do Rabobank Brasil, o ambiente externo é o principal elemento que limita as chances de cortes mais profundos. “A guerra Israel-Hamas traz certa tensão para o mercado de petróleo global.”

 

O economista prevê manutenção dos cortes de 0,5 ponto durante o início de 2024, seguidos por uma desaceleração para reduções de 0,25 ponto a partir do segundo trimestre do ano. Os cortes menores devem durar até a primeira reunião do Copom de 2025, quando o ciclo deve terminar com Selic em 9%, projeta. O Rabobank prevê alta de 4,8% para o IPCA em 2023, desacelerando para 3,9% em 2024.

 

A economista para o Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho, prevê cortes de 0,5 ponto na taxa Selic nas duas últimas reuniões do ano, mas antevê aceleração do ritmo para 0,75 ponto a partir da reunião de janeiro. Ela avalia que o cenário de inflação doméstica continua bem comportado e que as incertezas do cenário global deverão se dissipar, permitindo um corte maior no juro. “O IPCA-15 mostrou que a inflação continua desacelerando. Não fosse o cenário global incerto, teríamos mais discussões sobre a aceleração dos cortes.”

 

O BNP prevê cortes de 0,75 ponto até a reunião de maio de 2024, seguidos de duas reduções de 0,5 ponto nos encontros de junho e julho, levando a uma Selic de 8,5% no final do ciclo. META FISCAL. Apesar da forte reação do mercado à fala do presidente Lula, que praticamente jogou a toalha sobre o cumprimento da meta de déficit zero em 2024, a percepção de maior leniência com o déficit nas contas públicas não deve alterar a comunicação do Copom nesta semana. Na avaliação de economistas consultados pelo Estadão/Broadcast, o colegiado já deu o seu recado sobre o fiscal e deve mantê-lo inalterado amanhã.

 

Para o economista-chefe da Warren Rena, Sérgio Goldenstein, a sinceridade de Lula não altera o jogo do Copom, que já vinha considerando o risco fiscal em seu cenário. Ele lembra que o próprio mercado nunca acreditou em um resultado primário zero no próximo ano, já que o consenso do Boletim Focus até piorou, de 0,75% para 0,78% do PIB, conforme divulgado pelo BC ontem. (O Estado de S. Paulo/Mariana Gualter, Daniel Tozzi e Eduardo Rodrigues)